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Ficha Técnica – Falha na programação

qua, 15 de novembro de 2017 05:06

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O jornalista Gian Oddi deu a letra. Das 50 maiores audiências da história da TV italiana, 49 são relacionadas aos jogos de futebol – um festival de Sanremo completa a lista. Por alguns bons anos, integrei esse grupo de entusiastas de plantão ao perambular para a casa dos tios abençoados com uma TV à cabo no início dos anos 2000. Um gringuismo praticado legalmente, sob a batuta de uma legião de super-heróis de chuteiras e fardamento envergado para dentro do calção. A Terra da Bota era a Gotham City do esporte bretão.

Buffon, com a camisa do Super-Homem, após conquista pelo Parma em 1999 *Divulgação

Buffon, com a camisa do Super-Homem, após conquista pelo Parma em 1999
*Divulgação

 

Naqueles tempos, não eram Batman, Homem Aranha, nem Superman. Goku, Vegeta, Gohan e companhia eram opções apenas depois da meia-noite. Durante o dia, a televisão parecia obra divina, projetada com a criação de personagens ainda mais imprevisíveis. Caniggia, Batistuta, Totti, Cafú, Seedorf, Rivaldo, Rui Costa, Shevchenko, Trezeguet, Del Piero, Nedved, Davids, Nesta, Roberto Baggio, Ronaldo e Zamorano eram alguns dos gritos também entoados pelo narrador Silvio Luiz nas manhãs de domingo da Rede TV!, seguidos por Dida, Ibrahimovic, Kaká e Adriano. Entre tantas idas e vindas, um nome persistia entre os inscritos, Gianluigi Buffon.

No verão de 2001, o arqueiro italiano movimentava os cofres após ser adquirido por 45 milhões de euros junto à Juventus, um recorde mundial para um goleiro, quebrado pelo brasileiro Éderson em 2017. Naquele ano, Buffon chegava em Turim com as credenciais do guardião do célebre esquadrão do Parma dos anos 90 e 2000, com o vice-campeonato nacional e a taça da Copa da UEFA, erguida ao lado de nomes como Thuram, Cannavaro, Sensini, Chiesa e Crespo. A joia do futuro que estreou em 1995 aos 17 anos era mais que realidade aos olhos de quem o acompanhava.

Foi assim que o goleiro parou os galácticos do Real Madrid de “Zidanes e Pavones” dois anos depois, ao levar a Juventus para a final da Liga dos Campeões da Europa, vencida pelo arquirrival Milan de um Dida iluminado nas penalidades. Um rebaixamento por escândalos de corrupção, seis títulos nacionais e outras duas finais do principal torneio de clubes europeu, além de uma Copa do Mundo vencida contra a França, integraram o currículo do arqueiro de 1,92m, que bateria o recorde de seis mundiais disputados por um jogador, não fosse mais uma peça em seu caminho.

Analisar uma derrota após o resultado é tão simples quanto reclamar da corrupção após uma manchete do Jornal Nacional, mas a não classificação da Itália para a Copa pela primeira vez em 60 anos é uma tragédia anunciada desde 2010, na África do Sul, onde foi eliminada em uma chave com Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia. A sapatada dos espanhóis na final da Euro 2012 era um aperitivo daquilo que estava por vir. Com a campanha patética no Brasil, foram duas quedas consecutivas na fase de grupos do mundial. Na Euro 2016, sob a batuta de Antônio Conte, um treinador à altura da sua história, a Squadra Azzura bateu a Espanha, mas caiu frente à Alemanha nos pênaltis. À exceção de Napoli e Juventus, o futebol doméstico também capenga no âmbito continental.

O revés diante da Suécia na repescagem da Copa da Rússia nesta segunda-feira (13) nada mais foi que a vitória de um time comum sobre o outro. Não bastasse no que se transformou atualmente, a seleção tetracampeã do mundo sofreu mais uma baixa após o resultado, talvez a maior em seu elenco na história recente. Com duas décadas de serviços prestados, Buffon, aos 39 anos, deixará de zelar pelo gol da Azzura. Sem De Rossi e Barzagli, que também seguiram o caminho do capitão, é hora de uma nova era no futebol praticado na Terra da Bota. Do contrário, cada personagem não passará de uma retrospectiva da televisão. Uma audiência indigesta para quem se acostumou a fazer parte da programação.

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