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Coluna: Direito e Justiça (23/02)

qui, 23 de fevereiro de 2023 08:08

O Pai Nosso: ( 1 )

 

Pater Noster (em Latim):

Pater Noster qui est in caelis; santificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua sicut in caelo et in terra; panem nostrum quotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem, sed libera nos a malo. Amen!

Pai Nosso (em Português):

Pai Nosso que estais nos céus; santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal; Amém!

Padre Nuestro (em Espanhol):

Padre Nuestro, que estás em el cielo; santificado sea tu Nombre; venga a nosotros tu Reino; hágase tu voluntad em la tierra como em el cielo; danos hoy nuestro pan de cada día; perdona nuestras ofensas como también nosotros perdonamos a los que nos ofendem; no nos dejes caer em la tentación y libranos del mal. Amén!

Notre Père (em Francês):

Notre Père qui es aux cieux; que ton Nom soit sanctifié; que ton Régne vienne; que ta volonté soit faite sur la terre comme au ciel; donne-nous aujourd`hui notre pain de ce jour; pardonne-nous nos offenses comme nous pardonnons aussi à ceux qui nous ont offensés; et ne nous soumets pas à la tentation; mais délivre nous du Mal. Amen!

Padre Nostro (em Italiano):

Padre Nostro che sei nei cieli; sia santificato il tuo nome; venga il tuo Regno; sia fatta la tua volontà come in cielo cosi in terra; dacci oggi il nostro pane quotidiano; e rimetti a noi i nostri debitti, como noi li mettiamo ai nostri debitori; e non ci indurre in tentazione, ma liberaci dal male. Amen!

Our Father (em Inglês):

Our Father, who art. in heaven; hallowed be Thy Name; Thy Kingdom come; Thy will be done on Earth as it is in Heaven; give us this day our daily bread; and forgive us our trespasses, as we forgive those who trespass against us; and lend us not into tentation, but deliver us from evil. Amen!

 

Comentários da Coluna DJ:

 

Sem nenhuma dúvida ou contestação, o Pai Nosso é tido e havido como sendo a oração mais importante do Cristianismo, seja em qual vertente for, pois nos foi dada e recitada pelo próprio Jesus. Ao longo dos séculos, sofreu acréscimos e modificações de pequena monta, que não lhe tiraram os objetivos principais de louvar a Deus, de pedir o seu perdão e o de obter a proteção divina. Todavia, penso eu, existem aspectos sobre os quais eu lhes quero falar.

 

Na Palestina antiga, onde Jesus nasceu, viveu, caminhou e pregou a sua doutrina, a língua franca, ou geral, era o Grego; depois, o idioma helênico passou a coexistir com o Latim após as conquistas romanas nas regiões da Judeia, Galileia, Fenícia, Síria e cercanias. Já o Hebreu, ou Hebraico, era mais utilizado restritamente em ritos religiosos. Porém, Jesus falava e ensinava aos seus discípulos e ao povo em Aramaico, um idioma que se originou na Alta Mesopotâmia, por volta do Século VI, a. C., região situada entre os Rios Tigre e Eufrates, atuais Turquia e Iraque, Ainda hoje, o Aramaico, assim como foi para Jesus, é a língua materna de algumas pequenas comunidades no Oriente Médio, especialmente no interior da Síria.

Após a constituição do moderno Estado de Israel, que se deu em 1948, o Hebraico foi revivificado e tornou-se a língua oficial daquele país. Todavia, nos tempos de Jesus, os Evangelhos foram escritos primeiro em Grego, sendo posteriormente traduzidos por Jerônimo para o latim. Após a invenção da imprensa, através da introdução dos tipos móveis por Gutemberg, nos idos de 1450, e com o advento da reforma protestante, ocorrida a partir do Século XVI, e até os dias atuais, a Bíblia passou a ser traduzida e editada para as numerosas línguas e dialetos dos diversos povos europeus e de todo o mundo.

O pioneiro desse movimento de difusão dos textos bíblicos foi Martinho Lutero, que os traduziu para o alemão; o Rei James, da Inglaterra, ordenou uma tradução, hoje famosa, para o idioma inglês. Daí por diante e de forma irreversível, a Bíblia Sagrada universalizou-se e chegou ao pleno alcance das pessoas comuns, possibilitando-lhes o acesso mais fácil aos seus escritos por quem os quisesse ler, conhecer e aplicar.

Provavelmente, foram essas traduções sucessivas, ou seja, das palavras primárias do Hebraico (Velho Testamento) e dos ensinamentos orais de Jesus (Novo Testamento) para o Grego, depois para o Latim e, por último para as diversas línguas nacionais e dialetais, em numerosas edições e reedições que acarretaram e provocaram erros e diferenças textuais, suscitando dúvidas, contradições e questionamentos.

Jesus foi indagado sobre como é que se deveria rezar (ou orar); como resposta, deu-nos graciosamente o belíssimo, completo e perfeito Pai Nosso, que contém a indicação de diversos rumos ou nuances de conexão com Deus, não significando que a oração tenha de ser recitada tal e qual nos foi passada, mas, convenhamos, devem ser evitados os acréscimos desnecessários, redundantes, dúbios ou equivocados, enfim, incondizentes com a mensagem que Jesus desejou verdadeiramente transmitir-nos.

Ensinando-nos a orar, Jesus enfatizou que primeiro devem ser perdoadas as faltas dos nossos desafetos, para que a oração seja frutífera e eficaz; depois, que se deve orar discretamente, sem alarde, no ambiente secreto do nosso quarto, ou seja, no âmago da nossa própria consciência. Finalmente, disse que não devemos fazer como os gentios (os hipócritas ou os fariseus de hoje), que se comprazem com orações grandiosas, rebuscadas e extensas e que demonstram, no fundo, apenas vaidade e soberba. Assim também devemos proceder com as esmolas (a prática da caridade), censurando-nos o Mestre o soar de trombetas ou o alarde que humilha quem recebe o auxílio.

Uma questão que sempre me chamou a atenção refere-se ao tratamento que devemos conferir a Deus, Nosso Pai. Tu ou Vós? Ouço usualmente as duas variantes, sendo que não vislumbro nenhum desrespeito pelo uso do mais próximo e informal tu em vez do circunspecto e majestático vós. Creio tratar-se de opção na tradução e no emprego ou de mera preferência pessoal do recitante. Bem mais comum, reconheço, é a preferência pela informalidade do tu. Quanto a mim, prefiro o vós, que me soa inequivocamente mais solene e que me faz lembrar a superioridade absoluta do Criador sobre as suas Criaturas. Contudo, a escolha é livre e não faz mesmo diferença alguma.

Outro aspecto que sempre me intrigou, fazendo-me lembrar da emblemática frase est modus in rebus (em todas as coisas há uma medida), dita por Horácio na peça Hamlet, de William Shakespeare, constitui-se de uma tradução que considero errada e inaceitável, como se não bastassem as milhares de modificações e traduções erradas, truncadas ou até maliciosas, feitas nos textos bíblicos, tornando verdadeiro, em última análise, o dito italiano de que “o tradutor é um traidor”.

Sequenciando este tópico, bastar-me-ia argumentar com a retirada ou o encobrimento de várias passagens próprias e básicas da doutrina espírita, contidas explicitamente nos textos originais e fidedignos do Velho e do Novo Testamentos, dando conta da veracidade da reencarnação (e não somente de ressurreição), da possibilidade de comunicação dos vivos com os mortos e vice-versa (que passou a ser proibida e até punida com a morte), o nascer de novo, as várias moradas na casa do Pai, etc. Enfim, não é um assunto para aqui e agora; todavia, não é também uma discussão encerrada para mim.

O que seria, então, esse erro inaceitável, atrelado ao texto do Pai Nosso°

Não é, por certo, a expressão que muitos põem no final da prece, dizendo: “pois, Teu é o Reino, o Poder e a Glória”. Trata-se essa expressão de um louvor usado pelo Rei Davi em seus Salmos e que busca engrandecer, louvar e adorar a Deus. Sem problema algum, muito pelo contrário, enaltece a fé de quem proclama e aumenta a dos que ouvem. Trata-se, sim, da expressão “não nos induzas à tentação”. Aqui, percebi que alguma coisa estava muito errada.

No próprio âmbito da Igreja Católica já se percebeu isso e a modificação necessária foi determinada e já se encontra em execução. Entre nós, espíritas, muitas vezes ainda ouço a antiga frase, pedindo a Deus que “não nos induzas à tentação”.

Em italiano, era assim:

– E non ci indurre in tentazione, ma liberaci dal male.

(E não nos induza à tentação, mas livra-nos do mal)

 

Aproveito o ensejo, e trago a versão em francês, igual ou pior:

– Et ne nous soumets pas à la tentation; mais délivre nous du Mal.

(E não nos leve, ou nos submeta, à tentação, mas livra-nos do mal)

Deus – justo e misericordioso –, que nos deu e que respeita o nosso livre arbítrio, nunca, sob nenhuma maneira, valer-se-ia do seu poder soberano e absoluto, para utilizar-se de um desses verbos com relação aos seres humanos em face da tentação: induzir, levar, submeter, obrigar, determinar, favorecer.

Quando muito, em face do livre arbítrio, dado ao ser humano, Deus permite, Deus admite, Deus consente, Deus deixa. O resto é conosco. Causa e efeito. Plantio e colheita. Ação e consequência. Erro e responsabilidade. Culpa e resgate. Por isso, veio em boa hora a alteração da letra do Pai Nosso em italiano, que passou a ser escrito como segue, embora insuficiente. Vejam:

 

– |Non abbandonacci alla tentazione

(Não nos abandones à tentação.

 

Ainda não concordo com essa nova versão e não acho que Deus nos abandona à tentação. Nós é que abandonamos a Deus. Nós é que o esquecemos. Nós é que desobedecemos as suas Leis. Por isso mesmo Jesus disse claramente: “cuidai em primeiro lugar das coisas de Deus e todas as demais (coisas) ser-vos-ão acrescentadas”. Melhor está redigido o texto em Português:

– “Não nos deixes (deixeis) cair em tentação, mas livra-nos (livrai-nos) do mal”.

Portanto, se cairmos em tentação, cairemos por nossos próprios erros e culpas, por nossas ações e omissões, por nossa pessoal e exclusiva responsabilidade, por nosso descaso e teimosia, por nossa impiedade e rebeldia, e nunca porque Deus nos induziu ou empurrou para o abismo.

Porque Deus é bom! Porque Deus nos ama! Porque Deus é Pai!

Pensem nisso.

 

Araguari – MG, 21 de fevereiro de 2023.

Rogério Fernal .`.

 

 

 

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