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Coluna: Furando a bolha (28/07)

qua, 28 de julho de 2021 11:34

por Leandro Alves de Melo

Você é fanático?

Uma pergunta difícil. Mas afinal, o que é ser fanático? E por que isso é relevante nos dias atuais?

O fanatismo trata-se de uma condição psicológica em que o sujeito tem uma excessiva adesão a alguma ideia, pessoa ou crença que beira a obsessão. Muitas vezes impedindo-lhe o pensamento crítico e racional, assim levando-o à ruína, se for coletivo, ao caos social.

Está conectado com ideias fixas, que certamente existe uma intenção positiva por trás, podendo ser: sentimento de pertencimento, dar significado à vida. Sabendo disso o manipulador por interesses egóicos usam de técnicas avançadas de lavagem cerebral para controlar mentes específicas.

De acordo com a Neurociência: a lavagem cerebral é um processo que a vítima em determinados assuntos perde totalmente o controle de sua mente, ficando em um estado praticamente irracional, aquela pode ser utilizada tanto com interesses políticos, religiosos ou por alguma empresa mal intencionada.

A ciência ainda está compreendendo esse fenômeno, contudo, já se sabe que as técnicas utilizadas visam anular a parte racional do cérebro, o córtex pré-frontal, deixando as escolhas na parte inconsciente, fazendo o indivíduo se tornar praticamente um robô pré-programado. Quando é disparada alguma informação que constitui ponto da manipulação, logo repetem frases desconexas ou pré-concebidas, como: E O PT? E O LULA?

Se você, caro leitor, é robô de alguém e não responde por suas escolhas de forma consciente, sinto informar que esse comportamento possivelmente lhe cegará, e trará consequências negativas para a sua vida.

Na história cansamos de ver o resultado causado por líderes messiânicos ou políticos que usam/utilizaram exaustivamente essas técnicas. Na Itália fascista, Benito Mussolini (1883-1945) conseguiu uma legião de fanáticos quando fez uso da história romana para incutir nos indivíduos os ideários e a grandeza dessa civilização. A Itália passava por uma grave crise econômica, a população estava oprimida, descrente da política, e sem esperança após sofrer as nefastas consequências da primeira guerra mundial, ou seja, completamente perdida e sem rumo.

Mussolini conhecido por seus discursos apoteóticos, com sua ascensão se apropriou dos meios de comunicação para alienar o povo italiano. O ditador relembrava exemplos de um passado grandioso, símbolos nacionais como a bandeira, afirmava a superioridade do seu povo e logo conseguiu implementar uma legião de fanáticos fascistas, conhecidos pela violência extrema que mobilizavam contra seus opositores. Todas as atrocidades eram justificadas por um bem maior da nação. Matavam, torturavam, fuzilavam seus compatriotas, e no mesmo dia sentavam na mesa com seus familiares como se nada tivesse acontecido, e comiam uma legítima pizza italiana. Isso nada mais é que os efeitos causados pela lavagem cerebral e o consequente fanatismo, desligando a empatia e os neurônios espelhos. (Em outra oportunidade aprofundarei sobre a história de Mussolini).

Hitler (1889-1945) também conhecia com maestria como alienar e anular a parte racional dos cidadãos alemães. A história já foi exaustivamente contada e explicada. Existe um livro chamado “A mente de Adolph Hitler”, de Walter Charles Langer, que demonstra a preocupação do Führer sobre como controlar as mentes e utilizá-las para interesses próprios. Tratava a plateia como uma figura feminina que precisava de controle, conforme é explicado e sistematizado pelo autor.

O fim resultado desse fanatismo extremo todos nós conhecemos. A aniquilação de milhões de inocentes, a derrocada total desses países e a morte degradante dos manipuladores.

No aspecto religioso também temos várias figuras que aplicaram técnicas avançadas para criarem uma áurea de divindade.

Apesar de acreditar que algumas técnicas meditativas ensinadas pelo Guru indiano Osho (1931-1990) podem ser benéficas, é fato que o poder e a ganância de certa forma o fizeram um criminoso. Osho reuniu milhares de americanos em um acampamento no Estado norte-americano do Oregon, e praticamente expropriou a riqueza de todos que entravam naquela seita. Seus liderados o consideravam a verdade na Terra, e se cegaram. No final da história perderam tudo e sofreram dezenas de ações criminais por uma enxurrada de crimes que cometeram.

Dessarte, caro leitor, existem algumas técnicas que podem lhe ajudar a não sofrer lavagem cerebral e se precaver quando isso estiver acontecendo. Proteção total não é garantida, só se isolando 100% do contato humano. Uma delas é cultivar experiências, conhecimento e sabedoria; quanto mais maduro intelectualmente estiver, menos cairá em contos da carochinha, sobre a existência de mitos, salvadores da pátria ou líderes messiânicos. Evitará o efeito manada, em seguir uma ideia fixamente estabelecida com interesses escusos de algum líder ou grupo.

Busque estimular sua criatividade e inteligência, é de conhecimento público que pessoas facilmente manipuláveis são aquelas com menor coeficiente de inteligência, é sabido também que ele não é estático, e tem sim a possibilidade de ser aprimorado e acrescido com estudo e dedicação.

Apegue-se àquilo que importa. Quando estiver sentindo que está perdendo os seus familiares, as pessoas que você ama, suas crenças e valores bons, lute em favor disso. Lembre-se que ideia ou pessoa nenhuma pode ser melhor do que aquelas pessoas que verdadeiramente lhe amam desde o seu nascimento.

Outra sugestão é ter muito cuidado ao passar por em momentos difíceis. Conforme expliquei anteriormente, países ou pessoas que passam por maus bocados pendem a ser mais suscetíveis à manipulação. Quando o ser humano passa por alguma tragédia, a tendência é procurar uma válvula de escape que pode ser muito bem para drenar essa energia, e essa válvula tem possibilidade de ser parte de algo que o fanatize e o torne um robô.

Assim sendo, encerro, com uma pergunta para a reflexão: você é fanático?

 

Nota do colunista: Indico aos meus leitores o documentário “Wild Wild Country” da Netflix, que conta a epopeia de Osho, simplesmente sensacional.

8 Comentários

  1. Maria Dalci silva disse:

    Texto perfeito,e não eu não sou fanática

  2. Charles Araújo disse:

    Impecável. Ri, e me vi no texto. Realmente, quando eu passei por uma separação, parece que eu fiquei bitolado e vi a vida diferente. Com mais radicalismo. Dr. Leandro sempre nos surpreendendo com os seus textos! Parabéns!

  3. Amanda Alves Helou disse:

    Excelente abordagem. Ainda mais em tempos de fanatismo político e religioso.

  4. Ernane Machado disse:

    Sucinto e muito bem pontuado. Impecável!
    Muito obrigado pelos textos que nos trazem reflexões tão atuais e nos remete à interrogativas sobre nós mesmos. Parabéns Dr. Leandro!

  5. Fábio Marinho disse:

    Excelente posicionamento e contextualização histórica, servindo de alerta para estes tempos exaustivos onde a ignorância tem sido “carro chefe” de grande parte da população.

  6. Luciana C. Abdala disse:

    Adorei a parte do e o PT, vi meus parentes exatamente como robô quando falam isso.. A ironia ficou excelente. Parabéns, Dr. Leandro. N é sempre q comento, mas n perco um texto.. Fico ansiosa pra abrir o site aqui na quarta.

    Luciana Castro

  7. Tania Maria Alves Helou disse:

    Excelentes esclarecimentos sobre um tema tão atual. Fanatismo em qualquer área é um horror, cega literalmente as pessoas. Nesse momento tão conturbado, de extremismo político fica um alerta para todos que fecham olhos e ouvidos ao estrondoso movimento de fanáticos bolsonaristas, pessoas capazes do maior malabarismo para justificar as tragédias que nos atormentam todos os dias desse governo da morte. Justificar até mesmo o antipatriotismo desse ser ignóbil que está presidente, ou melhor, um despresidente traidor da pátria. Parabéns pelos assuntos aqui tratados. Todos muito importantes para nos ajudar a entender melhor esse momento trevos.

  8. Tania Maria Alves Helou disse:

    *trevosos

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