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Meio Desligado – Gay e de direita? Sim, e daí?

qua, 20 de julho de 2016 05:50

meio desligado

Existe no Brasil um grande tabu. Sim. E ele está ligado aos gays. Mas não é a homossexualidade em si. É o fato de que gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis podem ser de direita. Mas tem muita gente que acha um “absurdo” um pobre de direita ou um negro que não concorde com o sistema de cotas. A primeira vista essas afirmações costumam enganar os desavisados. Mas será que é contraditório um gay não se identificar com a esquerda?

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Nós brasileiros estamos um pouco atrasados nessa discussão. Em parte, devido ao regime militar. A repressão e a perda de direitos naturalmente acabou fortalecendo os movimentos de esquerda, que se apresentavam como uma oposição ao modelo vigente. Além disso, naquela época, não havia espaço para o debate devido à mentalidade da população. Agora, é a própria esquerda que despreza essa possibilidade.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, o conservadorismo LGBT existe desde os anos 70. Atualmente, um ícone que tem se destacado principalmente pela crítica ao feminismo é o jornalista grego Milo Yiannopoulos.

Milo Yiannopoulos

Milo Yiannopoulos

 

Seus vídeos com tiradas sarcásticas estão bombando na internet. Mas o jovem não faz sucesso apenas por ser “fabuloso”, como ele mesmo brinca, e engraçado. Ele preza pela lógica e os bons argumentos, por isso sempre vai para debates muito bem preparado. Atualmente, tem apoiado a campanha de Trump para a presidência dos Estados Unidos.

Por aqui, destaco três nomes Karol Eller é apoiadora incondicional de Jair Bolsonaro e ostenta belas 260 mil curtidas em sua página no Facebook, com vídeos que chegam a atingir mais de 200 mil visualizações.

Karol Eller

Karol Eller

 

Na ativa desde 2014, Smith Hays também apoia a candidatura do deputado à presidência e mira na defesa à família, gerando polêmica em sua página, acompanhada por cerca de 40 mil pessoas.

Smith Hays

Smith Hays

 

Não poderia deixar de mencionar Fernando Holiday, um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre – MBL, que tem feito palestras e se envolvido ativamente com política assumindo uma postura liberal. Como ele mesmo diz, negro, pobre, gay e nem por isso de esquerda.

Fernando Holiday

Fernando Holiday

 

O gay sofre preconceito, passa por constrangimentos. Sim, isso acontece, e muito. A procura do apoio que muitas vezes não encontra em casa, busca esse suporte em movimentos LGBT. No entanto, o que levou os jovens acima mencionados a adotar este posicionamento foi justamente o fato de não se identificarem com as bandeiras adotadas por esses movimentos e porque elas estão atreladas quase que exclusivamente à esquerda. Essa simbiose entre esquerda e movimentos de minorias é bem recente. A história mostra que em países comunistas e socialistas, gays eram e continuam sendo perseguidos e mortos.

De fato, a direita não assume uma posição específica de defesa aos gays, como também não tem um trabalho específico de defesa aos negros, mulheres ou qualquer outro grupo tido como minoria. Infelizmente, isso é distorcido o bastante para criar o estigma de que a direita é machista, racista e homofóbica. O conservadorismo é muito mais amplo do que as discussões sobre liberdades individuais, pois abrange também economia, política e noção de Estado.

A questão é que a orientação sexual do indivíduo não determina sua ideologia política. Achar que gays tem que ser necessariamente de esquerda porque “a direita é preconceituosa”: isso sim é preconceito.

5 Comentários

  1. Alguém disse:

    É hora da comunidade LGBT perder o complexo de inferioridade e se articular politicamente. A obsessão por não parecer gay está os separando e custando inúmeras vidas. A urna eletrônica não vai te chamar de viado, mas muitos candidatos eleitos em 2016 irão. Eles os usarão usarão como bala de canhão e cortina de fumaça, citando a “destruição da família tradicional”, para esconder crimes e paralisar demandas sérias. Essa é a cara da direita, sem capacidade de empatia, pronta a se colocar acima do bem e do mal, em atitude “cristã” de apontar qual ser humano é melhor ou pior.

    Nada é mais triste que um gay de Direita, que só serve para dar voz aos seus algozes. S

    A Direita é contra a liberdade.
    Ser Gay de Direita é válido? claro. Entretanto, é triste, muito triste…

  2. Talita Cristina Gonçalves disse:

    Boa tarde Alguém.

    acho que já vi esse texto na internet. tudo bem, não tem problema.

    não acho que gays destroem a família tradicional, até porque todo gay tem família e toda família tem gay, então não sei qual família tradicional é essa e nem porque tá sendo destruída. Mas tudo bem. Também não sei qual é o problema da pessoa ter pai, mãe e irmão. Não é que isso é um modelo, um ideal e as outras não servem. Só que a vida fica mais difícil sem o apoio dos pais, mas muita gente tem avós, tios e outras pessoas carinhosas. Divaguei aqui porque esse papo de família tradicional é mal interpretado, no meu ponto de vista, tanto pela esquerda quanto pela direita.

    Me desculpe, mas essa não é a cara da direita. É a cara que você acha que a direita tem. E eu tentei mostrar isso na coluna. E tampouco é triste, porque como disse na coluna, muitos gays não se identificam com as bandeiras do movimento LGBT e nem com as políticas de esquerda na economia e na política. Isso vai além do espectro das liberdades individuais. Mas isso eu também expliquei na coluna.

    Acho triste a pessoa ser de esquerda. Independente do sexo que ela tenha.
    Abraços!

  3. Gabriel disse:

    Talita, estou impressionado com a lucidez, isenção e coragem demonstrados em seu texto. É difícil ler artigos como este, hoje, em decorrência do apego da mídia marrom às ideologias radicais da esquerda.
    Hodiernamente, infelizmente, pronunciar-se como homossexual e adepto à corrente mais à direita do espectro político é visto, como bem salientou o “Alguém”, algo triste.
    Porém, esse mesmo “Alguém” se esquece que as liberdades individuais não nasceram nos países de esquerda, notabilizados por ditaduras sanguinolentas, mas evidenciados em países democráticos e, não raras vezes, de direita, como a Inglaterra e os Estados Unidos da América.
    Como você vez questão de mencionar, ser homossexual não impede o indivíduo de ser conservador, porque esta posição vai além da defesa de liberdades individuais, de maneira que suas bases são sustentadas, também, na liberdade econômica e discussão política.
    Muitos homossexuais – entre os quais, eu – não se veem representados pelos movimentos ativistas, como o LGBTTT…, porque não visam a busca de direitos – que direitos?, se todos os direitos já nos estão assegurados pela Magna Carta -, mas o confronto direto com a sociedade, em total descompasso com a discussão lúcida, tranquila e prudente que deveria nortear as ações desses grupos.
    Sou feliz por ser cristão; por defender um estado mínimo; e por defender, sem ressalvas, a instituição da família.
    Felizmente, sou homossexual e de direita.

  4. Alguem disse:

    Boa tarde Talita e Gabriel.

    Entendi a opinião de vocês. Entendo que muitos homossexuais não se identificam com a bandeira LGBT.
    Penso que o Brasil vive um problema moral onde a corrupção é apenas um sintoma. Minha preocupação é que uma grande parte da sociedade conservadora mistura um pensamento “contra” a corrupção colocando-se oposição aos ideais de esquerda e jogando muitas conquistas sociais como a luta do reconhecimento dos direitos humanos de homossexuais dentro de um mesmo balaio.

    Por exemplo dizem assim: “- os esquerdistas e comunistas querem acabar com a família brasileira, acabar com os valores, etc etc etc”. Essa linha de pensamento é defendida também por alguns parlamentas do PSC e afins.

    Mais uma vez reforço, temos liberdade de escolher qualquer linha política. Mas tenho medo de que o não fortalecimento dos cidadãos homossexuais possa dar brecha a uma minoria conservadora barrar avanços ou pior recuar as políticas como o Estatuto da família que trouxe no novo texto aprovado que família é composta somente por um homem e uma mulher, projeto esse de um deputado evangélico.

    Peço desculpas se pareci rude. Um grande abraço

  5. Talita Cristina Gonçalves disse:

    Boa tarde Gabriel,

    Agradeço muito seu comentário e fico feliz que tenha gostado da coluna. Estamos numa época em que precisamos urgentemente romper com todos os paradigmas que foram criados em torno da direita.

    Alguém, também agradeço seu comentário. É isso que me dá prazer ao escrever a coluna: a possibilidade de fazer com que os leitores reflitam, discordem, comentem. Outra coisa que gosto de frisar é a pluralidade da Gazeta do Triângulo. Não raro são publicados artigos de opinião com um viés completamente oposto ao meu.

    Então Alguém, existe sim uma direita radical, mas ela não representa a direita como um todo, na amplitude das discussões econômicas e políticas, como explicou o Gabriel.

    Essa questão da esquerda querer acabar com a família infelizmente é um fato nos escritos da Marx. Veja bem, não estou dizendo que todas as pessoas de esquerda acreditam nisso, mas que isso é algo que foi exposto teoricamente. No final da vida, um de seus trabalhos era dedicado a mostrar que a luta de classes começa nas relações entre homem e mulher. Levando em conta as teorias marxistas, podemos perceber que a família é sim um problema pelo menos por duas razões: a primeira é que ela é uma instituição que está acima do Estado na vida das pessoas. No livro 1989, isso fica bem claro quando o vizinho do Winston é denunciado pelo próprio filho à Policia, por desrespeitar o Grande Irmão.

    A outra razão é que na família, os bens são passados de forma hereditária, então é possível não só manter como aumentar riquezas de geração a geração, outra coisa que também não é bem vinda no socialismo.

    Você não acha que quanto mais gays forem de direita, mais fácil seria que a direita passasse a olhar melhor para estas questões?

    Um abraço, você não foi rude.

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