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Ficha Técnica – VIVA O AZULÃO DA MASSA!

qua, 4 de maio de 2016 08:47

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Não viemos de um mundo vazio, outrora carcomido por suas avarezas. Não iremos revolucionar um tempo como Chico, Cartola, Caetano, a TV em cores ou o macarrão instantâneo. Não ostentamos grandes contratos, nomes ou estandartes, e seu bocado de seguidores sequer ameaça. Somos quem acreditamos ser. Assim rompemos o silêncio, desafiamos nossos sonhos e tocamos o inacessível. Pode ser que iremos reagir aos 45 do segundo tempo, mas ainda estamos no jogo.

Por que o mundo do futebol precisa reverenciar a conquista do novo campeão na Inglaterra?

Por que o mundo do futebol precisa reverenciar a conquista do novo campeão na Inglaterra?

 

Se há uma certeza que conforta as incertezas do nosso destino, é que o mundo dá voltas, e deu. Iniciávamos a temporada para novamente escapar do rebaixamento, quando certo dia o treinador nos fez uma promessa – “Uma rodada de pizza para todos se não tomarem gol amanhã” – Vencemos a aposta e partimos para a Peter Pizzaria, onde tivemos a surpresa – “Vocês trabalharam duro em campo e agora terão que trabalhar pela comida também. Cá está a massa, o molho e o queijo” – disse. Eram os novos ingredientes de um sonho que desafiava o futebol gourmet.

Há menos de dez anos, experimentamos o gosto de cair para a quinta divisão. Tempos difíceis eram aqueles, quando o regente argelino Mahrez e o cabeça de área Kanté perambulavam pelas divisões de acesso francesas. O artilheiro Vardy era um ex-presidiário que se dividia entre o futebol amador e o emprego numa fábrica da Inglaterra. Morgan, o becão Jamaicano, Huth, o zagueiro-zagueiro alemão, e Okazaki, o samurai japonês, também lutavam por um lugar ao Sol. O arqueiro Kasper Schmeichel ainda bebia da fonte do lendário pai, Peter, mas não esperava que repetisse seu feito no mesmo dia 2 de maio, quando venceu o campeonato pela primeira vez, também aos 29 anos.

Terra da Rainha, de magnatas, teatro dos sonhos e negócios da China. Ninguém poderia imaginar que naquela segunda-feira, aquele time de videogame cravaria o nome no topo do futebol inglês, o primeiro título nacional nos mais de 130 anos do clube. A cidade de 300 mil habitantes, às margens do rio Soar, do estádio modesto, porém digno, capaz de aquecer mais de 30 mil. Uma euforia de invejar a capital. Um conto de fadas que se tornava real. Como num roteiro de Forrest Gump, onde todos correm, mas dessa vez sob o crivo do técnico italiano Claudio Ranieri.

Não é pela chuteira colorida, pelo escanteio curto, pela carência de provocações e o excesso de egocentrismo. Somos tudo que envolve o espírito da conquista do time inglês. Somos La Coruña (2000), América-MG (2001), São Caetano (2002), Paysandu (2003), Grécia (2004) ou Santo André (2005). Somos tudo que envolve a alma mais pura do futebol, decidido na cancha e não num balcão de negócios. Um sopro de vida, ainda que tudo acabe em pizza.

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