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Direito e Justiça

qui, 19 de outubro de 2017 05:07

Abertura-direito-e-justica

Por uma Internet mais humana:

(Não Compartilhe / Apague / 17ª publicação)

 

  • Fotografias ou vídeos de pessoas acidentadas;
  • Fotografia ou vídeos de pessoas feridas ou baleadas;
  • Fotografias ou vídeos de cadáveres;
  • Fotografias ou vídeos com divulgação de suicídios;
  • Fotografia ou vídeos de animais mutilados;
  • Fotografias ou vídeos pornográficos ou de nudez acintosa;
  • Fotografias ou vídeos com crianças doentes ou vulneráveis;
  • Boatos ou notícias inverossímeis ( post truth = pós-verdade);
  • Informações ou delações sem quaisquer provas ou origem confiável;
  • Apologia à violência, ao crime, à contravenção e à pedofilia;
  • Quaisquer atitudes que contrariem os seus princípios morais e de cidadania.

 

 

Casa Arrumada (Carlos Drummond de Andrade)

 

 

Arrume a casa todos os dias…

 

Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela…

Casa arrumada é assim: um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…

Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: aqui tem vida…

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.

Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.

Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo?

na cara que é casa sem festa.

E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.

Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto…

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.

A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos, pros vizinhos…

E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Arrume a casa todos os dias…. Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela…

E reconhecer nela o seu lugar.

 

 

 

Viva o gerúndio! (Sérgio Rodrigues)

 

 

         O GERÚNDIO É RIDÍCULO, MAS ELIMINE ESSA FORMA VERBAL E VERÃO CAMÕES SE DESFAZENDO EM CACOS.                  

 

 

OUTRO DIA recebi de um conhecido uma mensagem que primeiro me fez sorrir, mas logo me deixou triste. O sujeito dizia que, refletindo sobre um conjunto de dados, tinha chegado a determinada conclusão.

 

Dados e conclusão não vêm ao caso. O que merece atenção aqui é a cunha que o meu conhecido achou importante meter no texto, entre parênteses: “Analisando (desculpe o gerundismo!) as informações disponíveis, concluo que…”

 

Pensando por alguns segundos, concluí que precisava pensar por mais alguns segundos. Foi aí que a graça inicial daquilo (como assim, chamar um gerúndio perfeitamente funcional de “gerundismo”, com exclamação e tudo?) deu lugar a uma certa tristeza.

 

O cara não está entendendo bem o que se passa, e tem numerosa companhia. Muita gente no Brasil ouviu cantar o galo generalista do telemarketing e concluiu que toda forma verbal terminada em “ndo” é um ruído, um arroto, uma gafe.

 

Trata-se de uma bobagem atroz. O gerúndio é bacana. Versátil, vem sendo usado desde o nascimento da língua portuguesa para expressar ideias de continuidade ou frequência e criar outras modulações de tempo, modo e causa.

 

Embora também possam ser encontradas assumindo outras formas no vasto mundo da língua, essas ideias muitas vezes tem no gerúndio sua expressão mais elegante e concisa.

 

“Senhor, esteja aguardando na linha que vamos estar informando quando o senhor vai estar recebendo o produto” é uma frase ridícula, óbvio. No entanto, partir daí para condenar todos os gerúndios equivale a responsabilizar a bola pelo 7 x 1.

 

O que se chama de gerundismo é o vício canhestro de tratar como frequentativas – isto é, habituais, que se repetem – todas as ações do mundo. Mesmo a construção que esse modismo terminou avacalhando tem o seu lugar: “Nos próximos meses não vou viajar, estarei estudando para o Enem.”

 

Sendo o Brasil um país pouco letrado, com índices de leitura capazes de precipitar monges taoístas em abismos de angústia e revolta, não surpreende que tantas vezes o pessoal acabe se confundindo com a fronteira entre o abuso e o uso razoável de determinado recurso.

 

Quando sabemos que sabemos pouco, é natural que nossa insegurança transforme a liberdade de escolha, valor fundamental da ética e da estética, em campo minado. Daí o velho apego brasileiro à hipercorreção e a regras autoritárias em letras garrafais: isso está CERTO, aquilo está ERRADO, fim de papo.

 

Juntando-se a esse quadro um dos mais clássicos mal-entendidos da lusofonia, a turma se adensa. “Ah, os portugueses não usam o gerúndio”, é uma ideia falsa. Essa forma nominal do verbo tem emprego firme em certas regiões de Portugal.

 

Ainda que fosse verdadeira, supor que a “brasilidade” rebaixaria de alguma forma o gerúndio é pura vira-latice. “A dizer” não tem nada de intrinsecamente superior a “dizendo”. Na verdade, até poderia ser visto como um uso bárbaro por um conservador radical que tomasse o português camoniano como padrão-ouro do idioma.

 

Com “seus reis que foram dilatando a fé, o império, e as terras viciosas de África e de Ásia andaram devastando”, tirem o gerúndio de Camões e verão “Os Lusíadas” se desfazendo em milhares de caquinhos.

 

 

FONTE:      Jornal Folha de São Paulo,

                                       Quinta-feira, 12.10.2017, Pág. B2.

 

 

 

 

DIREITO E JUSTIÇA:

 

 

Belíssimo artigo. Inteligente e acertado. O próprio Inglês, que jamais cansamos de elogiar e de copiar, em autêntica vira-latice, aproveita-se muito bem do gerúndio, fazendo-o através do seu “present continous” (Natalie is playing with the kids = Natalie está brincando/jogando com as crianças), ou mesmo do “past continous” (What were you doing at 8 pm yesterday? = O que você estava fazendo às 8 da noite ontem?).

 

Pois bem! Só sei que nada sei (Sócrates foi quem o disse). No que me diz respeito, vou continuar (ou continuarei) estudando com afinco essa língua querida, preciosa e difícil, “última flor do Lácio, inculta e bela” (quem o disse foi Olavo Bilac), que é a nossa Língua Portuguesa.

 

 

         Uma Breve História da Humanidade Sapiens = 24ª Edição –  Pág. 385:    (2) (Yurval Noah Harari)

 

Então, a era moderna é uma era obtusa de carnificina, guerra e opressão, tipificada pelas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, pela nuvem de fumaça nuclear sobre Hiroshima e pelas manias sangrentas de Hitler e de Stalin? Ou é uma era de paz, simbolizada pelas trincheiras nunca cavadas na América do Sul, as nuvens de cogumelo que nunca apareceram sobre Moscou e Nova York e as visões serenas de Mahatma Gandhi e Martin Luther King?

 

A resposta é uma questão de tempo. É curioso perceber com que frequência nossa visão do passado é distorcida pelos acontecimentos dos últimos anos. Se este capítulo tivesse sido escrito em 1945 ou 1962, provavelmente teria sido muito mais melancólico. Como foi escrito em nossos dias, adota uma abordagem relativamente alegre da história moderna.

 

Para satisfazer otimistas e pessimistas, podemos concluir que estamos no limiar do céu e do inferno, movendo-nos nervosamente dos portões de um para a antessala do outro. A história ainda não se decidiu sobre nosso destino, e uma série de coincidências ainda pode nos colocar em uma ou outra direção.

 

 

 

DIREITO E JUSTIÇA:

 

 

Bem, o raciocínio é lógico e consequente. Todavia, tudo irá também depender do ponto-de-vista de cada um e da posição do observador. Pois, sem dúvida alguma, é muito mais fácil tirar conclusões positivas, quando se está aboletado em Nova York, Londres ou Paris do que em um dos morros do Rio de Janeiro, ou em Mogadíscio, capital da Somália, ou em Cabul no Afeganistão. Ou, então, quando se tem uma renda mensal de 100.000 dólares ou euros, ao invés de 1 dólar ao dia, sem pão, sem água potável, sem perspectiva, sem esperança.

 

*Rogério Fernal

Juiz de Direito aposentado. Ex-Professor Universitário de Direito, Advogado militante, Mestre Maçom, conferencista e articulista.

e-mail: rogerio_fernal@hotmail.com

 

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