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Primeira corretora de imóveis de Minas Gerais ainda atua nos dias atuais

sáb, 21 de setembro de 2019 05:23

por Laura Alvarenga

Julieta Carrijo da Silva é registrada desde 1966 pelo Conselho Regional dos Corretores de Imóveis

Mulher de família, araguarina nata, mãe de seis filhos, 12 netos e quatro bisnetos, esta é Julieta Carrijo da Silva. Com 93 anos de idade, ela é a primeira corretora de imóveis de Minas Gerais, registrada em 23 de junho de 1966 pelo Conselho Regional dos Corretores de Imóveis – 4ª Região de Belo Horizonte.

Corretora foi homenageada pela agência dos Correios da cidade através de selos que estão à venda desde o mês de agosto

Corretora foi homenageada pela agência dos Correios da cidade através de selos que estão à venda desde o mês de agosto

Dona Julieta se consolidou como personagem marcante por toda Araguari, fazendo por merecer os longos anos de luta e dedicação familiar e profissional. Ela iniciou a vida no trabalho prestando serviços a terceiros. Durante sua rotina, fez uma poupança mensal do que hoje equivale a dez centavos pelo período de um ano.

Certo dia foi notificada que deveria comparecer na rua Rio de Janeiro, 170 em Belo Horizonte, no sexto andar do Sindicato dos Corretores de Imóveis, para fazer a retirada da carteira profissional. Até então, Dona Julieta conta que fazia serviços esporádicos nessa área, onde tinha a oportunidade de ajudar muitas famílias e, em consequência, ser reconhecida pelos gestos bondosos.

Na oportunidade, Julieta Carrijo contou a história que a fez ser aprovada no teste do sindicato, proporcionando-lhe o seu registro profissional. Em breve resumo, disse que, ao auxiliar um de seus clientes, se deparou com uma família carente que devia oito meses de aluguel atrasados. Ao tentar iniciar uma conversar com a mãe desta família, a mesma tratou Julieta com descaso sem ao menos dar à corretora a oportunidade de dizer o motivo da visita.

Observando as condições de vida da família, Julieta pediu a um menino que passava pela rua, este, cego, mudo e deficiente [sem ela saber dessas condições] pagou-lhe com três balas para que ele entregasse outras duas balas para cada um dos filhos da mulher. A mãe, após perceber a satisfação dos filhos com o mimo recebido, procurou Julieta para agradecê-la e se desculpar pela atitude mal educada de minutos antes.

A partir desse momento, Julieta iniciou as negociações para a retirada da família devedora da casa em questão, para que esta pudesse ser vendida ao cliente inicial da corretora. Durante os trâmites legais, Julieta ainda conseguiu que a dívida da família fosse anulada e, além de lhes arranjar nova moradia, fez a doação de vários móveis para a casa nova.

A história foi contada por Julieta na sede do Sindicato de Corretores e Imóveis, quando rodeada por outros 30 corretores, todos homens, foi questionada pelo então presidente do sindicato, Luiz Muller, sobre qual atitude um corretor deveria tomar para retirar um inquilino indesejável da residência. Se destacando das demais respostas, ao final da reunião, Julieta foi aplaudida de pé por todos os presentes, sendo informada de que os demais corretores eram figurantes e aquilo se tratava de um teste oral. Este foi o início oficial dos 53 anos como a primeira corretora de imóveis de Minas Gerais.

Julieta conta com orgulho que, mesmo aposentada, atua na profissão até hoje. Para confirmar a fala, a corretora mostrou à redação da Gazeta do Triângulo escrituras e documentos de aposentadoria que também correspondem à realidade de atividades executadas por ela.

Além dos diversos imóveis vendidos, Dona Julieta ajuda muitos cidadãos na busca pela aposentadoria. Ela conta que há dez anos, após ficar em coma decorrente de um derrame, quando os médicos não lhe davam mais do que duas horas de vida, Dona Julieta mais uma vez provou a mulher forte que é, e como forma de agradecimento por continuar em vida, decidiu atuar em mais essa área.

“Eu pensava comigo, Deus não vai me deixar morrer agora. Vou ficar boa e aposentar todos os idosos e pessoas que precisarem desse benefício, aposentar sem cobrar um tostão de ninguém. Eu deveria ter ficado 30 dias no hospital, mas precisei apenas de três dias. Agora, já aposentei 685 pessoas sem cobrar nada de ninguém.”

Tendo sido responsável por grandes negócios em locais como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, em Araguari não poderia ser diferente. Ao longo de sua carreira, Julieta fez a venda de boa parte dos imóveis do município como: ações do Clube Pica Pau; prédio do Banco Mercantil; Terraço Hotel; casas no Jardim Regina, entre tantos outros.

O Terraço Hotel foi o grande feito na carreira da corretora. Construído por Hélvio Alberto Gomide e Donato Eugênio, com o intuito de ser ocupado como um local de moradia de luxo na cidade, a ideia não vingou. Percebendo uma solução para o problema, Julieta sugeriu que o prédio fosse transformado em hotel, atendendo às necessidades do município e dos construtores. A ideia foi acatada e se mostra eficiente até os dias atuais.

Os vários anos de prestação de serviços de Julieta Carrijo da Silva não poderiam passar em branco. Sendo assim, a corretora foi homenageada pela agência dos Correios de Araguari em forma de selos. A ação aconteceu após uma ida de Dona Julieta até a agência, onde, ao ser solicitada pelo atendente que apresentasse seus documentos, entregou seu registro de corretora de imóveis, sem perceber, no lugar da Carteira de Identidade.

O atendente, encantado com o documento diferente e bem conservado, proporcionou a homenagem através dos selos estampando o rosto da corretora, em uma solenidade no dia 27 de agosto quando é comemorado o Dia do Corretor. Dona Julieta fez questão de agradecer a agência pela homenagem, a qual se dispôs a fazer uma nova reunião em sua homenagem, uma vez que ela não pôde comparecer à primeira por problemas de saúde.

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