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Escritor araguarino morre no Rio de Janeiro

qua, 23 de julho de 2014 01:08

Por VITÓRIO FERREIRA FRANCO VALVERDE MORAIS

Faleceu na manhã de 18 de julho de 2014, na cidade do Rio de Janeiro, o emérito professor Bruno Vitório Ferreira Franco.

Bruno Vitório Ferreira Franco tinha 73 anos. Foto: Divulgação

Bruno Vitório Ferreira Franco tinha 73 anos. Foto: Divulgação

Nascido em Araguari, no dia 22 de setembro de 1941, filho de Linda Alessi Franco e José Ferreira Franco, ainda jovem começou a trabalhar na empresa em que seu pai era sócio, a “Casa Franco”, situada na rua Marciano Santos. Estudou no Colégio Regina Pacis e na adolescência começou a aprender o idioma francês, uma de suas paixões, pelas transmissões radiofônicas da rádio BBC de Londres, ocupando grande parte das noites e madrugadas nessas audições.

Em Araguari ainda trabalhou no antigo Banco Mineiro da Produção, e logo a seguir, concluídos os estudos intermediários (Clássico), partiu para a cidade do Rio de Janeiro para cursar as cadeiras de Antropologia e Sociologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, seguindo também com a carreira bancária no Banco Nacional S.A.

Aluno e discípulo do famoso antropólogo francês Roger Bastide, no início dos anos 70, após concluir as graduações universitárias, consegue do governo francês uma bolsa de estudos para cursar mestrado em Antropologia na Universidade de Sorbonne, em Paris. Após um ano de permanência no continente europeu, acometido de severas crises de asma, e sem suportar o inclemente clima de inverno, é obrigado a abandonar o curso e retornar ao Brasil para recuperar a saúde.

Restabelecido plenamente, retoma a labuta, abandonando a carreira bancária e ingressando através de concursos públicos no magistério, tendo sido professor de ensino público, nas cadeiras de História e Francês, e professor de francês em diversas escolas de idiomas, instruindo inúmeras gerações de jovens, até se aposentar em data recente. Também nessa época desposa a Srta. Sandra, carioca e também professora de francês. Não tiveram filhos.

Bruno, que agora parte para outras moradas, foi um notável intelectual, conhecedor de várias áreas do saber humano. Grande leitor e bibliófilo, seu arcabouço de conhecimentos era vastíssimo, sempre abrangendo assuntos gerais e atuais, como cinema, literatura, jornalismo, artes, política etc., até os mergulhos nas complexas indagações filosóficas, religiosas e metafísicas. Apesar de seus amplos domínios culturais e educativos, nunca deixou de ser uma pessoa simples. Extremamente gentil, atencioso e prestativo com as pessoas, sempre amealhou uma infinidade de amigos e admiradores por onde andava.

Em Araguari, onde sempre passava pelo menos uma semana todos os anos, não deixava de visitar os parentes das famílias Alessi e Franco, bem como amigos e ex-colegas de escola e trabalho, a todos brindando com seu natural bom humor e arguta percepção da vida e de seu desenrolar.  Conversa inteligente e animada era com o Bruno, que a todos dedicava a sua atenção e carinho.

Apaixonado pelas histórias de Araguari e do Rio de Janeiro, que conhecia a fundo, a ponto de poder escrever livros sobre esses assuntos, Bruno também era um inveterado colecionador de cartões postais e selos, tendo escrito inúmeros artigos sobre os temas e se correspondido com pessoas do mundo inteiro para a troca de cartões postais. Adepto também da prática de andar a pé, era um verdadeiro andarilho, sempre anotando as paisagens, cores, clima, locais, prédios, praças, ruas, alamedas, esquinas, pessoas, acontecimentos, tudo gravado em sua prodigiosa memória para depois alinhavar suas anotações. A caligrafia também era objeto de sua atenção, conservando preciosa coleção de canetas e tendo o hábito de caprichar na sobrescrita de envelopes através dos quais mandava suas correspondências, o que maravilhava o destinatário, dada a beleza da escrita.

Suas viagens preferidas eram para Araguari, Paris e circuito das águas mineiras (São Lourenço, Cambuquira,  Caxambu, Lambari e outras) e estâncias litorâneas do Rio de janeiro. Mas, passeou muito por esse mundo afora, sempre de avião ou ônibus, pois jamais gostou de viajar de carro.

A morte assusta e sempre causa perplexidade. Como diz Rubem Alves, o problema “é o nunca mais”. Essa terrível noção da nossa finitude, ao menos aqui nesse plano material, a dor e o sentimento de perda que sempre estão presentes nesses momentos, tudo nos leva a sentir um grande vazio e desesperança.  No entanto, temos que seguir pela estrada da vida, até onde Deus assim o permitir. As jornadas que se findam são as mesmas que se iniciam, em um movimento que não acaba nunca. Que a alma do Bruno descanse em paz, e encontre logo, segura e altaneira, as suas veredas ou esferas.

VITÓRIO FERREIRA FRANCO VALVERDE MORAIS

7 Comentários

  1. Leila Regina Scalia Gomide e Eurípedes Xavier Gomide disse:

    Com tristeza soubemos, através deste jornal ,do falecimento de nosso amigo Bruno Franco. Fomos colegas no curso Clássico e no Colégio Regina Pacis respectivamente. Belo e procedente texto de Vitório Morais que retratou tão bem a personalidade do amigo que compartilhava conosco ,nos aos 60, do gosto pela língua e música francesa ( Piaff,), pela literatura e tudo que dizia respeito às humanidades.
    Descanse em Paz amigo,acompanhado pelos grandes intelectuais que também se foram nesta semana – João Ubaldo, Rubem Alves e Suassuna .
    Nossos pêsames à família e a você nossas orações e nossa saudade.
    Leila Regina Scalia Gomide e Eurípedes Xavier Gomide

  2. Stênio Alvarenga disse:

    Bruno Franco que conheci em nossa querida Araguari, onde nasci e estudei no mesmo Colégio Regina Pacis, na mesma época, porém no curso Científico, tendo portanto o prazer de compartilhar e conviver com ele. Sempre ereto e atencioso, prestativo e grande amigo, mas a vida passa. Que descanse em Paz, deixando em nossa memória a sua atenção e amizade.

  3. Miguel Barbosa do Rosário disse:

    Soube, há alguns dias, da morte de meu amigo Bruno através de um amigo comum, o também araguarino José Romildo. Pelo menos duas vezes ao ano eu almoçava com o Bruno. Era sempre um momento especial, visto que sua cultura era notável, sempre me dava notícias de amigos comuns de Araguari. Como o José Romildo queria se encontrar comigo para conversar, convidei o Bruno para também participar do encontro. Eu queria mostrar a ele uma foto em que ele aparece sorridente, a meu lado e de meus irmãos José e Cirilo. Queria dar-lhe também alguns selos. Esse encontro, porém, não pôde ser realizado. Lamento profundamente sua morte e peço a Deus que o tenha em seu Reino. Descanse em paz, querido amigo!
    Rio, 26 de agosto de 2014
    Miguel Barbosa do Rosário

  4. MIRIAM MANZI disse:

    Nunca conhecí uma pessoa tão culta como Bruno Franco. Ao longo de 15 anos, trabalhamos juntos e nessa jornada aprendí muito com ele. Homem íntegro, culto, estudioso e muito amigo. A verdade é que tivemos que devolver pra Deus esse anjo tão querido. Fique com Deus, Amigo

  5. Etelmiro Sousa de Castilho disse:

    Sonhei ontem a noite passada num ambiente ainda de estudante universitário e lá estava o amigo Bruno, Gozador, irônico com elegância. Hoje de manhã recorri ao Facebook procurando pelo seu nome porem nada. Fui ao Google, ai a surpresa, o espanto e, lagrimas vieram aos olhos. Li este texto àcima e ai, mais lagrimas pela perda do amigo e ex-colega do IFHICS na Federal do Rio de Janeiro. Na época éramos muito unidos: eu, Bruno, Mitoso e Andre Laino. Fazendo um trabalho de Antropologia sobre a “pilula”. As vezes bicávamos uma “marvada” cachaça que não sei como aparecera no grupo e repetíamos muito, em uníssono, o titulo em castelhano macarônico – “la píndula”. A ultima vez que o vi foi no colégio Pedro II, quando estava na Junta Medica submetendo-me a avaliação para retornar a sala de aula. Falou-me de sua recente ida a Paris nas festas da revolução francesa.
    Que você esteja entre a sonoridade do espaço cósmico mas desviando-se do caos emergente. Do amigo Miro.

  6. Osvaldo Barbosa Ferreira Filho disse:

    Somos primos. Nossos pais, José Franco e Oswaldo Barbosa além de primos, grandes amigos. Conheci o Bruno tardiamente é só nos vimos uma vez. Escrevíamos e falávamos pelo telefone. Admirava sua letra. Nutríamos a mesma paixão sobre a preservação dos dados históricos das cidades e nossos familiares. Fizemos planos para recuperar o descanso dos nossos avós comuns em Araguari. Não foi dessa vez. Foi com grande surpresa e pesar que soube do seu falecimento. Lamentei muito não ter conhecido o Bruno antes, mas nesse pouco tempo tornei-me um seu admirador e agora soube porque. Deus reservou para o Bruno um lugar especial.

  7. Antonio A dos Santos disse:

    Puxa, já se passaram sete anos do falecimento do meu amigo de Araguari: Bruno Vitório Ferreira Franco. Amigo, colega no curso clássico em Araguari, brilhante em todoas as coisas que fazia, que estuva, que lia e que falava. Participamos dos movimentos culturais e sociais em Araguari: cinema, política de esquerda, sindicatos estudantis e de trabalhadores no campo. Criamos jornais, clubes de leitura e debates políticos e de cinema. Criamos um cine-clube. As nossas atividades culturais e sociais tinham o apoio de estudantes, professores e operários. A presenca de Bruno era a garantia e o sucesso do projeto. Lamento profundamente a sua morte e levo aos filhos o meu abraço e apreço porque sei que seguem as pegadas de Bruno. Antônio Augusto dos Santos – Divinópolis Minas Gerais

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