Hoje acordei pensando em você. No dia que nos encontramos pela última vez e me disse para fazermos a roda girar. Conversamos sobre família, amigos, uma espécie de amor e até um bocado de futebol. Lembro do rio que passava por seus olhos como se fosse ontem. Mas nessa manhã, enquanto pagava alguns pecados entre um braço e outro no ônibus rumo ao trabalho, descobri que meus problemas eram como um pequeno riacho perto dos teus.

Imagem do time de Bento Rodrigues: jogadores se unem pelo futebol mesmo após desastre

Soube que os dias não estão nada fáceis pelas terras que tu andas. Disseram-me até que foste engolida pela ganância. Quanta ignorância! Logo você, o recanto de animais, nascidos num berço de histórias, envolvida em disputas desleais? Meus sinceros sentimentos por todas as vidas que lhe foram tiradas, e pela extinção de seres que acolheu a cada ano. De fato, eles faltaram na aula de ser, humano.

Mariana, nome que jamais deveria rimar com mar-de-lama. Peço que lembre a última conversa que tivemos sob as árvores daquela praça. Como uma boa torcedora, espero que tenhas a força de um Corinthians em todos os seus campos. A vontade de um Santa Cruz em diferentes cantos, e a esperança de uma criança que ocupa uma escola e grita por outros tantos.

Espero que tenhas a malemolência de um Neymar diante de um mar de adversários. E que não deixastes se levar por pessoas do mesmo nível da corja de José Maria Marin, ex-presidente da CBF. Seja Minas, como Galo, Cruzeiro e América. Seja amor e amizade, como Carlos Drummond de Andrade. Seja a simplicidade de uma favela, numa realidade paralela.

Querida Mariana, faça como Mário Quintana. More em si mesma. Seja você o seu lar. Aquele rio de olhos azuis pode até secar, mas as águas que por aí chegam são um gole para sonhar. Mande lembranças aos seus irmãos de outros lares, Bento e Valadares, e nunca tire o seu time de campo. Lembre-se que uma vitória pode ser conquistada com um único gol, e nesse caso, o jogo ainda não acabou.