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Neuropsi – A diferença de idade entre irmãos deve ser grande ou pequena?

sex, 7 de junho de 2019 05:12

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1- A diferença de idade entre irmãos  deve ser grande ou pequena?

Como em quase todas as áreas da vida familiar, também neste caso não existem “fórmulas universais”. Aquilo que funciona e contribui para a qualidade das relações numa família pode não funcionar para outra. De resto, a existência de irmãos é, de um modo geral, muito positiva, contribuindo até para o desenvolvimento emocional das crianças. Independentemente da diferença de idades, os irmãos mais velhos funcionam quase sempre como modelos comportamentais, que os mais novos tendem a reproduzir. Dependendo do investimento que os pais façam no desenvolvimento de competências sociais, como a partilha, a assertividade ou o sentido de justiça, maior ou menor poderá ser o laço entre irmãos.

Se nos centramos apenas nas consequências para o próprio casal, diria que é muito mais difícil gerir todos os constrangimentos inerentes à educação de duas crianças pequenas com idades muito próximas (com um ou dois anos de diferença). Os primeiros anos de vida de uma criança são particularmente trabalhosos e, além disso, cada criança é única, pelo que, mesmo que o primeiro filho “dê” boas noites de sono aos pais ao fim de relativamente pouco tempo, não há quaisquer garantias de que o mesmo aconteça quando do nascimento do segundo filho, pelo que a gestão das tarefas familiares e a coordenação com os outros papéis na vida de cada um dos membros do casal pode se tornar particularmente difícil.

Obviamente, há denominadores comuns em ambos os casos: o principal é o amor verdadeiro que se sente por um irmão. Se a diferença de idade entre os irmãos é pequena, isso será visto no dia a dia, nas brincadeiras, nas atividades que façam juntos e nas conversas.

Por outro lado, quando a alguns anos a mais de diferença, é verdade que talvez  não compartilhem muitas atividades ao longo do dia, mas ainda assim, não deixa de ser bonito ver como o irmão mais novo tem o irmão mais velho como um exemplo e que este se esforça para que o irmãozinho esteja bem e que não lhe falte nada.

A escolha dependerá da situação do casal, tanto na parte emocional como na financeira, na disponibilidade no trabalho etc. O importante é que as crianças cresçam em um ambiente agradável, com o apoio dos pais e a atenção que merecem. Com o tempo, com certeza, os irmãos vão se adorar independente da diferença.

2-Então é importante a criança ter irmãos?

O segundo filho traz para os pais a necessidade de lidar com a competição dentro de casa e, em consequência, com as frustrações e raivas. Tudo isso é muito bom para o amadurecimento emocional da criança. A convivência entre irmãos é um treinamento para relacionamentos futuros. O que se aprende, ganha e sofre nessa relação vai servir para a vida inteira. E os pais devem evitar tomar partido nas disputas. Costumam cobrar o filho mais velho em excesso, enquanto o caçula vira o eterno bebê. O mais velho abre espaços para o segundo. Se o menor ainda for poupado demais, o risco é que não saiba caminhar quando tiver de fazê-lo por conta própria.

Para a criança, um irmão significa mais do que um concorrente para dividir os pais e os brinquedos. Os casais reclamam muito da rivalidade entre os filhos, como se essa fosse a principal característica do relacionamento fraterno. Duas crianças juntas aprendem a trocar, a brigar e a se amar.  Os pais também aprendem a dividir sentimentos com a chegada de outro filho. Mais experientes, têm menos expectativas e ansiedade. Sabem que não darão conta de tudo e, principalmente, que é normal falhar. Nesse aspecto, ter mais de um filho traz benefícios para eles. Diminui a chance de sufocarem o primeiro.

3-Quais são os prós e contras da diferença de idade dos filhos?

0 a 2 anos – Muitos itens do enxoval podem ser reaproveitados. Os pais continuam bastante familiarizados com o universo infantil, o que facilita a vida de todos. A pouca diferença de idade aproxima os irmãos nas brincadeiras. Se engravidar enquanto estiver amamentando o primeiro filho, a mãe terá de desmamá-lo, pois os hormônios da gravidez interferem no leite. Será possível oferecer uma educação similar, uma vez que as crianças passarão pela infância, puberdade e adolescência quase ao mesmo tempo.

Gasto duplicado – Da mesma forma, também será necessário enfrentar os custos das fraldas, itens de higiene e roupas ao mesmo tempo.

Ciúme –  Pode acontecer de um filho sentir ciúme quando o irmão ganha algo e ele não. Esse é um aspecto delicado que também deve ser considerado.

3 a 5 anos – Se forem bem guardados, alguns itens do enxoval, inclusive as roupas, podem ser usados de novo. Com certa autonomia por conta da idade, o maior sofrerá menos a falta da mãe, que poderá se dedicar mais ao bebê.

6 a 8 anos – Pode ser vantajoso para os pais, que estão mais maduros em relação à paternidade. Os irmãos perdem um pouco o companheirismo devido à idade, pois nem todos os interesses são iguais.

Mais de 8 anos – O filho temporão tem características comuns ao filho único. É preciso estar atento para não mimá-lo demais, pois, além dos pais, há ainda o irmão mais velho para fazer as suas vontades. Dependendo da idade da mãe, a disposição para cuidar do recém-nascido pode não ser mais a mesma. Irmãos com maior diferença de idade também podem ser amigos. Talvez dificulte um pouco a vida dos pais, pois as chances de agradar a ambos com o mesmo passeio, por exemplo, são menores.

O importante é que as crianças cresçam em um ambiente agradável, com o afeto dos pais e a atenção que merecem. Quando os irmãos concordam, nenhuma força é tão poderosa como sua vida em comum.

4-Que tipo de relação se gera entre irmãos com grandes diferenças de idades? 

Esta diferença pode resultar num instinto protetor, que acaba por estreitar os laços, sendo que o irmão mais velho assume, muitas vezes, o papel de “guardião”. Mas não  se pode ignorar o fato de, em muitos destes casos, também existir um afastamento maior, sobretudo a partir do momento em que o mais velho sai da casa dos pais. Alguns jovens “queixam-se” precisamente pela falta de tempo de construir uma relação emocionalmente próxima com irmãos significativamente mais velhos.

Mesmo que uma criança não se sinta muito próxima do seu irmão mais velho e/ou sinta dificuldades em partilhar com ele as tarefas e brincadeiras, em função do fato de estarem em fases de amadurecimento emocional diferentes, compete aos pais promover o entrosamento com outras crianças de idades próximas, tal como acontece com os filhos únicos – os primos e os filhos dos amigos são recursos que contribuem para o desenvolvimento afetivo de todas as crianças.

5-E no caso dos pais, quando um segundo filho ou terceiro surge muito tempo depois que reação isso provoca? 

Tudo depende do fato de se tratar ou não de uma gravidez desejada, independentemente do planejamento. A generalidade dos casais cujos filhos estão, por exemplo, na adolescência, não equaciona a possibilidade de ter outro filho, mas há muitos que acabam por encarar uma gravidez inesperada como uma bênção, tirando partido da experiência e da tranquilidade que a vida lhes deu. Como os níveis de ansiedade e de preocupação nestes casos são significativamente menores e, de um modo geral, a estabilidade financeira foi alcançada, tudo pode parecer infinitamente mais fácil.

 6-Com diferenças tão grandes pode-se criar relações de irmãos pseudo-pais?

O fato de um irmão mais velho ser visto como responsável pelos irmãos mais novos não significa que haja uma sobreposição de papéis. Nas famílias felizes e saudáveis o papel de cada membro da família é claro. A ajuda na prestação de cuidados e/ou na aplicação e gestão das regras definidas pelos pais não pode ser confundida com o caos e com a multiplicidade de regras. O irmão mais velho pode se tornar uma referência para o mais novo.

3 Comentários

  1. VALDILENE DE JESUS DA SILVA disse:

    Gostaria de ter mais informações sobre uma diferença realmente grande de idade rsrs… meu primeiro filho tem 19 anos, e estou grávida de 3 meses. Não foi uma gravidez planejada, na verdade nem estava mais nos nossos planos ter um 2 filho. Na verdade estava descartada essa possibilidade rsrs… poderiam falar mais sobre essa diferença? Obrigada!

  2. Amanda disse:

    Boa tarde! Possuo experiência em ser mãe de duas crianças com diferença de um ano e seis meses.

    Gostaria de sugerir uma atualização do artigo, pois o texto menciona que quando engravida a mulher deve desmamar caso ainda amamente. Consulte a 2° edição dos Cadernos de Atenção Básica, n° 23, pág. 69, do Ministério da Saúde, onde informa que não há impedimentos para amamentar gestando, caso seja uma gestação de baixo risco. Essa informação desatualizada pode prejudicar alguma família durante seu aleitamento, desmamar uma criança precocemente causando prejuízos emocionais ou nutricionais…

    Eu por exemplo, amamentei durante toda a gestação (lactogestação) e até hoje amamento as duas (Tandem).

    Obrigada.

  3. Graciela disse:

    Precisa ser revista a informação no texto sobre a necessidade de desmame do primeiro filho caso a mãe engravide do segundo em pouco tempo. Esse tipo de informação desatualizada, infelizmente é um desserviço para muitas famílias. Cada um no seu quadrado, dando as dicas pertinentes a sua formação, e tudo dá certo.

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