Coluna: Direito e Justiça (14/11)
qui, 14 de novembro de 2024 08:07O Alienista – Machado de Assis:
A “Casa Verde”, onde Simão Bacamarte internava os loucos e os normais.
· Há muitos imperfeitos (ou loucos) soltos aí pelas ruas.
· Já nos disseram que a imperfeição é que nos torna humanos.
· Ser “normal”, digamos assim, é praticamente uma rara exceção.
· Eis a “Casa Verde”, o manicômio “gerenciado por Simão Bacamarte.
· Local para o internamento compulsório dos loucos e também. dos normais
· Um conto / novela jocoso e gostoso de ler do escritor José Maria, Machado de Assis.
· Se você ainda pensa – como eu – que é uma pessoa “normal”, convém ler “O Alienista”
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O Alienista – Resumo:
O Alienista é uma obra literária humorística do escritor brasileiro Machado de Assis. Muitos o consideram um conto, mas a maioria dos críticos e especialistas consideram-no uma novela por causa de sua estrutura narrativa. A obra gira em torno da estória de Simão Bacamarte, médico psiquiatra respeitado que viajou pela Europa e pelo Brasil, e sua Casa Verde, um hospício onde ele interna pessoas que agem de forma não racional. A principal característica dessa obra é a ironia, usada para criticar os excessos da ciência e do Naturalismo.
Quando abriu um consultório na cidade de Itaguaí, o Doutor Simão Bacamarte resolveu casar-se com uma viúva, Dona Evarista. A relação não era baseada no amor e sim na possibilidade de ter filhos. Simão acreditava que a viúva seria uma boa aliada para o intuito dele; no entanto, nunca chegaram a ter filhos.
Mais tarde, ele resolve criar um hospício (ou manicômio) na cidade, o qual recebeu o nome de Casa Verde. Empenhado em suas atividades, voltadas para a Psiquiatria, Simão começou a ter muitos internos (mais do que era de esperar), que viviam em Itaguaí e nos arredores.
Isso porque o médico começou a enxergar loucura, ou atitudes não racionais, em muitas pessoas. Costa, um homem que perdeu toda sua herança, foi considerado louco pelo alienista.
Essas atitudes (exageradas) começaram a deixar os cidadãos da cidade apreensivos, originando um movimento de protesto, liderado pelo barbeiro Porfírio. O movimento, que ficou conhecido como “Revolta do Canjica”, tinha sido batizado dessa forma por Canjica ser o apelido do barbeiro.
Diante dos protestos na frente da sua casa, o doutor recebe a massa com indiferença e retorna aos seus afazeres. No entanto, Porfírio tinha o intuito de seguir carreira política e, ao chamar Simão para uma reunião, acaba se aliando a ele. E as internações continuam cada vez mais numerosas na cidade. Devido às internações dos 50 membros que estavam apoiando a revolução de Porfírio, outro barbeiro da cidade, João Pina, consegue auxiliar na deposição de Canjica.
Ainda que todos tentassem lutar para acabar com a Casa Verde, o local se fortalecia com o passar do tempo. Numa passagem da obra, até mesmo Dona Evarista, mulher do Alienista, é internada. Tudo porque tinha tido uma noite mal dormida.
Quando 75% da cidade estava internada, Simão resolve voltar atrás e libertar todos os internos, certo de que sua teoria estava errada. Assim, o alienista começa a internar outras pessoas, seguindo outra teoria. O primeiro interno é Galvão, o vereador da cidade.
Tempos depois, compreende que sua nova teoria também está errada; por isso, libera todos os pacientes internados na Casa Verde e conclui que o único louco era ele. Coerentemente, o alienista resolve trancar-se na Casa Verde, onde morreu dezessete meses depois.
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GLOSSÁRIO
Conto:
– O conto é um gênero literário que se caracteriza por ser uma narrativa curta, concisa e que se desenvolve em torno de um conflito único. Tem poucos personagens, espaço e tempo restritos; possui uma estrutura com introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão inesperada ou surpreendente. Espécies de contos: contos de ficção científica, infantis, fantásticos, de fada, realistas, populares, de terror, de humor, psicológicos, etc.
Novela:
– A novela é um gênero literário que se caracteriza por ser um texto narrativo escrito em prosa, com extensão intermediária entre o conto e o romance.. Características: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo. Tamanho: geralmente de 50 a 100 páginas. Complexidade: menos complexa que o romance em relação a personagens e enredo. Hoje em dia (novelas da TV): a novela tornou-se um produto de entretenimento, que veicula diversas visões e percepções acerca do mundo cotidiano o que faz o público identificar-se com a forma (ou época) de viver dos personagens. O que eu acho de mais interessante nessas novelas de TV? A sua capacidade (eu diria incrível) de espichar-se (alongar-se) de acordo com a alta ou baixa audiência. Se for baixa, a novela termina rapidinho.
Naturalismo:
– O Naturalismo foi uma corrente literária que prezava pela representação objetiva da realidade, utilizando uma abordagem biológica, científica e patológica dos personagens. O estilo caracterizava-se pelo determinismo e pelo zoomorfismo. “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo é a principal obra naturalista brasileira. Quando estudante, eu aprendi que os naturalistas eram os realistas mais extremados (ou fanáticos), abusando de termos técnicos e científicos, apresentando explicações e argumentos rebuscados.
O Alienista:
´O Alienista é uma obra do escritor brasileiro José Maria Machado de Assis, que foi publicada em 1882. Divide-se em 13 Capítulos com títulos, e está inserida no movimento literário do Realismo, precedente do Naturalismo. Vale muito a pena ler.
Machado de Assis:
– José Maria Machado de Assis (1839 / 1908) é considerado o maior escritor da literatura brasileira, tendo sido o responsável por lançar o Realismo, que teve como marco inicial “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicada em 1881. Machado deixou um conjunto vasto de obras. Foi contista, cronista, crítico literário, jornalista, poeta e teatrólogo, além de ser o fundador e primeiro Presidente da Academia Brasileira de Letras – ABL, Patrono da Cadeira nº 23. Machado de Assis tornou-se o contista mais exponencial da língua portuguesa e um dos poucos romancistas brasileiros de interesse universal. As suas obras foram traduzidas para muitas línguas, viraram filmes, séries de TV e histórias em quadrinhos. Ex.: “O Alienista”, filme e HQ.
Obras principais de Machado de Assis:
– Romances: Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Casa Velha, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires.
– Contos: As Bodas de Luís Duarte, O Relógio de Ouro, Teoria do Medalhão, a Chinela Turca, O Anel de Policortes, A Segunda Vida, A Cartomante, Uns Braços, A Causa Secreta, Missa do Galo, Pai Contra Mãe, Suje-se Gordo, Marcha Fúnebre, O Alienista (conto / novela).
Poesias:
– Cito o poema A Mosca Azul, que conta a história de um pária que se apaixonou por “uma mosca azul, asas de ouro”, ou seja, algo ou alguém muito acima do seu alcance. A expressão popular “foi picado (a) pela mosca azul” significa aspiração por poder e glória em referência a quem busca. cargos de prestígio dentro de empresas ou governos. Ex.: o vice foi picado pela mosca azul e agora quer a cadeira do presidente. E por aí vai.
Comentártio Pessoal:
A obstinação, ou obsessão, do médico em encontrar ou vislumbrar loucura em todos gerou uma série de cômicas revoltas populares, que terminam com o próprio alienista declarando-se o único louco da cidade, porque era sua a personalidade perfeita em meio às demais personalidades defeituosas dos moradores da pequena cidade.
A mensagem passada por essa obra machadiana refere-se ao comportamento, às atitudes, aos interesses pessoais, às relações sociais e ao egoísmo humano, colocados em pauta, reflexão e discussão . A loucura e a sanidade apresentam uma linha tênue e até mesmo confusa ou indistinguível na visão do autor.
Trata-se de uma crítica irônica, mas mordaz, contra os cientistas da época que não possuem o conhecimento suficiente e necessário para fundamentar suas afirmativas e teorias. Mostra-nos também a hipocrisia humana, que preza muito mais os interesses de cada um do que os de caráter geral ou da coletividade.
Em uma frase, que ficou famosa e que vem bem a calhar, o próprio Machado de Assis disse que “esquecer é uma necessidade; a vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito”. Certíssimo…!
Encerro o comentário de forma muito sucinta, recorrendo à voz do povo:
– “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”.
Sim, toda pessoa tem dois lados: o sensato (ou racional) e o impulsivo (ou louco).
Por toda parte, ainda existem Simão Bacamarte e sua Casa verde. Com certeza!
Araguari – MG, 14 de novembro de 2024.
Rogério Fernal .`.
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Eu tenho todos que li nos tempos de escola, o Alienista também eu li, muito interessante. O povo de hoje não gostam de ler, tem pessoas que gostam, mas é raro.