Na sibipiruna ninguém põe a mão
sex, 1 de agosto de 2014 00:02
Avenida João Pinheiro, esquina de rua Teixeira Santana, parte leste da praça Adolfo Fonseca. Em um calçadão que invade a avenida, uma sibipiruna de quase cem anos traz sombra e frescor para o bar de mesmo nome, rodeada por um banco de cimento. Pouca gente que passa pelo local, conhece sua história.
No Ano da Graça de Nosso Senhor de 1918, o comerciante Oscar Miranda foi ao Horto Municipal, que ficava na rua do Pasto, atual rua XV de Novembro pedir uma muda para plantar na frente de seu estabelecimento comercial. O jardineiro, José Moraes, um espanhol de fala grossa mas de gestos cuidadosos com as plantas, deu-lhe um saquinho com uma muda de sibipiruna. Oscar plantou a sibipiruna no meio da avenida João Pinheiro, com o objetivo de ter uma sombra à frente de seu estabelecimento. Pôs uma cerca protetora em volta da delicada muda e regava-a todo dia.
Naquele mesmo local havia sido o cartório de José Pirahu que lhe vendeu o imóvel. Miranda alargou-o, puxou-o para a frente, abriu portas para a rua, empilhou mercadorias e fez as exposições. Mas o sol da tarde castigava suas mercadorias e encalorava a loja.
A delicada muda cresceu e começou a oferecer o refresco da sua sombra. Até a Tereza se abrigou nela. Tereza era o apelido que os frequentadores do Praia Club puseram no ônibus velho que a diretoria adquiriu para transportar os associados. A rapaziada ficava lá, defronte ao Oscar Miranda, esperando a Tereza.
O tempo passou. A sibipiruna cresceu, ganhou a moléstia de uma broca que quase a derrubou, superou a crise e chegou, frondosa, aos anos 1960, quando o prefeito Renato de Freitas resolveu asfaltar a avenida João Pinheiro. Era uma avenida romantica, de calçamento de pedra, com canteiros centrais, onde estavam fincados postes com luminárias duplas, imitando velhos lampiões. Dos canteiros, preservaram apenas o trecho entre a rua Teixeira Santana e a rua Bernardo Guimarães, destruindo o restante. Os postes também sumiram. Tudo foi derrubado. Debaixo do calçamento de pedras, a terra era arenosa e não servia para segurar o asfalto. Renato, então, mandou trocar o sub-solo. A avenida ficou intransitável e suja por muito tempo.
Em uma emsolarada manhã de quarta-feira, chegou a hora, e a vez, de nossa personagem ir ao chão, em nome do progresso. Os peões da empreiteira, armados de machados, rodearam a sibipiruna para jogá-la ao solo. Foi quando um senhor idoso, indignado com a agressão que a sua árvore sofreria, pulou para fora de casa, armado de carabina, apontou para a peãozada dizendo:
– Aquele que tocar na árvore, eu derrubo ele!
Alguns dizem que ele chegou a dar um tiro pra cima. Houve uma gritaria, gente se escondendo aqui e ali, gente se deitando no chão, gente entrando espavorida no Grande Hotel Central, que ficava do outro lado da avenida, na esquina da praça. Os hóspedes, assustados, correram para o alpendre e para as janelas, tentando ver o que sucedia. foram testemunhas oculares, o Tião, garçom, o porteiro Chico, José Adauto de Melo, estudante de direito e o Ernani Cunha, funcionário do Banco do Brasil. Os estudantes do Colégio Estadual foram para as janelas, e viram, do outro lado da praça, o indignado Oscar Miranda, de carabina apontada para os assustados portadores de machados, garantindo a sobrevivência de sua amiga.
Antes que a polícia chegasse, uma vizinha, dona Geny Custódio, esposa do velho Atílio Spini, ligou para o Renato de Freitas dizendo-lhe que estava muito triste.
– Por quê, dona Geny?
– Porque você mandou cortar a sibipiruna da avenida João Pinheiro, que o seu Oscar plantou com muito carinho, faz cinquenta anos!
Renato tranquilizou-a.
– A senhora pode ficar sossegada. Vou mandar deixar a sibipiruna lá, no lugarzinho dela.
A prefeitura ficava onde hoje está o Museu Municipal, a um quarteirão da ocorrência. Renato correu lá e mandou que os peões retornassem à obra e se esquecessem da sibipiruna. Depois, mandou que se enrolasse uma cinta metálica em sua volta, dizendo que ela era patrimônio da cidade.
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Coimbra, leio sempre com grande empolgacao todos seus artigos da historia de Uberlandia. Meu sonho e’ ver essa maravilhosa cidade Capital do Estado do Triangulo. Eu morava no G.H.Central na época, e no’s 4 nos dispomos a ser testemunhas, justo pra defender o seu Oscar Miranda. Ele mandou parar, não deram bola, fizeram chacota, ele ai deu um tiro pra cima e ficou criado o impasse, uns foram chamar a policia, outros mais inteligentes buscaram o Renato. Ele chegou em minutos. Desculpe, mas voce esqueceu de contar o que o grande cidadão Renato de Freitas, (um dos que mudaram Uberlandia de cidade para metrópole, foram tantos, não e’ atoa que Udi e’ o que e’) fez em seguida, logo que chegou ao local: um breve discurso, depois abraçou o seu Oscar e mandou preservar a sibipiruna e inclusive colocou um cinto metálico em volta do tronco onde dizia algo como `patrimônio histórico municipal`(votada pelos vereadores) ou algo assim. Essa cinta não se encontra la’ mais. Quando passo ali não tem como não lembrar do Tiao garcon, do Chico porteiro que depois teve seu hotel Triangulo ali ao lado do Uberlandia Clube, do Z’e Adauto de Patos(nos encontramos ha’ uns 5 anos, ele estava em boa saúde, todo mundo o conhece em Patos) e do Renato e do seu Oscar. Deus os tenha Inte’, Ernani.
Coimbra, desculpe, eu me entusiasmei e abandonei a leitura antes do fim. So’ agora vi. Voce narrou tudo direitinho, so’ vale acrescentar que foi votada lei na Camara. Um abracao. Desculpe. Ernani
Bela estória ! APENAS NÃO CONSIGO IDENTIFICAR QUE LOCAL É A PRIMEIRA FOTO. PODERIA ME ESCLARECER ? Esquina da Joao Pinheiro com qual rua ? O que tem nesta esquina hoje ? Te agradeço !