Coluna: Furando a Bolha (12/11)
sex, 12 de novembro de 2021 09:44MEMENTO MORI (Marília Mendonça)

por Leandro Alves de Melo
Essa frase que teve origem na Roma antiga e diz sobre a finitude da vida: “lembre-se que você vai morrer”. Apesar de parecer pessimista, na verdade, a intenção positiva por trás de seu sentido é ressignificarmos a nossa existência. Cumprindo e executando nossos deveres e vontades, pois talvez o amanhã não aconteça.
Particularmente não conhecia a obra de Marília Mendonça. Possivelmente ouvi algumas de suas músicas em alguns lugares, porém, como não é o estilo que ouço, não saberia identificar. Após o trágico acidente que a vitimizou na última sexta, e com a divulgação maciça da imprensa, pude conhecê-la melhor e compreender sua importância no cenário nacional.
De fato, a cantora tinha um valor artístico de extrema relevância. Uma voz potente e afinada combinada com uma inteligência ímpar para compor. Conseguia tocar a alma das massas e criar uma espécie de identificação, algo raro hoje em dia. Tratava de assuntos do cotidiano, do coração, e talvez sendo o seu maior mérito a humanização da mulher. Permitindo que ela coloque seu ponto de vista num cenário tão machista e excludente como é o sertanejo.
Sou um dos defensores do papel desempenhado pela imprensa. Inclusive há anos escrevi minha monografia sobre o compromisso informativo e imprescindível que executa, pois sem ela não há democracia. Mas, infelizmente alguns representantes da imprensa, em alguns momentos, fizeram um trabalho excrescente. Alguns comportamentos adotados na cobertura da morte de Marília foram penosos. Em qualquer faculdade de jornalismo é pacificado que não se deve mostrar o corpo da vítima ao vivo, pense que desumanidade é a família acompanhar isso. Todas as emissoras, sem exceção, exploraram ao máximo o evento, ferindo preceitos basilares de uma cobertura proba e honesta.
A assessoria de imprensa de Marília Mendonça mentiu ao afirmar que tinham levado as vítimas para o hospital e que estavam todos bem. Para quê?
A Globo teve a ousadia mais uma vez de colocar um drone em cima do velório que era pra ser privado. Há anos tinha feito o mesmo ao invadir sem autorização o cortejo de Ayrton Senna. Empresas como a Record, que tem um jornalismo putrefato, também cometeram erros da mesma magnitude com seus programas do mundo do cão.
Luciano Huck, ex-presidenciável, conseguiu fazer um circo de horror em seu domingo, dizendo que a Marília estava magrinha. O que é isso? Como pode ser tão supérfluo.
O acidente que vitimizou Marília deve ser investigado e talvez utilizado como parâmetro para que outros não aconteçam de forma semelhante, e caso ocorram a imprensa tenha o mínimo de educação e respeito com o próximo.
Marília Mendonça, pelo o que acompanhei, era uma pessoa consciente, uma menina que alcançou o apogeu, provavelmente uma das maiores artistas do Brasil nos últimos anos, merecia ter sido tratada com mais dignidade e respeito.
É triste ver uma mãe, uma guerreira, de apenas 26 anos ir tão cedo e de forma tão trágica.
Situações assim, como disse, nos levam à reflexão. Muitas vezes a vaidade, arrogância, toxicidade, inflexibilidade, nos fazem prisioneiros do ego. Importamos com tanto, mesmo sendo coisas tão poucas e irrelevantes. A morte de alguém próximo nos faz refletir de forma abrupta, enfrentamos uma pandemia que levou 600 mil vidas: amigos, familiares, esposas, maridos e filhos. Perdemos artistas como MM e Paulo Gustavo, entre tantos outros.
Sempre que nos deparamos com uma tragédia desta magnitude, é comum nos perguntar sobre a finitude da existência, a fragilidade humana e, de que como num sopro, talvez o amanhã possa não existir.
Deixo a minha solidariedade à família e à legião de fãs que a amavam. Como bem disse o Padre Fábio de Melo, não foi enterrada só a Marília Mendonça, mas uma multidão. Para encerrar, trago um trecho que uma grande artista que passou como um sopro pela vida eternizou: “Ninguém vai sofrer sozinho.Todo mundo vai sofrer”.
Leandro Alves de Melo, graduado em Direito pela UFU, advogado, colunista, é sócio proprietário dos escritórios Alves & Barbosa Advocacia MG e GO, pós-graduado em gestão de pessoas (INESP), especialista em Direito Previdenciário pelo IEPREV/BH, pós-graduando em Direito Constitucional pelo Instituto de Direito Público de Brasília, é Master Trainer em Programação Neurolinguística pelo instituto ADEX.
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Maravilhoso texto.
Não poderia deixar de parabenizar.
A grande mídia não se contém, vai às últimas consequências para ganhar audiência invadindo as vidas das pessoas.
Amei o texto do Dr. Leandro. Concordo com a visão sobre o trabalho as vezes sem etica e vergonha na cara da imprensa. Chorei muito com a morte de Marília Mendonça. Que Deus conforte sua família.
Concordo plenamente com seu ponto de vista. Há muito tempo não aceito fazer parte desse circo midiático. Conhecia pouco do trabalho da Marília Mendonça, mas sei que ela era uma pessoa sensata, que se posicionava nas questões importantes para o país, inclusive participou da campanha #elenao contra a eleição do pseudo presidente Bozo. E que sofreu ameaças por parte da milícia bolsonarista, foi uma Mulher ímpar. A grande mídia aproveita tudo para ganhar audiência, dinheiro e manipular a massa. É muito importante esse tipo de análise para clarificar as mentes aflitas dos fãs. Parabéns!
Parabéns,mais uma vez vc foi brilhante na sua colocação,e nessa vida não somos,estamos aqui de passagem,
Excelente texto. Muito sensata a sua colocação em relação a mídia!