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Coluna: Direito e Justiça (10/04)

qui, 10 de abril de 2025 10:14

Tudo Depende do Ponto-de-Vista:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ponto-de-vista:

– Ponto-de-vista é a forma como alguém pensa sobre algo, ou a opinião que tem sobre determinada situação. É também a perspectiva a partir da qual alguém analisa, dimensiona, avalia ou interpreta uma ideia, situação ou evento. Sinônimos: perspectiva, ideia, opinião concepção, modo de compreender.

– No sentido literal, ponto-de-vista é o local onde está o observador ou quem pretende ver algo. No sentido figurado, é a forma como se analisa ou se concebe uma situação. Por exemplo: “segundo o ponto-de-vista capitalista, a empresa visa o lucro”.

– Na filosofia, ponto-de-vista é uma atitude ou maneira específica de pensar sobre algo. Na terapia, enxergar vários pontos-de-vista ao mesmo tempo pode ser um objetivo. Na literatura, ponto-de-vista é a perspectiva a partir da qual o leitor vê (ou percebe) os acontecimentos da narrativa. No desenho, é o ponto a partir do qual o artista olha a cena.

Realidade:

– Realidade significa tudo o que existe, seja ou não perceptível. É a característica ou particularidade do que é real, verdadeiro ou tem existência objetiva, concreta. Realidade é o que existe efetivamente, em contraste com o que é fantasia, fantasioso, imaginário ou fictício. Consiste num ajuste entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e verossimilhança e engloba tudo o que é tangível e mensurável no universo. OBSERVAÇÃO: porém, a coisa não é tão simples assim. Há discussões sobre se de fato existe a “nossa realidade” ou o que ela é.

 

Os Cegos e o Elefante:

Há muitos séculos vivia na Índia um rei sábio e muito culto. Já havia lido todos os livros de seu reino. Seus conhecimentos eram tão numerosos quanto os grãos de areia do Rio Ganges. Muitos súditos e ministros, para agradar ao rei, também se aplicaram nos estudos e nas leituras dos velhos livros. Mas, viviam disputando entre si quem era o mais conhecedor, inteligente e sábio. Cada um se arvorava em ser o dono da verdade e menosprezavam os demais.

Em vista disso, o rei entristecia-se com a rivalidade intelectual tola e sem propósito por eles demonstrada. Resolveu, então, dar-lhes uma lição. Chamou-os todos, para que presenciassem uma cena no palácio. Bem no centro do grande pátio, na entrada do palácio, estavam alguns belos elefante, todos seguros por seus respectivos cuidadores. O rei ordenou que os soldados deixassem aproximar-se um grupo de cegos de nascença. Obedecendo às ordens reais, os soldados conduziram os cegos até os elefantes e, guiando-lhes as mãos, apresentaram-lhes os animais.

Um dos cegos agarrou uma das patas do elefante; o outro segurou-lhe a cauda; outro tocou a barriga; outro, as costas; outro apalpou as orelhas; ainda outro, as presas; o último, a tromba. O rei ordenou, então, que cada um deles examinasse bem, com ambas as mãos, a parte que lhes cabia e que cada um havia tocado.

Depois, perguntou a cada cego como é que lhe parecia ser, realmente, um elefante. Isso motivou uma discussão acalorada entre eles, pois as respostas eram todas diferentes e inteiramente discrepantes. Resumindo, cada cego respondeu:

– O elefante é como uma coluna roliça e pesada — disse o que agarrara a pata.

– Errado! O elefante é tal qual uma vassoura de cabo maleável – afirmou o que tocara a cauda

– Absurdo! O elefante é como uma parede curva e tem a pele semelhante a um tambor – insistiu o que tocara a barriga.

– Vocês não perceberam nada! O elefante parece-se com uma mesa abaulada e muito alta, desdenhou o cego que tocara as costas.

– Nada disso! O elefante é como uma bandeira arredondada e muito grossa que não para de tremular ao vento, resmungou entre dentes o que apalpara as orelhas.

– Pois, eu não concordo com nenhum de vocês! O elefante é comprido, grosso e pontiagudo, forte e rígido como os chifres, falou alto e convicto o cego que examinara as presas.

 

 

– Lamento dizer que todos vocês estão errados! O elefante é como a serpente, comprida e esguia, mas flutua no ar, disse com prepotência e de forma conclusiva o que havia segurado a tromba.

O rei divertiu-se muito com as respostas e, virando-se para seus súditos e ministros, disse-lhes:

– Viram? Cada um deles, sob o seu respectivo ponto-de-vista, disse a sua própria verdade. E estão inteiramente convencidos disso. Porém, a verdade de cada um deles é apenas parcial, pois a verdade inteira tornou-se inatingível e encontra-se nublada em face da falta de visão de um elefante completo.

E, finalizou com prudência e sabedoria:

– Como eles, assim também se encontram vocês, tolos e presunçosos, que se acham donos da verdade por inteiro, quando podem por suas próprias limitações possuir apenas uma parte dela, porque todo o conhecimento do mundo é insuscetível de apropriação por uma só pessoa por mais sábia ou estudiosa que ela seja.

 

FONTE: Um apólogo da religião budista.

Pesquisa feita no Google (com adaptação).

 

 

Comentário Pessoal:

Nenhum destes homens, cegos de nascença, respondeu por completo a pergunta, feita pelo rei, ou seja, de como é um elefante. Cada um pôde descrever apenas a parte do enorme paquiderme que havia sido tocada, formando-se em cada um a respectiva ideia do animal por inteiro e sob o seu ponto-de-vista pessoal.

Eles também não erraram, porque se juntarmos todas as respostas, embora consistindo em verdades parciais, poderemos concluir e aceitar que descreveram, no fim, um elefante por inteiro. E então poderemos conhecer a verdade real ou pelo menos aceitável e mais próximo dela. E qual seria?

Definir o que é realidade, ou verdade real, não é tão fácil como parece ser à primeira vista. Tanto isto procede que existem teorias bastante sólidas e factíveis de que a realidade humana, a “nossa realidade”, não passa, no fundo, de uma ilusão, impressão ou até mesmo de uma simulação computacional, quiçá criada por alguma raça muitíssimo adiantada. Adiantada e sádica, eu ouso fizer…!

 

 

No frigir dos ovos, o que é que essa estória ensina? Essa estória ensina-nos que é importante ouvir as opiniões dos outros e considerar diferentes perspectivas (ou pontos-de-vista), para chegarmos a uma compreensão mais completa, confiável ou exata do que de fato é real e verdadeiro.

Cada cego tocou e examinou apenas uma parte do corpo do elefante. Com base nessa percepção parcial, descreveram como o elefante parecia ser, crendo que o animal correspondia às suas experiências limitadas e subjetivas, motivo por que as descrições diferiram tanto umas das outras.

Assim também, nós, humanos, ciosos da nossa inteligência e raciocínio impecáveis, temos uma tendência de pretender chegar à verdade absoluta com base em experiências limitadas ou subjetivas, ao mesmo tempo em que ignoramos as experiências dos outros, ainda que também possam ser limitadas ou subjetivas, mas que podem ser igualmente verdadeiras, importantes e relevantes, quando todas forem consideradas no seu conjunto.

A verdade real, biológica e objetiva totalmente comprovável, se todos eles tivessem o sentido da visão. Como são todos cegos e só puderam fazer uma apreciação parcial e pequena do todo maior, resta-nos ao menos, juntando suas respostas, reconhecer o fato de que o elefante é mesmo tudo o que eles responderam: as patas, a cauda, a barriga, as costas, as orelhas, as presas e a tromba.

Doutra parte, sugiro aos meus leitores que vejam o filme Matrix, que se refere a uma simulação computacional da nossa realidade humana, o que me leva a pensar o quão insignificantes somos no contexto do universo ou o quanto podemos estar servindo de marionetes para um artista cósmico ou de joguete para um jogador alienígena, ambos igualmente inescrupulosos, insensíveis e mais poderosos do que nós.

Por fim, quero consignar um lembrete despretensioso:

– Se soubermos ouvir e compreender o outro e se observarmos o mundo por diferentes ângulos ou pontos-de-vista, chegaremos ao conhecimento e à sabedoria e, no fim de tudo, concordaremos com Sócrates, dizendo também que “só sei que nada sei”, pois, o conhecimento é infinito, sequencial e não pode ser apropriado por quem quer que seja. Somente Deus – que para mim é real – possui a onisciência.

 

Araguari – MG, 10 de abril de 2025.

Rogério Fernal .`.

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