Da Redação

Denise foi a primeira dos dois mil voluntários brasileiros da área da saúde a receber a dose de testagem.

Denise Caluta Abranches é coordenadora de Odontologia do Hospital de São Paulo. A araguarina de 47 anos é a primeira voluntária do grupo de testes da vacina contra a Covid-19 a receber a dose desenvolvida pela Universidade de Oxford, que está na terceira e última fase de desenvolvimento.

Ela faz parte do grupo de dois mil voluntários entre 18 e 55 anos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro que estão recebendo doses do imunizante em fase de testagem. Outros nove mil profissionais de saúde entre médicos, paramédicos e enfermeiros também serão voluntários de um estudo idealizado entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês, Sinovac.

Estas são duas das 136 vacinas em fase de testes em todo o mundo, dais quais, 12 estão em estudos clínicos. Destas, três estão na terceira e mais avançada fase. A dose provisória, a qual Denise se submeteu, antes de ser aplicada em humanos passou por alterações laboratoriais, tornando-a incapaz de se reproduzir. O elemento foi transformado em vacina após ser inserido o fragmento de uma proteína do novo coronavírus. Sendo assim, atua como antígeno e faz o sistema imune se preparar para a chegada do vírus verdadeiro.

Para a profissional, o contato diário com as vítimas da Covid-19 foi um forte impulso para que ela se voluntariasse. “Não me deu medo, porque já estou no meio do caos mesmo. Vivo diariamente no meio dos pacientes de alta complexidade, entubados na UTI. Eu já poderia ter sido contaminada em algum momento, mas não fui por casa da alta disciplina. Há um tempo, o medo de contaminação era imenso. É um protocolo Chernobyl, mas agora estou muito mais tranquila”, revelou Denise.

O procedimento de Denise, como voluntária, teve início no dia 20 de junho, quando realizou a triagem com um médico no intuito de entender como funcionaria o estudo. Na ocasião, também foram realizados exames de sorologia para comprovar que ela ainda

Denise deverá comparecer algumas vezes ao Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais

não havia desenvolvido anticorpos contra a Covid-19 e, portanto, não tinha sido contaminada pela doença anteriormente.

A participação só foi permitida três dias após constatar o diagnóstico negativo para a presença do vírus. O estudo dividiu dois grupos, de modo que um recebeu a vacina teste e outro um imunizante contra a meningite. A seleção aleatória teve o objetivo de observar a resposta imunológica dos voluntários de forma imparcial. Agora, Denise precisa comparecer algumas vezes ao Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) da Unifesp, para verificar as respostas imunológicas do sistema dela.

Denise desabafa que há meses não tem contato direto com a família, em especial a mãe, que também atuou na área da saúde como enfermeira por 32 anos. “Tem 4 meses que não a vejo, mas vivi minha vida inteira com minha mãe dentro de um hospital. Minha família sempre teve uma consciência social imensa e muito alinhada comigo.”  A mãe de Denise, Dona Vilma, residente em Araguari, atuou como enfermeira há muitos anos nos hospitais da cidade. De acordo com Denise, o apoio da família, para a testagem, também foi incondicional.