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Combatendo as drogas – A defesa contra elas faz-se pelo seu conhecimento (Parte IV)

qui, 4 de setembro de 2014 00:03

abertura Direito e Justiça
DEPOIMENTO III

A perda de um filho é uma dor que não acaba nunca,
que fica com a gente as 24 horas do dia …

… Na noite da morte de Marcelo, eu estava em São Paulo, e quando cheguei a Marília, a polícia me informou que a causa mortis tinha sido um ataque cardíaco.

Comecei a desconfiar que as coisas não estavam muito claras. Falei com os amigos dele e com os empregados da casa e consegui descobrir o que realmente aconteceu na minha casa na noite de 18 de janeiro de 1991.

Um grupo de amigos de Marcelo, todos de famílias influentes da cidade, consumiu duas garrafas de uísque Logan e cocaína. Na verdade, o meu filho morreu de overdose.

É muito comum, nos casos de mortes provocadas por drogas, os familiares dizerem que a vítima estava consumindo pela primeira vez. Isso é realmente muito bom para quem quer se enganar e não enfrentar a realidade, mas não era o meu caso.

É muito mais fácil para a polícia dizer que foi um infarto do que admitir que a droga esteja presente em todos os lugares na região onde vivo.    Imediatamente, convoquei a imprensa e divulguei o que tinha acontecido, na tentativa de alertar a sociedade e lutar para que não surjam outros Marcelos.

Logo depois, a polícia reabriu quatro casos idênticos, que haviam sido arquivados. As investigações, como sempre, não deram em nada. Ninguém quer falar das drogas e vamos nos enganando até que, infelizmente, acontece com a nossa família.

* Márcio Mesquita Serva, Reitor da Universidade de Marília, pai de Marcelo Mesquita Serva, morto aos 25 anos, vítima de overdose. REVISTA VEJA, Ed. nº 1548, 17.05.1998.
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DEPOIMENTO IV

A família tem de prestar muita atenção nessa “iniciação” (às drogas), porque a recuperação de um dependente é muito difícil, mesmo quando se usam todos os recursos à disposição.

Contam-se às pencas estórias de derrotas no decorrer do tratamento. A terapeuta corporal paulistana, Tereza de Jesus Ferreira Maciel, viu o filho André lutar por cinco anos para se recuperar da dependência de cocaína.

“-Quatro vezes internado em clínicas especializadas, cada internação era uma esperança. Ele parecia que queria voltar a viver, submetia-se a todas as normas, ganhava peso, ficava lindo. Eu ressuscitava junto” — lembra Tereza.

Mas, a cada recaída, ele piorava. Mergulhava ainda mais profundamente nas drogas, apesar de ter vergonha da dependência. Um dia, quando André acabava de receber alta, na última de suas internações, ele foi visitar a mãe no trabalho.

“- Sentou-se, olhou para mim e sorriu daquele jeito horrível como só fazia quando estava sob efeito da droga”. — Eu disse para ele – “Você está com a mão na maçaneta da porta do inferno, meu filho.”

Era mais uma recaída. Pouco tempo depois, o menino, de apenas 20 anos, estatelou-se num acidente de moto. A mãe tem certeza de que ele estava drogado na hora da morte.

·Tereza de Jesus Ferreira Maciel, mãe de André, viciado em cocaína e morto em consequência de um acidente com motocicleta. REVISTA VEJA, Ed. nº 1548, 17.05.1998.
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· Rogério Fernal: Juiz de Direito aposentado. Ex-Professor Universítário de Direito, Advogado militante, Mestre Maçom, conferencista e articulista.

1 Comentário

  1. Renato Condeli disse:

    Fui amigo do Marcelo entre meus 10 e 17 anos, quando passei a cursar direito. Considerava o Marcelo um dos meus melhores amigos. Um garoto que, digo com certeza, em toda minha vida conheci poucos com aquele coração. Quando ele chegava nos lugares tudo se iluminava e virava alegria. Ele contaminava todos com seu sorriso e bondade. Aos 21 anos vim para Rondônia, hoje sou Procurador do Estado. Não pude me despedir do meu amigo ou saudar seus familiares, especialmente ao pai dele, pessoa que Marcelo nutria infinita admiração. Ainda que tardio segue meus sentimentos aos familiares e toda minha saudade do meu amigo que, na época, a diferença social nunca o limitou em nossa amizade. Meu querido amigo Marcelo sei que um dia nos encontramos novamente. Me aguarde. Deus nos guarde e ilumine.

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