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A estação

qua, 6 de maio de 2015 10:02

por Airton da Cunha Ribeiro

Graduando em História pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia)

No passado presente olha-se o relógio fixado no alto tempo. As horas dentro do mundo passam lentamente, quase parando. O fluxo de corpos comprimidos, do vai e vem da frenética vida moderna se desfazem em um grande borrão cinzento de sentimentos de sobrevivência.

O veloz barulho do ar vai sendo cortado, as sirenes, as vozes palavreadas ao vento buscam ouvidos alheios, para com estes serem solidarizados. No saguão ladeado de um mármore frio e impessoal, o gentil tato se dá aos esbarrões, sem a mínima complacência entre os seres. Mais corpos sem histórias ou com estórias que o cotidiano da sombria cidade teima em apagar.

No limiar do caos ordenado, um piano destila a sonora composição, convidando aos transeuntes o contato com o mundo das sensibilidades. Porém sempre atrasados, sempre a um passo no passado guiam-se indiferentes, onde nada se lhes importa, a não ser o trem que os aguarda na plataforma.

O apito nada pudico anuncia o atraso do acaso. A estrutura metálica ornamentada revela o sonho humano de conquistar o mundo com ferro e fogo. A amarela cor de suas paredes vai destoando deste colossal monstro, que do resto da paisagem em volta, tenta sugá-lo.

“Senhores passageiros mantenham-se atrás da linha amarela”; “não obstruam as portas com objetos”; “boa viagem”, e assim sobre a simplificação da fala mais uma remessa humana se lança ao destino. Apertado, sufocante nada de novo. Os olhares que não se cruzam, buscam lá fora algo a contemplar. Mas no sombrio túnel a fuligem da efêmera vida vai marcando as paredes, com pinturas surrealistas.

Seria esta a benesses de se viver em sociedade?

Sem respostas para tamanhas angústias, as testemunhas oculares observam tudo atônitas.

Assim a estação vai sobrevivendo, de tempos em tempos, de choros e lamentos de almas vagantes, que do vagão da vida foram postas para fora.

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