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O ano de 201(96)4, por Airton da Cunha Ribeiro

qua, 16 de julho de 2014 00:01

* Airton da Cunha Ribeiro

O ano era 2014, mas cheirava um velho tempo, onde as engrenagens rangiam horrores, que emanavam de delegacias, porões, e soturnas salas de interrogatório e tortura.

Seria apenas devaneios, de um tempo que não tinha deixado a mínima saudade? Seriam fantasmas desencarnados, de homens a serviço dos generais, que em nome da família, dos bons costumes e pasmem da democracia, torturavam, estupravam e matavam? Seria tudo obra do fatídico marco cinquenário, que não se comemorava, mas se combatia?

Infelizmente o ano era 2014 e não 1964, infelizmente! Não era um dia de abril, que durou vinte e um anos. Era um dia de julho, que durou sete longos anos. Era um tempo de comoções alheias. Umas ufanistas brandando um nacionalismo tosco e sem sentido.
Era um ano, com dias de incertezas, de remoções, sem comoções, de lutas nas ruas, sim como diria Leminski, a parte principal da cidade!

Era um ano que o ar pesado cheirava a gás de pimenta, misturado com bomba de efeito moral. Era um tempo de prisões arbitrárias, que sem justificativas, ou melhor, com justificativas absurdas dadas a sociedade, profetizavam que não estavamos vivendo em uma democracia.

Era a prova que o cheiro do horror do passado, ainda inalava de velhas estruturas repaginadas, e enfeitadas com cetim, censurava e limitava nossas aparentes liberdades.

Enquanto embevecidos pelos gritos e aplausos que emanavam dos templos da luxúria esportiva, gritos de dor, nas ruas, nas favelas, nos acampados, se faziam ouvir, e eram silenciados pelas festividades da repressão. Enquanto dizíamos que perdemos um jogo, e que sofremos a maior humilhação do nosso esporte de coração e alma, dávamos as costas a humilhações maiores, como a escravidão negra, o genocídio dos nossos indígenas, ou a negação dos direitos básicos de nossos cidadãos.

O ano é 2014, nunca nos esqueçamos dessa data fatídica. Nunca nos esqueçamos dos Amarildos, das Claudias, e de tantos outros que removidos de seus lares, contribuiam para a maior festa do planeta. Nunca nos esqueçamos da coluna quebrada, que superfaturada matou gente.

Nunca nos esqueçamos deste ano, pois ele será para quem acredita em uma sociedade mais justa, fraterna e libertária, o marco histórico de uma nova luta. Nova e necessária, que deve ser travada em todos os espaços, seja na rua, nos estádios ou em nossa própria consciência.

* Graduando em História pela UFU, membro do coletivo GatxPretx

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