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Coluna: Direito e Justiça (10/03)

qui, 10 de março de 2022 09:12

‘Direito e Justiça:

Quanto vale o seu talento?

Um navio estava atracado há dias, por conta de um grave defeito em suas caldeiras. Vários especialistas já tinham sido chamados, mas nenhum deles conseguiu encontrar o problema. Até que o capitão mandou vir, de uma cidade vizinha, um engenheiro muito conceituado pela sua competência.

O engenheiro chegou e, após escutar a descrição feita pelo capitão quanto aos problemas, fez algumas poucas perguntas e dirigiu-se à sala de máquinas. Olhou para o labirinto de tubos retorcidos, escutou o ruído surdo das caldeiras e o silvo do vapor que escapava, durante alguns instantes. Com as mãos apalpou alguns dos tubos. Depois, cantarolando suavemente, só para si, procurou em seu avental alguma coisa e tirou de lá um pequeno martelo, com o qual bateu apenas uma vez numa válvula vermelha brilhante.

Imediatamente, o sistema inteiro começou a trabalhar com perfeição, e o engenheiro retornou à sua cidade.

Quando o dono do navio recebeu uma conta de R$ 1.000,00, queixou-se de que o engenheiro só havia ficado na sala de máquinas durante dez minutos e tinha dado apenas uma “marteladinha” numa válvula. Pediu então uma conta discriminada dos serviços e o engenheiro assim o fez:

• Conserto com o martelo — $10,00;
• Saber onde martelar — $990,00.

“Valorizar nossos talentos é o primeiro passo para assegurar a
autoestima e o orgulho de nós mesmos”.

FONTE: Parábolas Eternas – LEGRAND,
Solar Editora, – Belo Horizonte – MG, págs. 52/53.

Comentário Livre:

Começarei recorrendo e valendo-me da velha sabedoria popular, quando diz:

– Cada macaco no seu galho.
– Não vá o alfaiate além das suas agulhas.
– O que foi combinado não é caro.
– A virtude está no meio (das coisas).
– A barriga não dói uma vez só.
– Pau que dá em Chico dá em Francisco.

Pois, bem! Assim também deve ser o profissional, especialista, perito ou experto em todo e qualquer ramo da multifacetada atividade humana. Ninguém sabe e nem pode saber tudo sobre todos os assuntos e ao mesmo tempo, mas é perfeitamente possível saber tudo ou quase tudo disso ou daquilo especificamente considerado. Também é possível aumentar ou acrescentar experiências e conhecimentos pessoais e técnicos ao longo dos anos de uma vida laboriosa e útil.

O bom profissional, ou seja, aquele que se preparou adequadamente para o desempenho condizente do seu ofício, aquele que estuda, que aprende, que se recicla e que evolui continuamente, este e somente este, jamais terá preocupações com a falta de serviço ou de oportunidade. Muito pelo contrário! A demanda por seus préstimos será muito intensa, sempre maior e mais urgente do que as suas disponibilidades diárias.

Aqui, eu não estou a falar tão somente – não mesmo — de doutores e de possuidores de canudos ou de diplomas de cursos superiores e muito menos dos useiros e vezeiros sabichões e charlatões, ou daqueles que vivem do engodo e do estelionato. Falo especialmente das pessoas capazes e capacitadas mínima e decentemente para o desempenho cotidiano de tarefas de cunho profissional especializado, técnico ou científico, com ou sem os títulos, mas imprescindíveis ao nosso dia-a-dia. Infelizmente, nem sempre – aliás, quase nunca – tais profissionais são minimamente valorizados.

Portanto, falo diretamente dos pedreiros, encanadores, eletricistas, marceneiros, carpinteiros, funileiros, serralheiros, mecânicos e de tantos outros profissionais com os quais mantemos contato pessoal constante e habitual e de cuja importância crucial desdenhamos ou simplesmente ignoramos e apequenamos.

Quantos desastres já ocorreram ou agravaram-se nas nossas casas, causados por pseudoprofissionais incompetentes, mas baratinhos em seus preços, aos quais entregamos o conserto de uma instalação hidráulica ou elétrica, a feitura de móveis planejados, enfim, de tantas coisas comuns no nosso quotidiano? A muitos, com certeza. Quase sempre o barato acabará saindo caro. Mas, aí, já é tarde!

Tudo isso porque sacrificamos em prol do menor preço a qualidade e a excelência do prestador de serviço, deixando de buscar boas referências, aprovando orçamentos mais em conta, que necessariamente e nem sempre são aqueles mais confiáveis.

Assim sendo guardada a proporcionalidade do serviço em cada caso concreto, tem razão o engenheiro, como teriam o encanador ou o eletricista, quando cada um deles apresentou os seus honorários: $1.000,00, sendo $10,00 pela marteladinha e $990,00 por saber por que, quanto, quando, onde e como martelar. Quantos casos análogos já passaram por nós?

Consertos em automóveis, em aparelhos eletrodomésticos, em instalações domésticas, coisas assim, envolvendo mão-de-obra direta e pessoal, exigem conhecimento específico apurado, atualizado e muita responsabilidade. Tampouco posso deixar de mencionar a ética e a honestidade do prestador de serviço.

Não se cobra apenas porque o profissional descobriu e soprou a poeira, ou a sujeira, das velas, ou porque identificou e substituiu a pequena peça defeituosa, coisas desse tipo. Ou por serviços aparentemente fáceis e rápidos. Cobra-se e vale pagar porque o profissional, reitero e enfatizo, sabia e soube o que devia fazer.

Jamais deixei de valorizar o bom profissional. Tanto quanto me seja possível, conheço antes o serviço a ser feito e o preço a ser cobrado, para que no fim não venha a ser surpreendido por um valor considerado exorbitante e incondizente, fato que já me ocorreu por minha própria falha. Se o valor foi acertado antes, pague e não discuta, pois, o combinado não pode ser achado caro.

Assim como o bom profissional não deve exorbitar o valor de um serviço, até mesmo para que conserve e amplie sua clientela, o tomador não tem o direito unilateral de desvalorizar ou de amesquinhar o seu trabalho. Recorro mais uma vez ao que diz o povo: a virtude está no meio. Acrescente-se ao preço uma gorjeta boa e sadia, que servirá de incentivo a um pronto e eventual futuro atendimento.

Para uma lembrança de ambos os lados: a barriga não dói uma vez só…!

Ah, por ser relevante, devo ainda aproveitar o ensejo e lembrar aos prestadores de serviço o seguinte:

– Um serviço bem feito será sempre a melhor propaganda do profissional, assim como um serviço mal realizado, ou uma cobrança desonesta e injusta, será igualmente a pior apresentação do profissional.

É claro que sim, pois pau que dá em Chico dá em Francisco…!

▪ Rogério Fernal .`.

 

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