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Filha de araguarino, atriz da Malhação dá entrevista à Gazeta Web e fala sobre a vivência na novela

sex, 30 de março de 2018 05:16

por Tatiana Oliveira

Ana Hikari foi a primeira protagonista oriental da Rede Globo e retratou temas como o racismo, preconceito, discriminação e o empoderamento feminino

Ontem, 29, a atriz brasileira Ana Hikari aproveitou sua visita à família mineira e veio ao estúdio da Gazeta Web para dar uma entrevista à nossa equipe. Durante o encontro ela trouxe temas importantes que foram retratados durante o ano que estrelou na Malhação – Viva a Diferença, como racismo, preconceito e o empoderamento feminino.

Atriz fala sobre desigualdade em entrevista à Gazeta Web

Atriz fala sobre desigualdade em entrevista à Gazeta Web

 

Hikari é neta de José Rosa Dias, trabalhador da Rede Ferroviária que viveu por alguns anos em Araguari, mas passou o fim da vida em Estrela do Sul, e de Geralda de Souza Dias, mais conhecida como Tia Nega. Após a entrevista, a atriz já estava ansiosa para ir até Estrela do Sul tomar o chá mate de sua vó e poder descansar. “Foi um ano intenso de trabalho, onde nem pude ver minha família direito”, contou antes da entrevista à Gazeta.

Em exclusiva à reportagem, ela compartilhou uma história sobre sua avó, com muito carinho na voz. “Meu avô morreu cedo e ela ficou em Estrela do Sul. Como passou dificuldade, teve que se virar por muito tempo com chá mate e bolacha Mabel. Hoje ela não nega a quem bate em sua porta e pede um chá com bolachas; ela não deixa ninguém passar fome”, comenta.

Meio Paulista, meio mineira, o pai de Ana, Almir Almas, nasceu em Araguari, cresceu em Estrela do Sul, mas hoje é professor de cinema na Universidade de São Paulo – USP. A mãe de Hikari, Makiko Takemaka, é dentista. Ana Hikari nasceu em São Paulo, ela é descendente de africanos, indígenas e japoneses. “Eu cresci aqui, desde pequena venho para cá e minha prima Nayara é responsável por me jogar na terra, me fazer rolar, subir no pé de manga, pegar manga, goiaba, então a gente cresceu nesse jeito. Eu sempre vinha para Uberlândia, Araguari e Estrela do Sul. Acho que essa referência de Minas Gerais sempre foi muito boa para mim e importante, porque me dá outra visão de mundo; porque se você acostuma apenas com aquele ambiente urbano de São Paulo é outra realidade”, relata.

Ana Hikari conta que a paixão pelas artes cênicas vem desde muito jovem, além de ser uma influência familiar. “Desde pequena, sempre tive muito contato com arte, porque meu pai trabalha como professor de Cinema na USP. Então, eu frequentava festivais, peças de teatro, cinemas, curtas metragens, festivais de curta. Acho que esse contato com a arte desde pequenininha me fez interessar muito por essa área”, diz.

A música também faz parte de sua história, bem como a ópera. “Desde pequena eu gosto de cantar, comecei a ter aulas de canto com uns sete anos de idade. Me apresentei em óperas e peças na Sala São Paulo, no Teatro Municipal de São Paulo. Acho que um dos momentos que senti esse gosto pelo palco foi no final da ópera João e Maria, no Teatro Municipal; vi aquele público imenso, eu no palco e aquela “galera” batendo palmas. Estava com oito anos e pensei: “é, acho que gosto desse lugar”, brinca.

Após descobrir a paixão, Hikari resolveu capacitar-se ainda mais. “Entrei para o Teatro aos 12 anos. Fiz peças, entrei para duas companhias de teatro nesse período. Fiz tantos cursos infantis, juvenis, para atores mais velhos; aos 17 para 18 anos prestei vestibular para artes cênicas na USP. Estava em dúvida se prestava ou não, mas não teve jeito. Fui lá, escolhi, prestei, passei em 5º lugar na USP e em segundo na UFMG, mas escolhi a USP por conta da facilidade, pois a família estava em SP”, relata.

Na USP ela viu a oportunidade de fazer um intercâmbio, que enriqueceu sua vivência como artista. “Minha escolha foi muito feliz porque tive a oportunidade de fazer intercâmbio de teatro e cinema em Portugal. Fui para Lisboa estudar no Instituto Politécnico de Lisboa, e foi incrível, porque tive a oportunidade não só de estudar teatro lá, como visitar museus, assistir peças, visitar as obras mais clássicas da arte contemporânea e antigas também”, disse.

Hikari conta que a oportunidade para entrar na Malhação veio justamente no fim do Intercâmbio. “Quando voltava do intercâmbio, recebi o convite para o teste da Malhação. Perdi o primeiro teste porque estava no avião voltando de Portugal”. Mas a sorte não virou as costas para a paulista. “Fui para o Rio de Janeiro fazer o cadastro na Globo. Estava dentro da Globo, me pararam e falaram para eu fazer o teste com o Guilherme Gobi, que foi nosso produtor de elenco e fui. Um tempinho depois recebi a resposta de aprovação para participar da Malhação”, comemora.

Apesar de muito nova, Ana tem uma vasta experiência com diversas mídias, mas Malhação foi sua estreia na TV. “Foi meu primeiro trabalho com televisão. Eu tinha trabalhado com câmera, apresentava inclusive um programa na internet quando era mais nova e fiz curtas metragens, mas na televisão foi o primeiro trabalho mesmo”.

Questionada sobre como é ser a primeira protagonista oriental da Rede Globo, ela afirma ser uma grande responsabilidade e honra. “Acho que foi uma responsabilidade muito grande, porque é difícil ter esse tipo de representatividade na mídia e isso é muito importante”, diz. “Nós, que somos brasileiros e temos descendência oriental, muitas vezes crescemos sem ter a nossa referência estética na mídia. Isso é ruim porque muitas vezes você acha que não é o ideal de beleza, pensa que seu espaço de trabalho e de ocupar não e aquele”, explica.

A personagem, para ela, é uma forma de trazer essa representatividade. “A partir do momento em que você apresenta personagens que tenham essa característica física fazendo coisas diversas, por exemplo: minha mãe era médica, meu pai era dono de um restaurante, eu trabalhava com música, com a área de arte. Então você mostra uma gama de personagens que pode se identificar ali e isso é importante para uma sociedade, a representatividade na mídia”, diz.

Para ela, o papel foi além de um degrau em sua carreira. “Sempre enxerguei isso como uma responsabilidade, carinho e honra porque a personagem era muito complexa e me contemplava com as falas, as propostas, o enredo; fui muito feliz nessa personagem”, disse.

Um tema importante levantado durante a Malhação foram lutas sociais. Hikari relata que leva isso no dia-a-dia e o debate sobre o racismo é presente em sua vida desde a infância. “Acho que desde pequena meu pai sempre conversou muito abertamente comigo, um dos caminhos que ele me apresentou para falar sobre isso foi através da arte, porque ele me levava para apresentações artísticas de coletivos negros, peças que debatessem esses assuntos; fui entendendo de uma maneira muito sensível sobre o assunto. Esse diálogo sobre racismo, principalmente, aconteceu através do meu pai que é negro e sempre através da arte”, conta.

Sobre o tema levantado pela novela, principalmente sobre o relacionamento entre Tina (Ana Hikari) e Anderson (Juan Paiva) ela ressalta a importância. “Acho extremamente importante falar sobre essas questões porque o Brasil é um país muito diverso, muito plural, mas ao mesmo tempo tem muito preconceito, muita discriminação. Precisamos falar sobre isso diariamente e levar isso conosco, porque só assim conseguiremos mudar o panorama do país e do mundo”, afirma.

Outras questões de lutas sociais fazem parte das preocupações da atriz. “Com o tempo, fui entendendo outras questões. Por exemplo, a questão LGBT é uma pauta que sempre me interessou, é muito próxima, sempre tive muito conhecimento também”, coloca. O empoderamento feminino também faz parte de sua luta. “A questão do feminismo é muito presente. Inclusive, estava dentro da ECA quando foi fundado o Coletivo Feminista. Ainda faço parte, fiquei afastada devido à Malhação, mas ainda estou presente, acompanho as manifestações, as reuniões. Acho muito importante esse debate, principalmente da maneira que foi feito através da novela que alcançou milhares de pessoas”, afirma.

A novela foi um sucesso e seu discurso com certeza atingiu muita gente. “Conseguimos uma média de pontuação na televisão de 21 pontos e a média da malhação era de 17 pontos antes da nossa. Fico imaginando a quantidade de diálogos que conseguimos abrir com essa novela. Isso para mim é muito importante. Quantas meninas devem ter escutado talvez pela primeira vez a palavra feminismo na boca das nossas personagens? Ou o debate sobre racismo no enredo da Tina?”, questiona

Assim como os estudos, Ana Hikari leva o trabalho muito a sério e contou um pouco do seu processo ao estudar as cenas. “Eu sou muito ‘Caxias” meu namorado sempre me ‘zoa’. Sou muito certinha com meu trabalho, de ficar estudando horas, ficar marcando todo o texto, estudando. Meu método de estudo do texto era bem particular, esmiuçar bem cada cena. Tenho dois cadernos onde anotei todas as cenas dos capítulos que apareci; isto é, quase todos. Anotei tudo em detalhes, meus cadernos na verdade, são um resumo da Tina na novela. Sempre fui muito ‘nerdizinha’ na escola e acho que isso refletiu no meu trabalho e ainda bem, porque foi necessário”, relata.

2 Comentários

  1. Ney. disse:

    COADJUVANTE….

  2. Anônimo disse:

    Ela desempenhou muito bem seu importante papel, acompanhei vários capítulos. Não curto muito Malhação, mas como acompanho as novelas de época que vem logo após, acabo assistindo um pouco da mesma.
    Mas, ela fez bonito. Que sua estrela brilhe sempre!

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