Ficha Técnica – Abaixo a politicagem no esporte
qua, 19 de julho de 2017 05:56Ricardo Santos, 39 anos, morador da Zona Oeste de São Paulo no bairro nobre de Pinheiros. Ali, faz de cada canto um abrigo. Carroceiro de longa viagem, querido pelas várias crianças que o rodeiam nessas férias, e trabalhador. Outro dia, ganhou R$ 20 da Dona Maria para carregar um entulho até o Ecoponto – Qualificação cinco estrelas. Eis que um dia, é surpreendido por quem o deveria confortar. Bang! Dois tiros no peito, à queima roupa, sangue frio. De dar inveja ao mais rigoroso dos invernos. O que acontece com quem cruza a Mourato Coelho e a Navarro de Andrade?
São Paulo e a dura poesia concreta de suas esquinas. Do povo oprimido nas filas, vilas e favelas, como escrito na canção de Caetano, da exposição de sentimentos ao cruzar a Ipiranga e a avenida São João. Do contraste do frio das vielas e do ar temperado do ar condicionado. Da casa com acabamento em mármore ao berço de papelão. Ricardo estava estendido na valeta em pleno horário de pico. Ninguém esperou IML ou perícia. Colocaram o corpo num saco e jogaram no porta-malas da viatura. Para qual lado acionam o giroflex?
Não houve plantão, boletim de notícias ou torpedo via SMS. No outro dia, a esquina amanheceu com flores e Ricardo virou estatística. Mais um alvo da truculência descabida no país de atrocidades e de clima destemperado. Na periferia, no bairro nobre ou nas arquibancadas de um estádio. Não há alarde. Em Brasília, o dançarino Maikon Kempinski foi preso pela performance com nu artístico durante o Festival Palco Giratório ao ar livre. De certo, não há ninguém para prender na capital federal.
O que me incomoda, não apenas como jornalista, mas ser humano, é essa corrida entre o espetáculo midiático e o que é realmente necessário. Em Araguari, organizaram um evento com prefeito, vereadores e até cerimonial para inaugurar uma pista de atletismo. De fato, a imagem das crianças correndo pelo espaço é impagável, mas qual intenção da solenidade, com direito a descerramento de placa de inauguração, para algo entregue aos 45 do segundo tempo e, cá entre nós, longe daquilo que os participantes dos Jogos Escolares Municipais merecem?
Caro prefeito, assim como disse outrora para seu antecessor, não é porque a cidade capenga de esporte que qualquer passo é digno de louvor. O nome disso é politicagem e uma pista de atletismo para uma olimpíada estudantil não passa de obrigação. Apenas certifique-se de fazer a sua parte e contribuir com algo mais digno para o futuro de quem aqui sonha. Para que mais crianças não cresçam como os vários Ricardos que nascem e morrem anônimos nesse país.
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