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Homem que matou esposa, filha de 4 anos e depois cometeu suicídio não possuía histórico de agressão

sex, 30 de novembro de 2018 05:30

por Tatiana Oliveira

Um dos resultados preliminares da investigação foi um perfil psicossocial de Thiago, traçado a partir de depoimento de pessoas que conviviam com o autor

Oito minutos, esse foi o tempo que separou a vida e morte da médica Mariana Barbosa Paranhos e sua filha Valentina, de quatro anos. O autor do crime ocorrido na madrugada do último dia 17 foi o empresário de Uberlândia Thiago José Aquino Marques, de 39 anos, esposo da médica.

Em meio à semana que segue o Dia Internacional de Combate a Violência contra a Mulher, que ocorreu no último domingo, 25, o delegado Felipe Oliveira Monteiro, da Delegacia Especializada de Homicídios da Polícia Civil, convocou uma coletiva de imprensa ontem pela manhã para esclarecer fatos sobre o caso. “Foram vítimas de feminicídio uma médica que estava dando plantão aqui em Araguari, a filha dela de 4 anos de idade chamada Valentina, provocados pelo marido e pai da menina chamado Thiago que, em seguida, cometeu suicídio utilizando a mesma faca que ele usou para cometer os feminicídios. Esse caso chocou muito, é um caso com repercussão nacional, a população toda ficou horrorizada, especialmente na cidade de Araguari e região e não foi diferente aqui na Polícia Civil.”

Segundo Monteiro, o empresário não tinha histórico de violência ou ameaça e estava sob descontrole emocional antes de cometer o crime. “Começamos as investigações logo que tomamos conhecimento dos fatos. Assim como em outros casos de feminicídio, as investigações são uma ação em conjunto entre a delegacia de Homicídios e a delegacia Especializada em Orientação e Proteção à Família, conhecida como Delegacia da Mulher.”

O empresário e a médica eram casados há oito anos em Uberlândia e depois de um ano do nascimento da filha ficaram separados durante um mês, conta delegado

O empresário e a médica eram casados há oito anos em Uberlândia e depois de um ano do nascimento da filha ficaram separados durante um mês, conta delegado

 

Conforme relatos do delegado foram realizados levantamentos de histórico criminal, ocorrências policiais e nada foi encontrado. “Saiu dos padrões de violência doméstica e feminicídio, até mesmo para a Polícia Civil. Geralmente no feminicídio encontram-se situações em que o agressor tem histórico de violência contra a mulher e nesse caso não encontramos nada”, aponta o delegado.

Dado o fato, a Polícia Civil entrou em contato com testemunhas, familiares e pessoas de convício do casal para verificar o histórico de violência. “Mais uma vez, nós não encontramos nenhum relato de violência física ou ameaça por parte de Thiago contra a Marina. Então, nós confirmamos que realmente estava fora dos padrões de violência doméstica e feminicídio”.

Um dos resultados preliminares da investigação foi um perfil psicossocial de Thiago, traçado a partir de depoimento de pessoas que conviviam com o autor. “Com base em relatos da família e pessoas próximas, diziam que o Thiago era uma pessoa reservada, tranquila, de fala serena. Relataram ser um bom pai, a família disse que era um bom filho, um bom irmão, um excelente profissional, trabalhador”.

Conforme o delegado, não há qualquer indício de premeditação por parte do empresário. “Não foi premeditado. O planejamento, se houve, foi nos momentos que antecederam o crime, mas ele não tinha desenhando isso, não há nada que leve a crer, até porque ele estava planejando abrir outro estabelecimento comercial e no mesmo dia dos fatos, havia negociado um veículo para a Mariana comprar, porque ela precisava de um carro para fazer os plantões”.

A faca utilizada nas mortes foi trazida pelo empresário da cidade vizinha. “Nesse intervalo de tempo que ele trouxe a Mariana, voltou para Uberlândia; até retornar para Araguari ele planejou algo, mas não vinha planejando isso anteriormente. A pessoa toma essa atitude de comprar um carro e planejar a vida da sequência da família; acredito que não havia planejamento”, alega.

O delegado disse que o autor enfrentava problemas pessoais e no casamento, e sofreu um descontrole emocional antes de cometer os assassinatos e tirar a própria vida. “Em razão tanto dos problemas pessoais de Thiago quanto os problemas do casal, ele estava fazendo uso de bebida alcoólica, ninguém relata que fazia o uso de drogas, mas bebida alcoólica sim. No dia dos fatos o casal teve mais uma briga na parte da manhã, mas, apesar disso, Thiago trouxe a esposa para o plantão, como de costume e voltou para Uberlândia. Nesse intervalo de volta para Uberlândia algo ocorreu, o que provavelmente ficou entre o casal, uma conversa entre eles que despertou toda essa fúria em Thiago”.

Há indícios que no dia do crime o autor estava sob efeito de bebida alcoólica, mas a polícia aguarda o resultado do laudo para confirmar. O celular de Mariana está em processo de desbloqueio pela perícia e as investigações seguem em andamento, diz Monteiro.

Motivação

Conforme Monteiro, a motivação do crime foi um conflito entre o casal, porém ele não deu detalhes. “Eles estavam em um processo de decidir se separarem. Tentavam ficar juntos até para preservar a família, por conta da filha. Isso foi relatado por pessoas do convívio do casal, que eles tinham vontade de se separar, os dois, porém pensavam muito na filha para evitar um trauma para a menina. No entanto, pelo que levantamos, a situação estava bastante insustentável. Acredito que se não tivesse acontecido essa tragédia o caminho seria o divórcio”.

O empresário e a médica eram casados há oito anos em Uberlândia e depois de um ano do nascimento da filha ficaram separados durante um mês.

O crime

Conforme as investigações, Thiago colocou a filha de quatro anos no carro e seguiu para Araguari novamente.

O empresário, segundo relatos, chegou alterado ao hospital onde a médica trabalhava e tentou contato com ela. A médica chegou a enviar algumas mensagens para familiares durante a madrugada, incomodada com o fato de o marido estar indo para o trabalho dela antes de finalizar o expediente. Em uma das mensagens, contou que o homem ameaçou matar a filha e tirar a própria vida caso ela não o atendesse no hospital.

Um dos dispositivos utilizados para apurar os fatos foi imagens de câmeras de segurança do hospital, que mostraram o momento em que a médica entrou no veículo de Thiago, aparentemente tranquila. “Em outra imagem, ela foi vista entrando no carro, conversando com Thiago e depois virou para trás como se estivesse falando com a filha”, diz o delegado.

Na rua Marechal Deodoro, cerca de oito minutos depois, testemunhas informaram à polícia que o casal entrou em conflito corporal e o marido tentou atropelar Mariana. Após insucesso, pois Mariana abrigou-se no alpendre de uma residência, Thiago desceu do carro, desferiu 12 facadas na esposa, entrou no carro novamente, desferiu facadas contra a filha e, logo após, foi à parte frontal do veículo e esfaqueou-se quatro vezes.

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