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Ficha Técnica – E a base, vem como?

qui, 7 de setembro de 2017 05:30

Abertura-ficha-tecnica

É manhã de sábado em Uberlândia. O frio na barriga se mistura ao calor da Etiópia. Não chove há mais de cem dias por aqui. O dia claro e limpo inquieta. Dormi duas horas na última noite. Insônia é literalmente um prato que se come frio, e a missão de hoje é quente. Rádio AM. “Alô amigos ouvintes, abre alas para o maestro Rebert Lemos. Luiz Muilla é a prioridade à beira de campo. Enquanto isso, tagarelo daqui de cima. De um lado, ARAFLU, uma junção de Araguari, Flamante e Fluminense, plantado nas tradicionalíssimas linhas de quatro seguidas de dois atacantes por dentro, com média de idade de 19 anos. Do outro, o Uberlândia, ainda mais jovem, aberto com um belo e extenso corredor pela esquerda defensiva. Um crime hediondo, com duração de 45 minutos.

Deixar o flanco direito desprotegido e sem emergência foi a maior falha do técnico Nilo Elias no primeiro tempo. Mesmo assim, o coral alviverde não parava de cantar. O calor movia um Inferno Verde, que suou frio com as avançadas do carioca Gérson, camisa 6, e Dener, que envergava a 9 do ARAFLU, que ainda vestia as cores do Tricolor do Bosque. Entrosada, a dupla ganhou a posição na segunda rodada. Sob a tutela do técnico Guilherme Monteiro, o time parecia disposto a somar os primeiros pontos, com sete mudanças. Júnior, novo arqueiro, pegou pênalti e pegaria até pensamento se preciso fosse. Com jogadores de articulação em dia pouco inspirado, as beiradas de campo pareciam ser a terra prometida no ataque. Acontece que a marcação pressão também pune e, num contra-ataque inapelável, o Verdinho encontrou o caminho das pedras. 1 a 0 Uberlândia, gol de Hugo José. Minutos depois, o rival Mateus BH, que ameaçava em ambos os lados, foi claramente derrubado dentro da área alviverde. Para o dono do apito, Elizeu Félix, segue o jogo! E aquilo que segurava a queda de braço entre os rivais, despencou.

O futebol raiz respira no Airton Borges *Arquivo pessoal

O futebol raiz respira no Airton Borges
*Arquivo pessoal

 

De todas as certezas que o técnico Nilo Elias teve na vida, uma delas certamente é que ele precisava corrigir as falhas de posicionamento e proteger a defesa da agressividade do ARAFLU no primeiro tempo. Thiago Alves, que perdeu o pênalti, era o 10 que articulava o jogo por dentro. Para a segunda metade da peleja, ele deu lugar a Wilmer, 20, baixinho encarregado de botar ordem na casa pela direita verde e branco. A primeira variação tática do Verdinho estava desenhada dentro das quatro linhas. Depois, vieram tantas outras. Três zagueiros, extremos, compactos. Contra um projeto de bons jogadores, incluindo de RJ, BH, Manaus e do futebol amador de Araguari, o Uberlândia impôs sua superioridade, agora não mais pela quantidade de bolas, uniformes e organização. Hugo, que abriu o placar, assinou mais dois. Com toques curtos e rápidos, eles ficavam até minutos com a bola. O lateral esquerdo Alan, que voltava de testes no Botafogo-RJ, também ameaçava, e assim o Verdinho povoava cada vez mais o terreno tricolor, chegando a ter dez de seus homens à frente do círculo central. Estavam todos envolvidos. Ao todo, foram 5 tentos, com um de honra da equipe de Araguari.

Hugo José, o garoto da tripleta, se despediu da batalha ovacionado. O xerife José Victor, capitão e líder da defesa, nascido em maio de 1999, foi digno de Mauro Galvão naquele Vasco campeão brasileiro do ano seguinte. Valeu insistir nos treinos de proteção, bola parada e finalizações de média e longa distância. A hidratação também era parte do esquema de jogo. Na Copa Regional do Triângulo e Alto Paranaíba Sub-20, é permitido até sete substituições e ambos não desperdiçaram o privilégio. Era o alento diante da maior estiagem desde 1991. Da última chuva, no agora distante 20 de maio, pra cá, a favela foi chacina, a Amazônia virou pasto, Mariana ficou no passado e Temer não saiu do lugar.

Nessa seca que resseca, cantamos de Gal e Caetano. É preciso estar atento e forte. Tem gente do leste, do sul e do norte. Moleque ligeiro, talentoso e de sorte. No expediente é pau pra toda obra, no sonho é esporte. Com boas qualidades individuais, o ARAFLU dispensa as rivalidades locais e abraça o futuro. Que os 100 pagantes da estreia no Sebastião César não desistam de gritar, tampouco, seus garotos de correr. Apesar do nome unificado, resta estrutura e entrosamento, uma realidade no Uberlândia Esporte. Paulo César Catanoce, técnico do primeiro escalão, também estava de olho. É elite mineira em vista. O cartão de visita para o futebol profissional. Nessa caminhada, todos os lados são um só. A rádio AM grita, as arquibancadas do Airton Borges tremem, e a base, vem como?

1 Comentário

  1. luiz disse:

    impecável PJ….

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