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Nós e as baratas voadoras, por Alzira Riquieri

qui, 10 de julho de 2014 00:00

ABERTURA DEBAIXO DO PE DE LIMAO

Alzira Riquieri

Ali no bairro Lídice, mais precisamente no cruzamento da av. Johann Carneiro com a Ipiranga, tem um bueiro que fede a azedo.  E ali aconteceu a nossa história, mais que verdadeira.

Era uma noite muito quente de novembro, daquelas que Uberlândia conhece há poucos anos (depois que o Triângulo Mineiro se encheu de represas). Lá pelas sete da noite, vinham descendo duas meninas, dos seus quinze anos, as duas de vestido de alças, desses de fim de tarde. A nossa espectadora da sacada teve a atenção voltada pra as  risadas das moças.

Exatamente na esquina, surge um barulho: vvvuuuuuuuuu…. que saiu do bueiro e cobriu as meninas, saias acima, peitos, cabelos.  Uma revoada de baratas voadoras, que enlouquecidas pelo calor, levantaram-se do buraco e deram com as asa nas jovens, que apavoradas, logo entenderam a situação. Entre pulos e gritos, primeiramente tentaram se libertar do enxame, o que se revelou inútil. Depois dispararam a correr rua acima e se debater…

O que fez a moça da sacada. Mais que depressa, fechou a janela: “Deus que me livre de barata voadora! Se fosse um assassino, um ladrão, um estuprador, corria pra ajudar, mas barata voadora…!”

Há cinco mil espécies de baratas espalhadas por toda parte. Só no Brasil, mil espécies catalogadas, mas a que apavora mesmo é a Periplaneta Americana ou barata americana (que na verdade, veio da África). Os cientistas falam que elas voaram até em cima de dinossauros, fato comprovado por fósseis de baratas de 200 milhões de anos.

As baratas vivem em média cinco meses e podem procriar até oitocentas baratinhas. Adoram lugares escuros, como nossas gavetas, armários e esgotos, mas o que elas gostam mesmo é de comida. Comem praticamente de tudo, até cola, fezes, papel, couro.

Apesar de não terem dentes, elas mordem com as mandíbulas e podem literalmente roer nossos dedos, unhas e palmas das mãos. Como gostam muito de leite, é comum lamberem o leite seco da boca de bebês ou restos de comida de especialmente quem dormiu sem escovar os dentes. Mas, o alimento preferido é cerveja azeda. Aquele restinho de cerveja em copo de fim de festa é banquete pra elas.

A barata é feroz no quesito sobrevivência. Além de conseguir ficar até um mês sem comer nada e semanas sem ingerir água, o inseto ainda é capaz de sobreviver por até outro mês sem a cabeça. Se uma pata da barata for arrancada, ela poderá criar outra, em poucos dias. Mas calma, é mito que as baratas sobrevivam a uma bomba atômica como a que destruiu Hiroshima.

As baratas não precisam dormir. Bingo pra elas. Ficam quietas de dia, pra ganhar a casa à noite. Agora, se tem barata correndo pela casa de dia… cuidado! Sua casa está infestada delas.

Para as mulheres, o medo de barata é praticamente unanimidade. A exceção é das índias e a também a minha avó Belina. A vovó matava as baratas moradoras do armário da cozinha, com as unhas, simplesmente arrancando a cabeça e após lavava as mãos e ia pra lida de boa.

Para os psicólogos, o medo das mulheres existe especialmente com relação às baratas dentro de casa, um espaço por definição feminino, No mato ninguém tem medo de barata. Agora, se o seu medo é paralisante, os únicos lugares do mundo, em que ninguém nunca viu uma, voadora ou não, são as calotas polares. Lá é muito, muito frio, mas como tem gosto pra tudo, vale a dica.

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