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Coluna: Neuropsi (28/10)

qui, 28 de outubro de 2021 08:17

1-Qual é o impacto psicológico do paciente após ter sofrido um AVC?

O Acidente Cerebral Vascular (AVC) está cada vez mais tendo maior importância na atualidade, sendo reconhecido como problema de saúde mundial. Trata-se de uma doença grave, geradora de incapacidades crônicas, caracterizadas por perda da independência e, muitas vezes, da autonomia, sendo a maior causa de incapacitação em adultos.

Após um acidente vascular cerebral é comum que pacientes e familiares apresentem alterações emocionais que podem variar em intensidade e interferir no tratamento e no retorno das atividades rotineiras.

O AVC geralmente causa um impacto significativo na vida funcional, cognitivo e social do paciente, sendo comum que o paciente desenvolva transtornos psicológicos após o derrame.

 

2-Quais são os danos psíquicos mais frequente pós AVC?

Os danos psíquicos mais comuns são os Transtornos Depressivos e de Ansiedade, tais como: apatia, desânimo, tristeza, irritabilidade, baixa tolerância a frustrações e perda da autoestima, o que leva o paciente a perder a esperança na recuperação plena de suas funções e reduzir os seus esforços para o processo de reabilitação.

Devemos considerar principalmente os 3 níveis de cognição do paciente que sofreu AVC, pois em uma situação de mudança de vida brusca, distorções cognitivas já existentes a priori serão intensificadas e ainda há grande possibilidade que novas distorções surjam. Nesse sentido, é importante desenvolver um trabalho com foco nas distorções cognitivas vinculadas ao dano de uma patologia neurológica, sendo necessário realizar uma conceituação cognitiva adequada para que se possa intervir de forma eficaz, visando, no primeiro momento, o ajustamento do paciente em sua nova realidade e o aumento do seu bem-estar.

 

3-Então, porque surge a depressão após AVC?

O impacto psicológico gerado pelas limitações impostas pelo AVC pode ser suficiente para originar sintomas depressivos. Contudo, a própria lesão cerebral provocada pelo AVC pode contribuir para o desenvolvimento destes sintomas neste grupo de doentes.

Vários fatores contribuem para a depressão após AVC. O cenário clínico, isto é, a gravidade do AVC e as limitações sofridas pelo doente são os fatores de risco mais facilmente identificados. Contudo, é importante lembrar que outros fatores como a idade, sexo, história médica e psiquiátrica prévia e o suporte social de cada doente desempenham um papel igualmente relevante. O conhecimento dos fatores de risco é importante, porque muitos deles podem ser facilmente reconhecidos e identificados, quando procurados, e uma parte deles são passíveis de algum tipo de intervenção (ex: melhorar o apoio social prestado a estes doentes).

A depressão após AVC é um preditor de pior prognóstico e associa-se a menor sucesso na reabilitação, maior grau de incapacidade para as atividades de vida diária, alterações do sono, alterações cognitivas, isolamento social e mesmo a um aumento da mortalidade.

 

4-Qual a função do psicólogo na recuperação do paciente pós AVC?

O psicólogo auxilia a equipe de saúde a discriminar as manifestações emocionais e comportamentais apresentadas pelo paciente, propõe estratégias que auxiliem no enfrentamento das dificuldades emocionais de origem orgânica e trata as reações de origem psicológica.

Outro aspecto importante é dar todo apoio ao cuidador devido à necessidade de reorganização experimentada pelas pessoas envolvidas no cuidado para lidar com as mudanças do paciente e que poderão necessitar de orientações específicas.

A sobrecarga emocional do paciente e do familiar deve ser alvo de atenção, pois é frequente e tem impacto no engajamento com o programa de reabilitação e recuperação do paciente.

Neste caso, tanto a família quanto o paciente podem trabalhar com psicólogos. Isso seria necessário para tentar ajudar a entender o quadro e as dificuldades de adaptação a uma nova realidade, uma vez que as sequelas do AVC podem dificultar tarefas cotidianas e aparentemente simples para uma pessoa saudável. Tem que se ouvir as necessidades do paciente, ajudá-lo a lidar com o contexto, e ficar de olho em sintomas comuns, como apatia, nervoso, depressão, perda de interesse nas atividades, distúrbios do sono, perda de energia, sentimento de inutilidade ou culpa.

 

5-Qual a importância da psicoterapia no pós AVC?

A psicoterapia é importante para corrigir distorções associadas ao episódio inesperado, que é o AVC, e também para auxiliar o paciente no seu ajustamento psicológico e social, em conjunto com o trabalho fisioterápico, que visa o ajustamento físico. Estes ajustamentos resultam em uma melhor qualidade de vida, reduzindo sintomas depressivos e ansiosos. É indicado após a obtenção de êxito com este foco, recontratar um novo foco diretamente ligado à crença central disfuncional em uma modalidade de terapia de médio a longo prazo.

 

6-Como é a reabilitação cognitiva do paciente após o AVC?

A avaliação cognitiva do paciente pode auxiliar na escolha do tratamento e da conduta, pois pode determinar as capacidades e limitações do paciente em enfrentar e lidar com o AVC e avaliar sua elegibilidade e potencial para reabilitação. Os déficits cognitivos podem interferir na capacidade de novo aprendizado, implicada nas diversas atividades e terapias solicitadas durante o processo de reabilitação.

Na reabilitação, o psicólogo faz uso de técnicas de treino cognitivo (prática, repetição e organização da informação relacionada às habilidades neuropsicológicas disfuncionais), treino de tarefas específicas (por ex.: simulações de situações desafiadoras ao paciente) e técnicas que visam a introdução de estratégias compensatórias (adaptações ambientais, auxílios externos e internos e tecnologia) para as dificuldades apresentadas pelos pacientes.

 

7-Quais são as orientações à família do paciente após o AVC?

A orientação familiar é fundamental para facilitar a aceitação e adaptação às novas condições de vida do paciente, agora com as sequelas e perdas decorrentes do AVC, o que pode interferir no comportamento do paciente e provocar conflitos de opiniões entre os familiares quanto à melhor conduta. A família está sujeita às mudanças impostas pelas sequelas do paciente acometido pelo AVC, sendo a perda da independência e autonomia do paciente um dos problemas mais difíceis de aceitar e administrar no meio familiar. Em especial, se a família já enfrentava conflitos de relacionamento com o paciente ou com os familiares entre si, as questões de como assumir os cuidados com o paciente podem se complicar ainda mais.

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