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Ficha Técnica – Eespecial Pelezinho, Parte 1

qua, 27 de janeiro de 2016 08:04

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Cliente de luxo

Uberlândia, esquina das ruas Monte Alegre com a Floriano Peixoto. Dono de uma padaria às margens do Centro, Seu João sempre se dispôs a tratar sua clientela com a cordialidade e generosidade quase extintas da espécie. Era, literalmente, humano. Mas com um de seus clientes, o negócio era diferente. De vez em quando lhe dizia – “Leva o leite das crianças, depois a gente acerta” – preocupado com a alimentação dos herdeiros do rapaz.

Pelezinho recebe faixa de campeão invicto do interior pelo Uberlândia Esporte em 1970 (Foto Arquivo pessoal)

Pelezinho recebe faixa de campeão invicto do interior pelo Uberlândia Esporte em 1970
(Foto Arquivo pessoal)

Tratava-se de Hamilton Soares Alfaiate, o Pelezinho do Uberlândia Esporte Clube. Abençoados eram Valéria Landa Alfaiate Carrijo e Hamilton Soares Alfaiate Júnior. Filhos do camisa 10 dos tempos de Renato, Neriberto, Fazendeiro, Ferreira e companhia. Vivia o que para o próprio jogador era a melhor fase de sua carreira. Venceu três campeonatos do interior e só não faturou o mineiro, segundo o então presidente do time Aldorando Dias de Sousa, em razão de um capricho da Federação Estadual, que privilegiava os grandes da capital, restringindo os jogos no Mineirão.

Era irredutível. Cada jogador ganharia 300 cruzeiros por partida. Mesmo assim, nem sempre os carrinhos de compras estavam turbinados. Se o salário atrasava, o dinheiro encurtava e a ‘coisa enfeava’, recorria a muitos daqueles que por incansáveis domingos pagavam para vê-lo jogar. Digamos que seriam pequenas retribuições perto de algo que não tinha preço. Certo dia, foi saudado por inúmeros taxistas, que perceberam a presença do ídolo na praça Tubal Vilela.

Pelezinho era mágico. Espetacular. Fabuloso, como classificou outro dia o jornalista Luiza Muílla. Ponta de lança, meia armador. Dava passos de 40 metros no melhor estilo Gérson, o “Canhotinha de Ouro” da Copa de 70. Estilista do futebol, desfilava como ninguém pelos gramados do Juca Ribeiro, onde quebrava as bilheterias. Tinha o calor dos pés incompatíveis com a frieza da mente, gelada como uma pedra de mármore. Sob um temporal em Uberlândia, chegou a enfrentar a seleção da União Soviética, que deixou uma conta de R$ 1 milhão de cruzeiros de hospedagem no hotel Presidente. Tudo pago pelo Verdão.

Ao ajudar o camisa 10 daqueles tempos de glórias, Seu João, o dono da padaria perto da região central, sabia que não lidava com qualquer um. Por essas e outras, o atendia com carinho semelhante ao que o mesmo tratava a bola. Cuidando de seus filhos feito um João de Barro ao resguardar seu ninho. Ali, Pelezinho era mais que um cliente, um pai ou um meia armador. Era o orgulho da Cidade Jardim.

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