Coluna: Furando a Bolha (03/10)
O vício que assola o país (Bets)
Após uma breve pausa na coluna, retornamos ao melhor e mais tradicional jornal da região e do Estado para analisarmos assuntos pertinentes à nossa realidade.
Uma coisa que vem me incomodando severamente é o vício que as BETs (casas de apostas online) estabeleceram no Brasil. Cheguei até recentemente a mandar uma mensagem para o meu velho amigo de infância, Zé Vitor, para pontuar sobre essa questão, pois entendo que se trata de um caso de dano à coletividade.
Eu, por exemplo, que sou apaixonado por futebol (já assisti a partidas até da terceira divisão do campeonato argentino; quando viajo e estou próximo de algum estádio, sempre vou assistir), inclusive quando possível pratico de forma amadora, contudo, achando que entendia bem do esporte, embarquei nessa moda de apostas.
No início, era uma brincadeira: apostava no meu Atlético Mineiro e era isso. Com o tempo, comecei a apostar mais, inclusive na Copa do Mundo de 2022, em que perdi um recurso considerável, em torno de cinco mil reais. Após isso, e compreendendo os gatilhos emocionais que a ganância e as apostas despertam, prometi não apostar mais, e assim o fiz. Estava deixando de aproveitar o esporte, simplesmente preocupado se teria sucesso ou não na minha jogatina.
Senti, naquele período, sintomas semelhantes a um vício: ansiedade, preocupação, euforia, ou seja, sentimentos ligados à descarga exacerbada de dopamina no cérebro. Se eu, que tenho consciência e consegui analisar como as apostas estavam mexendo com a minha saúde mental, imaginem as pessoas que, muitas vezes, não têm tempo nem para almoçar, porque, na vida conturbada do dia a dia, precisam realizar mil coisas, e a análise do espectro emocional costuma ser o último aspecto com que se preocupam.
Percebam, caros leitores, que eu somente apostei em apostas esportivas (que são cotações fixas) e, se a pessoa realmente for um trader, há chances reais de conseguir ganhar alguma coisa. No entanto, o que se vê no Brasil é essas casas de apostas drenarem bilhões de reais por meio de cassinos, implementando modalidades como “tigrinho”, “foguetes”, “roletas”, cujos efeitos psicológicos no apostador são extremamente severos e viciantes, semelhantes a drogas opioides, conforme estudos recentes e a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) já reconhecem.
Entendo que o Executivo e o Legislativo começam a se atentar para o caos que está sendo gerado nas famílias. O Governo inclusive está começando a bloquear casas de apostas que não têm a devida regulamentação.
Este ponto também me causa severa agonia. Recentemente, no escritório de Uberlândia, apareceu um senhor que perdeu 30 mil reais para uma famosa Bet dessas; eles não autorizavam o saque do seu saldo, alegando fraude. Como se entra com uma ação cuja sede da empresa é em Madagascar? É uma insegurança jurídica tremenda.
Reportagens mostram pais de família vendendo imóveis, dilapidando completamente o patrimônio. Esses dias, foi ao ar a história de uma mulher que torrou trezentos mil reais no “jogo do Tigrinho”. Ela foi influenciada por uma digital influencer que dizia ganhar rios de dinheiro; contudo, usava uma conta demo, onde os ganhos são infinitamente mais fáceis do que no ambiente real.
É necessário responsabilizar esses ditos influencers que, na grande maioria das vezes, enriquecem com a miséria dos outros. É claro que há bons profissionais nessa área; até conheço alguns que realmente divulgam de forma positiva negócios locais, lugares que conhecemos através deles. Mas aqueles que promovem apostas e jogos caça-níqueis, sinceramente, acredito que fazem um mal à sociedade. E todo dinheiro e energia que vêm do sofrimento alheio não são sustentáveis ao longo do tempo.
Dessa forma, hoje as BETs, com todo o seu poderio econômico, se tornaram um câncer no país, que está devorando as entranhas e drenando a saúde financeira e emocional de milhões de brasileiros. É um caos que está anunciado; é necessário que as autoridades e o Governo atuem criteriosamente para impedir que este vício acabe com os sonhos de muitas pessoas. Beneficiários do Bolsa Família estão tirando do auxílio, que é para comer e ter necessidades básicas satisfeitas, para apostar; isso mostra o grau de insanidade que está causando.
Essa situação já virou uma roleta-russa, e a vítima é a sociedade.
Leandro Alves de Melo, bacharel em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia, advogado, colunista, é proprietário dos escritórios Alves & Melo Advocacia MG e GO, pós-graduado em gestão de pessoas INESP/SP (2018-2020), especialista em Direito Previdenciário pelo IEPREV/BH (2020 a 2022), pós-graduado em Direito Constitucional pelo Instituto de Direito Público de Brasília (2019-2022), vencedor do Top of Mind 2023: advogado previdenciário e vencedor do Top of Mind 2024: advogado constitucional.
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