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Coluna: Direito e Justiça (16/06)

qui, 16 de junho de 2022 09:06

1 – A PROPOSITURA DE UM DILEMA:

 

Há muito tempo, em uma cidade do Oriente, surgiu, ninguém sabe de onde, um homem que possuía a extraordinária capacidade de adivinhar, com absoluta precisão, as questões que lhe eram formuladas, fossem elas referentes ao passado, ao presente ou ao futuro.

– Mestre, o que está fazendo neste momento o nosso Rei?
– Mestre, onde se encontram as jóias desaparecidas?
– Mestre, a colheita de trigo será boa neste ano?
– Mestre, o jovem filho de nosso Governador ficará curado?

Com acerto, a todos e a tudo, ele respondia, de pronto, sereno e seguro de si, jamais tendo incorrido em erro de previsão, pois aquele ser era, de fato, um adivinho infalível. Mais do que isso, era um mago.
Um certo cidadão — conhecido na cidade por seu inusitado espírito crítico, irônico, vaidoso e até debochado — formulou para consigo mesmo um plano que reputava ser infalível e que iria colocar o adivinho perante um dilema insolúvel, que o haveria de desmoralizar.

O plano era o seguinte:

O dito cujo levaria escondido nas mãos, que poria atrás de suas costas, um passarinho ainda vivo. Indagaria, então, o adivinho, se aquele pássaro estava vivo ou morto. Se a resposta fosse afirmativa (a de que o pássaro vivia), o malévolo cidadão esmagaria imediatamente a ave, triturando-lhe os ossos, matando-a; entretanto, se a resposta fosse negativa (a de que o pássaro já estava morto), o cidadão deixá-la-ia viver, libertando-a para alçar vôo perante todos os expectadores, que seriam também testemunhas da queda daquele mago.
Enfim, para qualquer resposta que lhe viesse a ser dada, o destino do pássaro cativo — já traçado pelo planejador — seria decidido pelo contrário.

– Se a opção do adivinho fosse pela vida, a ave seria morta.
– Se a opção fosse pela morte, a ave seria libertada.

Perante o mago adivinho e toda a multidão curiosa, a questão foi proposta:

– Diga-me, ó Mago, o pássaro que tenho preso entre minhas mãos está vivo ou está morto?

Sem pestanejar, sem receio algum, veio a seguinte resposta:

– Meu filho, isso só depende de você…!

 

2 – UMA INTERPRETAÇÃO LIVRE:

Poderíamos — forçando e fantasiando um tanto o nosso raciocínio — comparar aquele fabuloso mago adivinho ao que os homens chamam e creem ser uma força avassaladora, incontrastável, insuperável e inevitável, da qual ninguém jamais escapou: o DESTINO.

Entretanto — com muito maior margem de acerto — poderíamos vislumbrar naquele personagem a figura personificada em Verbo de um Ente Superior e Supremo, que tudo sabe, que tudo vê, que tudo pode e que se encontra presente em todos os lugares, perante o qual não subsistem mistérios, dilemas ou contradições humanas e inferiores: eis-nos perante DEUS, o Grande e Supremo Arquiteto do Universo.

Somente Deus dominou e deu ordem ao Caos, separando a Luz das Trevas.

Somente Ele criou e jamais foi criado, pairando soberano e perpétuo sobre todas as coisas e acima de todos os seres.

Somente o Espírito Criador — jamais criado, porque existiu sempre — sobreleva-se ao próprio tempo e ao próprio espaço, confundindo as noções de átimo e de infinito, moldando para sempre o Cosmos indevassável.

Se Deus nos deu ou nos impôs um Destino já traçado, eu não sei dizer. Mas, creio que possuímos, ao menos, uma “liberdade relativa”, para tomar decisões que também podem ser cruciais e máximas para as nossas vidas terrenas.

Não podemos decidir, é claro, o lugar de nosso nascimento, a inserção nesta ou naquela família, a época e as condições de nossa morte.

Podemos, todavia, optar entre o Bem e o Mal, o Justo e o Injusto, a Crueldade e a Misericórdia, o Trabalho e a Ociosidade, a Honra e o Vício, a Benevolência e a Intolerância.

Enfim, só depende de nós mantermos o pássaro vivo e soltá-lo para a liberdade clara e radiosa da Luz, buscando incansavelmente, sem desvio algum, o Conhecimento advindo da presença de Deus.

 

3 – CONCLUSÃO:

Nunca encerramos os nossos trabalhos sem suplicar ao Grande e Supremo Arquiteto do Universo que, empregando a Tríplice Argamassa da Paz, da Harmonia e da Concórdia, permita que nossas Colunas sejam e estejam sempre preenchidas de Obreiros úteis e dedicados.

Ora, eis aí um aspecto que vai depender de nós mesmos, de cada um de nós, no dia-a-dia de nossas vidas, ou seja, a capacidade de nos tornarmos úteis e dedicados em tudo aquilo que fazemos e edificamos com disciplina, denodo, tolerância e amor.

Profano ou Maçom, o homem deve buscar sempre a sua paz interior e o conhecimento de si mesmo, aprendendo com seus erros, progredindo com seus acertos, acumulando méritos e, sobretudo, constituindo-se em um exemplo para os que o cercam.

É difícil cultivar a Virtude e deixá-la vicejar entre as ervas daninhas do Vício, em um mundo essencialmente materialista e ímpio e incréu. Porém, o Homem de Bem, aquele que acredita em Deus, que sabe esperar, que aceita, que luta, que persevera, que ama, que sofre, que se recupera e que, enfim, vence a si mesmo, jamais proporá dilema algum ao seu Criador, pois tem consciência de que pode, sem dúvida alguma, moldar o seu Destino.

E, moldando o seu Destino, fazendo-o bem, você será feliz.

 

Rogério Fernal .`.

MM e MI = CIM nº 186.618

Loja Maçônica União Araguarina nº 0924 = GO)B / GOB-MG.

 

COMENTÁRIO ATUAL:

Ingressei na Ordem Maçônica há mais de 20 anos (foi em meados de 1996) e galguei a maioria dos cargos maçônicos em Loja Simbólica (graus 1, 2 e 3), chegando ao Grau 32 dos 33 existentes em Lojas Filosóficas do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A matéria aqui exposta não constitui, não exige e não contém qualquer sigilo. Ademais, é bom que eu diga que jamais me arrependi de haver ingressado na Ordem Maçônico. Em face da gravidade da pandemia de Covid – 19 nos anos de 2020 e 2021, não houve freqüência física às Lojas, mas quero crer que uma normalidade relativa está retornando aos poucos. Destarte, pretendo reativar a minha freqüência.

Não há Maçons ateus ou incréus. Todos nós acreditamos firmemente na existência de um Grande ou Supremo Arquiteto do Universo, criador e condutor dos mundos, que conferiu e que assegura ao ser humano o livre arbítrio necessário e suficiente para viver, progredir e evoluir.

Essa obrigatoriedade de que os Maçons creiam em algo superior, incontrastável e intangível aos nossos parcos sentidos humanos, não significa, em absoluto, a necessidade de filiação ou de submissão a esta ou àquela religião ou seita, o que decorre da vontade livre de cada um, pois em verdade o Templo Maior e Mais Sagrado somos nós mesmos, ou seja, corpo e mais a alma / espírito imortal.

O povo árabe, por sua natureza peculiar, á dado ao fatalismo, que se expressa na máxima “maktub”, significando literalmente “estava escrito”. |Não é esta, todavia, a crença dos Maçons, porquanto confiamos na plena Justiça e Misericórdia do Criador, que possibilita ao ser humano errar e acertar, cair e reerguer-se, retroceder ou adiantar-se, sofrer e resgatar-se.

Por isso, a todo Maçom – de início — é proclamado:

– Visita interiora tarrae e retificando que invennies ocultum lapidem.

– Visita o interior da Terra e retificando-te encontrarás a pedra oculta.

Significando, em suma, que cada um deve descer ao fundo, ao âmago, da própria consciência, onde poderá encontrar o seu rumo, o seu objetivo, a sua verdadeira natureza. Enfim, fazer o mais difícil: conhecer a si mesmo.

VITRIOL .

• Rogério Fernal .`.
MM; MI , CIM 186.618 – GOB.

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