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Coluna: Saúde Alerta (09/09)

qui, 10 de setembro de 2020 10:43

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Qual a relação do hormônio do exercício com infecção por COVID-19?

 

Um estudo conduzido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) sugere que o hormônio irisina, liberado pelos músculos durante a atividade física, pode ter efeito terapêutico em casos de COVID-19. Ao analisar dados de expressão gênica de células adiposas(gordurosas), os pesquisadores observaram que a substância tem efeito modulador em genes associados à maior replicação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) dentro de células humanas.

Segundo os pesquisadores, o chamado hormônio do exercício, liberado pelos músculos ao realizar atividade física frequentemente, pode ter efeito terapêutico contra a Covid-19 ao diminuir receptor do coronavírus e aumentar o gene que reduz a expressão do vírus. Isso acontece porque a irisina é capaz de enfraquecer a expressão da proteína ECA 2 (ou ACE2, sigla do termo em inglês angiotensin-converting enzyme 2), que atua como receptora do vírus e é fundamental para que se replique e invada as células humanas.

 

O achado teve como base dados de transcriptoma (conjunto de moléculas de RNA expressas em um tecido) de células adiposas não infectadas por SARS-CoV-2 que receberam doses de irisina, confrontando as informações sobre os genes importantes na COVID-19 com nossos dados do transcriptoma para fazer correlações. O resultado representa uma sinalização positiva para a busca por novos tratamentos nesse momento de emergência com a pandemia. É preciso ressaltar que trata-se de dados preliminares, uma sugestão do potencial terapêutico da irisina para casos de COVID-19.

 

Por meio de técnicas de sequenciamento, os pesquisadores identificaram 14.857 genes expressos em uma linhagem de adipócitos subcutâneos. Ao tratar as células com irisina, observaram que a expressão de vários genes foi alterada.

 

Por causa da pandemia, os pesquisadores decidiram investigar possíveis efeitos da irisina em genes relacionados à replicação do SARS-CoV-2. A partir do cruzamento de dados, eles descobriram que o tratamento com a irisina em células adiposas diminuiu a expressão dos genes TLR3, HAT1, HDAC2, KDM5B, SIRT1, RAB1A, FURIN e ADAM10, reguladores do gene ACE2 – fundamental para a replicação do vírus em células humanas. O ACE2 codifica a proteína a que o vírus precisa se ligar para invadir células humanas.

 

Outro aspecto positivo encontrado no estudo foi a irisina ter triplicado os níveis de transcrição do gene TRIB3. Estudo anterior demonstrou a importância da manutenção da expressão de TRIB3. Em indivíduos idosos é comum ocorrer a diminuição da expressão desse gene, o que pode estar relacionado à maior replicação do SARS-CoV-2 e ao risco aumentado dessa população à COVID-19.

 

Um terceiro aspecto importante está no achado de outros grupos de pesquisa sobre o tecido adiposo aparentemente servir como repositório do vírus. Isso ajuda a entender por que indivíduos obesos têm maior risco de desenvolver a forma grave da COVID-19. Fora isso, indivíduos obesos tendem a ter níveis menores de irisina, assim como maiores quantidades da molécula receptora do vírus [ACE2], quando comparados a indivíduos não obesos.

 

A irisina, normalmente produzida de modo endógeno durante o exercício físico contínuo, é conhecida pela função de modificação metabólica do tecido adiposo branco – que armazena triglicerídeos, lipídios, acumula gordura e pode vir a ser inflamado –, tendo função similar ao tecido adiposo marrom. Esse processo favorece o gasto energético, o que torna a irisina um agente endógeno terapêutico para doenças metabólicas, como a obesidade.

 

Durante o exercício, o músculo produz a irisina, que, liberada na circulação sanguínea, conta com receptores em vários tecidos: desde o adiposo, considerado no estudo, mas também de órgãos como o pulmão e o cérebro, para dar outros exemplos. Esse hormônio está associado à melhora da função metabólica, permitindo controle de doenças como diabetes e obesidade.

 

A obesidade aumenta a expressão proteica do ECA2, mas se a pessoa começa a fazer uma atividade física e emagrece, modifica a ação dos genes de modo a reduzir essa proteína e tornar as células menos suscetíveis ao vírus. Esse trabalho demonstra que a irisina exerce essa ação moduladora nas células adiposa

 

Dizer que esse não é o momento de começar o tratamento da obesidade também é um engano. Esse é um bom momento, sim. Não há os eventos sociais que algumas pessoas dizem que atrapalham a dieta e quase todos os profissionais que podem ser envolvidos no tratamento, como nutricionistas e até psicólogos, que também nos ajudam em casos de transtornos alimentares, atendem por telemedicina. O paciente pode contar com toda rede de apoio para se tratar adequadamente. É o momento de tratar quem ainda não começou. A pandemia vai passar e continuaremos com o risco de problemas como diabetes, hipertensão e esteatose hepática, dentre outros.

Os exercícios físicos que são prejudiciais à saúde são aqueles que você não faz e agora temos mais um motivo de realiza-los no combate contra o novo Coronavirus.

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