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Coluna: Furando a bolha (16/06)

qua, 16 de junho de 2021 08:18

por Leandro Alves de Melo

O CASO EVANDRO (As bruxas de Guaratuba)

Como havia dito semana passada, nesse texto escreveria sobre o sistema eleitoral brasileiro. No entanto, decidi mudar a pauta, pois entendi que esse assunto do caput não poderia esperar um dia a mais.

O caso Evandro é um case de estudo feito pelo jornalista investigativo Ivan Mizanzuk, que ficou popular por meio de um podcast com aproximadamente quarenta episódios sobre o famoso caso dos anos noventa, que mexeu com o imaginário popular, pois envolvia bruxaria, tortura, crianças desaparecidas, ditador paraguaio, thriller policial, envolvimento de políticos e autoridades, ou seja, um caldeirão de situações absurdas sem fim…

O diretor, Aly Muritiba, fez uma série de 8 episódios que está na plataforma Globoplay. O grande mérito desse documentário foi a descoberta de fatos novos que podem modificar completamente o entendimento sobre esse astroso episódio de nossa Justiça.

De verdade, caro leitor, fazia tempo que eu não ficava tão impressionado com algo assim. Isso se deve a alguns motivos. O primeiro é que sou da área jurídica e conheço bem nosso sistema legal. O segundo é que, na minha visão, desde o caso dos irmãos Naves de Araguari (considerado até então a maior injustiça do Poder Judiciário), que se passou durante a ditadura do Estado Novo, a Justiça brasileira não cometia um erro tão enfadonho, grotesco, amador, temerário e todos os adjetivos possíveis para expressar perplexidade, que se perpetuou no decorrer do tempo, ainda produzindo efeitos até os dias atuais.

Todos os profissionais do direito devem escrutinar esse documentário, trata-se de uma obrigação moral, ainda que aborde de forma didática as nossas maiores mazelas, que são escancaradas na tela, até mesmo quem é negacionista uma hora terá que vê-las e encarar a dura realidade. A realidade é a de que somos falhos, nossa Justiça é, muitas vezes, parcial, e aqueles que deveriam nos proteger em alguns momentos foram/são os maiores violadores de direitos. São tantas reviravoltas e violações que é até difícil descrever.

O documentário é todo lastreado com documentos reais, vídeos, gravações, relatos de pessoas da época e dos dias atuais, fitas, ou seja, o material é imenso. Sobre a trama que se desenrola, nem mesmo Hollywood conseguiria pensar em algo tão pitoresco. Contudo, a realidade se mostrou mais alucinógena que um filme tresloucado americano.

Dessa maneira, caro leitor, convido você a assistir, especialmente todos os atores que fazem nossa Justiça: advogados, delegados de polícia, magistrados, promotores, polícia militar e civil. Não podemos permitir que um caso como esse se repita. Perceba que esse não é um fato do nosso passado, como disse anteriormente, ele ainda produz efeitos nos dias de hoje. Há pessoas que estão soltas e que são criminosas, e também pessoas que foram presas e condenadas, mas são inocentes. Temos que reestabelecer como imperativo categórico a ordem natural das coisas: punir quem se deve punir e absolver e reparar quem tiver que ser reparado.

Como colunista deste importante jornal, entendo que minha missão é reportar fatos que podem modificar a nossa vida cotidiana. Eu tenho certeza que esse caso é um desses que devem ser divulgados e assistidos pelo máximo de pessoas que pudermos atingir.

Existem crianças que estão desaparecidas ainda — e que podem estar em nossa região ou em qualquer lugar do planeta. Também há outras que foram mortas, e os pais ainda têm a esperança de encontrar.

Peço-lhe que se dê a oportunidade de ver essa narrativa. Eu tenho certeza de que entrará de um jeito e sairá de outro ao término do documentário, posto que muitas crenças e preconceitos serão desmantelados. A narrativa começa um pouco lenta, o que é comum nesse tipo de material; sendo assim, é necessária muita atenção para não perder detalhes que farão toda a diferença ao longo dos episódios. Se aceitar esse convite, peço que o divulgue também, caso ache válido. O máximo de pessoas precisa saber, não podemos permitir que algo assim volte a acontecer.

Deixo aqui neste espaço a minha solidariedade aos pais dos meninos desaparecidos e a todos que sofreram duras penas com tudo o que aconteceu em Guaratuba. Cedo ou tarde, um dia, vocês terão sua dignidade restaurada. Espero que o mais rápido possível.

 

Nota do colunista: Conversei com uma pessoa central na série, e estamos combinando uma entrevista para a coluna. Até a próxima semana!

2 Comentários

  1. Charles Araújo disse:

    Muita boa indicação. Quando eu morava no Brasil eu me lembrava desse caso. Todo dia a mídia divulgava. Bom, pelo jeito vou ter que assina a globo pra poder ver. Não faço ideia do que possa ter acontecido..

  2. Tânia Maria Alves Helou disse:

    Excelente indicação. A justiça deve ser sempre imparcial, justa e na medida certa, temos visto muita parcialidade e perseguição por parte de quem deveria ser guardião da Justiça;

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