Um colégio chamado Museu
qui, 4 de setembro de 2014 00:21
Quem frequentou as aulas de alemão do francês Gunther Brunner, de desenho de Eurico Silva, de matemática de Leônidas de Castro Serra, de inglês de Miron de Menezes, de canto da dona Alfredina, entre tantos outros mestres que deixaram saudade em Uberlândia, sabe que eles têm algo em comum. Fizeram parte do quadro extenso de funcionários que escreveram a história da Escola Estadual de Uberlândia, o popular Museu.
O prédio bonito, construído no início da década de 1920 e, que chama a atenção de quem passa hoje, próximo à praça Adolfo Fonseca, chamada na época de praça Dom Pedro II, no centro da cidade, ainda está em atividade e abriga turmas do ensinos fundamental e médio.
Mas, nem sempre foi assim. O Museu, apelidado assim porque abrigava uma sala com antiguidades e por ser um dos mais antigos do Estado, foi criado em 1915 com a instalação do Gymnasio de Uberabinha, instituição particular com 34 alunos que funcionava de forma provisória em uma casa alugada, sob a direção de Antônio Luiz da Silveira. A escola preparava estudantes de Uberabinha para prestar exames educacionais no Ginásio de Ribeirão Preto, São Paulo. Para ter um diploma de ginásio, era preciso migrar de Uberabinha.
O novo prédio
Em 1919, pessoas de grande influência política e econômica da cidade decidiram que era necessário um prédio novo, mais comprometido com a arquitetura moderma e os ideais de progresso. Foi quando criaram a Sociedade Anônima Progresso de Uberabinha. Os primeiros encontros foram no Cine Theatro São Pedro.
A primeira coisa que fizeram foi comprar um terreno que atendesse a diversas condições. Tinha de estar numa praça, na zona urbana, sem vizinhança, propriedades arborizadas em torno, terreno sem acidentes bruscos, sem perigo de atropelamentos, as ruas vizinhas de pouco movimento, sem fábricas por perto, sem barulho.
A seguir, o grupo, encabeçado pelo italiano Carmo Giffoni, pai do ex-prefeito e também ex-aluno do Museu, Vasco Giffoni, encomendou por um conto de réis, em São Paulo, um projeto para o arquiteto J.Sachetti. Quando chegou a Uberabinha, o trabalho ficou exposto na vitrine da Casa Americana. A planta definitiva continha duas partes, uma masculina e outra feminina, interligadas, mas independentes, muitas salas, dormitórios e entradas por ruas diferentes.
Conseguiram isenção de tributos municipais por 15 anos, redução de fretes pela Mogiana, exploração grátis da pedreira da Câmara Municipal. Com a ajuda de doações, o prédio começou a ser construído. Com a falta de mão de obra foram contratadas até crianças para a obra. Com a falta de materiais na cidade, pedras e tijolos tiveram que ser comprados fora. A Sociedade ganhou do Estado 150 carteiras e, em 1921, a Câmara Municipal aprovou um auxílio de 11 contos de réis, com o prazo de um ano para pagar, em Notas Promissórias que podiam ser descontadas na praça.
O último recurso levantado foi um empréstimo junto ao Banco de Crédito Real. Finalmente, em agosto de 1921, preparado para oferecer os cursos primário e secundário, o prédio ficou pronto. Custou 235$796 mil réis. Nessa época, Uberabinha tinha 22.956 habitantes, com 14.073 analfabetos e 4.390 crianças em idade escolar, segundo o recenseamento de 1920.
O colégio, ainda particular e sob a direção de Antonio Luiz da Silveira, passou a fazer propagandas nos jornais. Silveira fazia também anúncios da Escola de Comércio, anexa ao colégio, oferecendo cursos de contabilidade, datilografia, taquigrafia, direito comercial, entre outros.
Entre 1926 e 1927, o colégio foi administrado por José Avelino e, até 1928, por José Ignácio de Souza. A sucessão de diretores se deu pelas dificuldades financeiras. Em 1929, o prédio foi doado ao Estado e passou a se chamar Gymnasio Minneiro de Uberabinha, com capacidade para oferecer internato a 120 alunos, além dos alunos externos. Durante a revolução de 1930, o prédio foi transformado em quartel general das Forças Revolucionárias. Uberlândia era um ponto estratégico de irradiação e, por isso, o vigésimo sexto batalhão de Belém montou acampamento na cidade. Nesse período não houve aula, mas os professores reuniam os alunos para contar os fatos que estavam acontecendo no país e no mundo.
Casa e escola
O professor Osvaldo Vieira Gonçalves, era farmacéutico, formado em Jaboticabal, São Paulo, mas tinha uma verdadeira paixão pela educação. Em meados de 1930, montou em Campina Verde, Minas Gerais, uma escola que viria a se tornar modelo em todo o Estado. Foi convidado para ir a Belo Horizonte, como técnico de ensino e foi diretor da Faculdade de Odontologia.
Em 1942 veio para Uberlândia, tomando posse como diretor do Gymnasio Mineiro de Educação. Ele realizou uma moralização interna. O colégio não gozava de boa fama na cidade. Os ex-diretores, inclusive, aconselhavam os pais a não matricularem as filhas na instituição. Com a administração de Osvaldo a situação melhorou. Além dos cursos Ginasial e Científico ele criou o Clássico, voltado para área de Humanas, considerado muito moderno na época. E o Colégio se tornou também a casa do diretor. Sua família ocupava o segundo andar do prédio, onde ele criou seus quatro filhos.
Espaço social e alunos ilustres
O colégio era ainda um espaço social, onde a juventude se reunia, mesmo quando não havia aula, para uma partida de basquete, vôlei, leituras na biblioteca, celebrações cívicas, declamações de poesia, corais e para danças no final de semana, nas famosas brincadeiras. Quando chegava a época de São João, haviam os ensaios de quadrilha. Seu Luizote de Freitas, já bem velhinho, marcava a quadrilha francesa. Haviam as apresentações de desenhos e de trabalhos manuais. Quando foi declarado o fim da Segunda Guerra Mundial, em 7 de maio de 1945, Osvaldo interrompeu o aniversário de uma de suas filhas, que estava comemorando no segundo andar do prédio, e desceu para dar a notícia nas salas. No final das aulas, houve toques de corneta e um desfile de comemoração, com direito a discurso do diretor, na marquise do Cine Theatro Uberlândia.
Vários personagens ilustres do Brasil no século XX passaram pelo Museu. O ex-governador Rondon Pacheco, o cardiologista e ex-ministro Adib Jatene, o ator Mauro Mendonça e o, compositor e cantor, Moacyr Franco, foram alunos do colégio. Moacyr fazia parte do conjunto musical Demônios do CÉU, uma alusão à sigla Colégio Estadual de Uberlândia.
1 Comentário
Deixe seu comentário:
Últimas Notícias
- 53º BPM tem nova mudança de comando e Major Sobreira está novamente à frente da unidade ter, 10 de setembro de 2024
- Fase de grupos da Segunda Taça das Favelas do Triângulo acontece amanhã sex, 6 de setembro de 2024
- Incêndio é provocado dentro do Aeroporto em Araguari sex, 6 de setembro de 2024
- Ações positivas seguem sendo realizadas pela PRF na BR-050 sex, 6 de setembro de 2024
- Polícia Militar realiza operação contra o tráfico de drogas e prevenção de homicídios em Araguari sex, 6 de setembro de 2024
- Coluna: Da Redação (05/09) qui, 5 de setembro de 2024
- Coluna: Direito e Justiça (05/09) qui, 5 de setembro de 2024
- Prefeitura conclui atendimento de endoscopias e reforça necessidade de atualização cadastral qui, 5 de setembro de 2024
- Prefeitura e Batalhão Ferroviário realizam desfile cívico-militar em comemoração ao feriado da Independência qui, 5 de setembro de 2024
- Eleitores com transferência temporária podem verificar local de votação no e-Título qui, 5 de setembro de 2024
> > Veja mais notícias...
Alguem ai em Ub erlancia pode me informar a respeito de Carmo Giffoni, italiano que ajudou a contruir um predio importante na cidade e que era pai do Prefeito na epoca.. Preciso de dados sobre Nascimento nomeo dos pais e data do falecimento. e nonme completo.