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Por uma positividade comunicativa: Instituto IVE propõe formas alternativas de produzir comunicação

qui, 10 de abril de 2014 03:03

Leidiane Campos

Você provavelmente já ouviu a expressão “se torcermos o jornal, sairá sangue”. Acostumou-se a ver e ler os noticiários do dia esperando qual será a tragédia da vez. Foi pensando nesta situação que o projeto Imagens e Vozes de Esperança, o IVE, resolveu planejar uma solução. Coordenado pela entidade não governamental Brahma Kumaris, o plano tem como proposta apresentar aos profissionais da comunicação a possibilidade de trazer ao público uma visão mais positiva frente aos acontecimentos sociais. A ideia inicial do projeto surgiu em 1999 em Nova York e logo se espalhou pelo mundo, inclusive no Brasil.

No manual do Imagens e Vozes de Esperança (*) o papel da mídia convencional é questionado, uma vez que reduz-se a questionamentos baseados em: “O que há de errado na sociedade?”, “O que vai mal?”. Para o plano, no entanto, deveria acontecer o contrário. A missão proposta pelo projeto é fortalecer e transformar o papel da mídia como um agente de benefício mundial. Os idealizadores do IVE acreditam que os profissionais da comunicação sejam capazes de gerar conteúdos construtivos, que propiciem a amplificação da esperança humana e que colaborem com ações que promovam a vida.

Além disso, para o projeto, a sociedade é criada a partir das histórias que contamos. Deste modo, os profissionais da mídia devem se posicionar no papel de investigadores de histórias inspiradoras que tragam sentido à vida das pessoas. A intenção do IVE é trazer ao mundo as histórias que talvez ainda não estejam sendo compartilhadas com o restante do mundo. Assim, contar histórias sobre esperança, em que as perguntas estejam relacionadas sobre que há de bom, de melhor e possível na sociedade é uma das metas da organização.

E na prática?

A estudante do 6º período de Jornalismo da UFU, Daniela Malagoli, acredita que a mídia “já tem influenciado esse pensamento mais positivo”. Para a estudante, o jornalismo tem um papel fundamental na vida em sociedade. “A proximidade entre a mídia e nós é tanta que nem mesmo percebemos”, ressalta. A universitária enfatiza que o jornalista não deve mascarar os fatos, trazendo-o de forma mais branda, pois “isso vai contra os princípios da profissão” e completa que “o jornalista pode e deve contribuir para essa visão mais apreciativa do mundo”. Além disso, buscar um jornalismo positivo é, na realidade, “estimular através da verdade”, afirma Malagoli.

No acordo com Daniela, a jornalista Patrícia Amaral, que também atua como professora universitária e gerente de uma emissora de TV, reflete que as matérias positivas são importantes, pois trazem para as pessoas um pouco mais de esperança. Patrícia reforça, porém, que esta atitude não deve ser encarada como “tapar o sol com a peneira”.  Para ela, a sociedade sente a necessidade de se espelhar em bons exemplos e é neste sentido que projetos como os do IVE podem ser possíveis e viáveis. A jornalista explica que os profissionais da mídia têm “que começar a buscar o diferente, buscar o novo”. Dessa maneira, como professora, Patrícia acredita que “o jornalista que está saindo da universidade pode propor coisas novas, pode propor mudanças” e construir um jornalismo positivo de fato, pois, “às vezes, um bom exemplo atrai, e atrai mais”.

E foi buscando bons exemplos que a jornalista Mônica Cunha constituiu o exercício de sua profissão. A editora e apresentadora do programa televisivo Bem Viver conta que está sempre em busca de histórias de esperança. “No Bem Viver sempre tentamos levar essa mensagem positiva”, destaca a jornalista. Para Mônica, “os bons exemplos precisam ser reforçados, ressaltados”, pois esta maneira de se pensar a comunicação desperta o que há de melhor nas pessoas.

Mônica, ao certificar-se de que visão positiva dos fatos pode render bons frutos, se recorda de uma reportagem realizada com jovens especiais “que não sabiam o que era ter um sonho”. A jornalista conta que “essa magia da vida foi revelada e aguçada pela professora que contou a cada um deles como era importante sonhar, acreditar mesmo diante de uma deficiência”. Para a apresentadora, esta foi uma história que “serviu para inspirar outras pessoas a agirem pela própria vida”.

A jornalista acredita que o jornalismo positivo já está dando seus sinais à sociedade, trazendo “mais leveza a dias de violência crescente, corrupção sem fim e injustiças sociais”.  Para ela, não há como fugir da realidade que nos cerca, mas é possível ao jornalista transmitir de forma equilibrada os acontecimentos sociais, trazendo “histórias melhores, que inspiram e recuperam”. Assim, o importante para a apresentadora é “não desistir da beleza da vida”, pois a comunicação positiva é um chamado que se faz sempre presente. “A cada dia essa voz me chama e eu sigo”, reflete Mônica.

Aprova a ideia?

Mas e agora, cá entre nós: essa proposta é realmente interessante?

Para a assídua leitora das notícias diárias, Liliane Campos, o que se vê hoje na mídia é a ênfase nas tragédias. A estudante de pós-graduação não considera a exposição destes fatos algo essencialmente ruim, pois acredita que, apesar de tudo, “temos que ser realistas”. Liliane, no entanto, pontua que a transmissão noticiosa do que há de negativo na sociedade se tornou massiva, além de enfatizar somente o que nos falta, desvalorizando o que possuímos de bom. Assim, para ela, esta nova maneira de se pensar a construção das notícias pode ser benéfica, pois propiciará às pessoas “uma nova visão do mundo”, além de trazer a indagação: “o podemos fazer pra melhorar o hoje?”.

(*) O manual do projeto Imagens e Vozes de Esperança pode ser encontrado no site: www.ive.org.br

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