Opinião: Ausência de Estado, por Olavo Machado Júnior
qua, 5 de fevereiro de 2014 00:00* Olavo Machado Júnior
Quem vai indenizar o serralheiro que teve o fusquinha que usava para transportar a família e trabalhar incendiado por “mascarados” infiltrados em mais uma manifestação nas ruas de São Paulo? Quem vai indenizar os milhares de comerciantes obrigados a fechar as portas de seus estabelecimentos em shoppings escolhidos para a realização dos famosos “rolezinhos”? Quem vai repor os prejuízos daqueles que tiveram suas lojas invadidas, saqueadas e incendiadas em junho e julho do ano passado? Principalmente, quem vai repor a milhões de cidadãos brasileiros o seu direito constitucional de “ir e vir” que foi subtraído pela insegurança decorrente da violência que domina ruas e avenidas brasileiras em todo o país?
Essas e incontáveis outras perguntas permanecem sem resposta por parte das autoridades municipais, estaduais e federais. O máximo que se ouve é que se trata de um fenômeno social novo, que ainda precisa ser estudado para ser entendido. É uma forma “política” de dizer que pouco ou nada será feito. É, de fato, o que parece, pois há pouca informação, quase nenhuma, sobre providências relativas às badernas do ano passado. Quantos foram presos? Quantos processos foram abertos? Quais as penas? Quantos foram efetivamente condenados? Como terminaram as investigações sobre excessos cometidos por policiais? A impunidade – a história não se cansa de mostrar – é o maior incentivo para que tal tipo de prática continue a ocorrer, como, aliás, está acontecendo.
O setor empresarial de Minas e do Brasil tem explicitado claramente o seu posicionamento – francamente favorável a manifestações pacíficas e contrário ao vandalismo e a excessos cometidos pela polícia. Ano passado, por ocasião dos protestos de junho/julho, as entidades representativas da iniciativa privada, unidas no Fórum das Entidades Empresariais de Minas Gerais se manifestaram. Em essência, reconhecendo como legítimas e democráticas as manifestações que então expressavam o inconformismo da população com a prática política vigente no país, em todos os níveis, com a corrupção, a má qualidade dos serviços públicos essenciais – especialmente nas áreas de transporte público, saúde e educação – a precária infraestrutura que penaliza as empresas e corrói sua capacidade de competir.
Na outra ponta, repudiamos a ação criminosa de vândalos e arruaceiros que se infiltram nas manifestações para agredir a sociedade, praticar a violência e cometer crimes que devem e precisam ser punidos de acordo com a lei. Não nos afastamos desse posicionamento, assim como mantemos a nossa crença em princípios e valores que constituem as bases do verdadeiro bem-estar social e da verdadeira democracia: o direito de trabalhar, produzir e gerar riqueza para o Brasil e para os brasileiros.
A sociedade não está mais disposta a conviver com lideranças políticas que veem, como seu único objetivo, a realização das eleições – e que parecem levar ao pé da letra o ditado segundo o qual “em eleição só é feio perder”. Não é assim, evidentemente. Para líderes políticos, o que é verdadeiramente feio e vergonhoso, portanto inadmissível, é a omissão diante de compromissos com o país, com os estados, com os municípios e muito especialmente com a população.
Em um país com tantos e tão graves problemas a resolver, é absurdo ver como órgãos públicos da mais elevada envergadura – no judiciário, no Legislativo e no Executivo – investem seu precioso tempo em questões menores e se omitem em questões importantes e graves. É necessário que estejamos em alerta: outubro se aproxima e é importante que os eleitores cuidem de observar bem a cena atual e analisar criteriosamente os nomes dos candidatos que pedem os seus votos.
A sociedade não está disposta a conviver com lideranças políticas que veem como seu único objetivo a realização das eleições.
Há exemplos a lembrar e seguir. Celebramos em 2014 trinta anos das “Diretas já”, movimento que, nos quatro cantos do país, uniu os brasileiros em manifestações pela redemocratização e pelo fim do regime militar. Também nos lembramos dos “Caras Pintadas”, movimento que, duas décadas atrás, mobilizou a juventude brasileira no episódio do impeachment de um presidente da República. Num e outro, as lideranças políticas estavam ao lado do povo, imbuídas dos mesmos objetivos estavam o sonho de construção de um novo país. Foram de fato, movimentos populares que contribuíram para a construção de um país melhor.
Não se pode permitir que as ruas por onde passaram movimentos cívicos tão emblemáticos sejam agora transformadas em passarela para atos de vandalismo contra a sociedade brasileira e contra a democracia comprometendo a imagem do Brasil no exterior e desgastando eventos importantes para a economia do país como a Copa do Mundo. Compete aos governantes decisão de agir ou acomodar-se à condição de reféns da baderna.
* Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – Fiemg
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