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VANDALISMO X ALTRUÍSMO

qua, 30 de julho de 2025 10:08

Da Redação

Gessy Carísio de Paula

Não é novidade para o ser humano, tudo que vem acontecendo no mundo, pois a mídia, encarregada de divulgar o que se passa por todos os lados, dá-nos conhecimento de inúmeras ações, em sua grande maioria negativas: vandalismos, destruição, assassinatos, roubos, etc..

Essas mensagens deixam um magnetismo destruidor na alma das pessoas e quase sempre, algumas delas, convencidas de que não há solução plausível para o mundo, entram em conflito íntimo, sentindo-se impotentes para realizar tal mudança e caem em depressão, o mal que assola a sociedade atual.

E assim a vida vai passando, crianças crescendo pelas ruas, perambulando ou trabalhando nos semáforos em busca da sobrevivência, sem terem um lar seguro, alguém que lhes oriente os passos.

Já existem sim, programas direcionados a este setor, mas muita coisa ainda se espera daqueles que, alimentando um sentimento cristão, pensam no semelhante e no futuro que deve ser construído hoje. Não importa se são grandes ou pequenos projetos salvadores, mas há que se lançar  a semente, para que venham frutos no tempo certo.

Devemos  observar que ao lado de tanto constrangimento, acontecem também grandes ações, nem sempre do conhecimento público.

Na década de l980, um **jovenzinho se preparava para o vestibular no Colégio Anglo que funcionava nas dependências do antigo Colégio Regina Pacis, conhecido como Colégio dos Padres, grande instituição educacional de nossa cidade, dirigida por padres holandeses. Àquela época, anos 80, a Capela encontrava-se fechada, servindo para guardar material escolar (carteiras, mesas, estantes, etc.). O aluno, curioso por natureza, observou que os vitrais originais, coloridos e lindos, fabricados na Europa, estavam intactos. A luz do sol filtrava e coloria os móveis em nuanças diversas e o menino, emocionado, pensou:

– Preciso registrar tudo isso, para o futuro…temo pelo desaparecimento de tão lindos vitrais; o vandalismo poderá  atingí-los e ninguém saberá como eram…

O garoto foi à sua casa, muniu-se de máquina fotográfica e registrou, com detalhes, todos os vitrais da Capela e os guardou. Somente os familiares e pessoas mais íntimas souberam do fato.

Anos mais tarde, já em 2001, o Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal, em parceria com a UNIPAC (Universidade Presidente Antonio Carlos), agora ocupante das mesmas dependências, resolveram transformar a Capela em um Espaço Cultural para a realização de eventos. Já não existiam mais os vitrais! As janelas estavam ocas, os vidros despedaçados e os cacos coloridos espalhados por todo o vão interior. Para uma possível restauração, haveria necessidade dos desenhos originais. Foi então que alguém se lembrou da ação altruísta do jovenzinho estudante. Procurado, ele cedeu as fotos e os negativos (ainda não havia chegada a era digital) à Divisão de Patrimônio Histórico de Araguari, dizendo que o seu objetivo havia sido alcançado. Estava feliz!

É certo que não se pode ainda fazer a sua restauração, enriquecendo aquele espaço tão lindo, valorizado pelas pinturas também originais do Padre Otto Munier, Tombadas pelo Patrimônio Histórico de nossa cidade, mas resta o consolo de que já se possui as fotos daqueles vitrais, oriundas da ação altruísta de um jovem estudante que vislumbrou o futuro, imaginando que um ato de vandalismo pudesse destruir uma obra de arte tão bela, construída com determinação e coragem, como a dos padres daquela Congregação.

 

  • Gessy Carísio de Paula é escritora araguarina e Presidente da Academia de Letras e Artes de Araguari. O jovenzinho estudante araguarino, hoje reside em São José dos Campos e é um conceituado médico anestesiologista cardíaco-Dr. Alberto Carísio Nasciutti – 2001

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