Ficha Técnica – Gol contra da alma
sex, 23 de fevereiro de 2018 05:12A intolerância é um vírus e o futebol é seu principal hospedeiro. Reconheço a tese de Saldanha – o esporte pertence à cultura popular. Talvez por isso, manifesta a estupidez atual. Propina, milícia, corrupção. O presidente convoca as Forças Armadas. O povo desconvoca o presidente. Na CBF, se escondem sob as asas da Seleção. Pátria órfã de chuteiras – diria Nelson Rodrigues. O inescrupuloso banaliza, o radicalismo impera, e as divergências entram em vias de fato. O protagonista agora é vilão.
Passaram-se quatro dias e tudo aquilo que aconteceu no último fim de semana se dissipa na memória de nossas meras mentes mortais. No domingo de clássicos estaduais, truculência. O clássico invadia os acréscimos no Campeonato Sul-Mato-Grossense, quando Jeferson Reis, ex-Audax e atual Operário, cantou de lutador de MMA ao espancar o gandula Tadeu Kutter, goleiro da base do Comercial que fazia bico para pagar a faculdade. No auge de seus 19 anos, ganhou R$ 50, curativos no nariz e na cabeça e um passeio de ambulância. Enquanto isso, na Bahia, o clássico da paz jogou a camaradagem para escanteio.
O episódio escancara a distância brasileira para o mundo ideal. No principal dérbi do planeta, onde torcedores genuínos se misturam a turistas, Lionel Messi lançou moda ao retirar sua camisa e exibi-la para a torcida do Real Madrid em pleno estádio rival, naquele abril de 2017. Tempos depois, Cristiano Ronaldo respondeu na mesma moeda aos culés em Barcelona. O futebol respirou. Se aos quatro minutos do segundo tempo do clássico na Bahia, neste domingo, Vinícius reproduzisse os astros da bola e evitasse a coreografia de ‘créu’ para a torcida do Vitória, talvez o resultado ainda não fosse diferente. Agressão, covardia, intolerância em alto nível e sete jogadores mandados mais cedo para o chuveiro. Fim de papo aos 34 do segundo tempo.
Enquanto nos estádios as cenas lamentáveis preenchem a ficha técnica dos clássicos, fora deles apenas variam de cenários. A violência tem suas cores, do estupro de Mariana, o massacre da Amazônia até a propina de Brasília. No Rio, o caveirão dá lugar ao tanque de guerra e a batalha contra o tráfico sofre mais uma goleada. O espetáculo midiático é transcorrido feito um jogo da seleção na Copa. Os negócios não vão nada bem, o comando segue inoperante, mas temos Neymar, Coutinho, Marcelo e companhia. No fim, tudo acaba em fantasia. A hipocrisia é o gol contra da alma. Quantas preces em harmonia! Que Deus perdoe essas pessoas ruins, e que a revolução seja tranquila.
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