“Anos de Chumbo”: de 1969 a 1974, Araguari viveu sua pior fase da ditadura
qui, 3 de abril de 2014 00:01ADRIANO SOUZA – A Ditadura Militar completou 50 anos e a Gazeta do Triângulo faz um breve relato desse período político e social em Araguari. A jovem e frágil democracia objetivada na Constituição de 1946 foi sobrepujada por disputas políticas e ideológicas, que abriram caminho para um golpe militar. A primeira metade da década de 1960 foi evidenciada por fortes convulsões políticas nacionais: a renúncia de Jânio Quadros em 1961; a experiência parlamentarista (1961-1963) eliminada por plebiscito; a restauração do presidencialismo e o golpe civil militar, em 1964. Em 1º de abril de 1964 um movimento desencadeado por militares e com intensa participação civil derrubou João Goulart da presidência da República. A ação marcou o início de um regime militar que ficou no poder por vinte anos. As cassações de direitos políticos, a censura, a tortura, prisões e mortes de dissidentes ocorreram nos anos de imposição militar que se espalhou por todo o país.
Segundo relato oral de pessoas da comunidade, músicas de cunho político ou social eram veementemente proibidas. No entanto, jovens na cidade as escutavam. Para isso, vedavam portas e janelas para que o som não propagasse. Era proibido, mas o pensamento crítico vagava dialeticamente. Entre os anos de 1967 e 1971, no governo de Fausto Fernandes de Melo (NAVES, 1988), compreendido na primeira época do militarismo, foi um período de muita apreensão. As pessoas, algumas de destaque na cidade, responderam ao IPM (inquérito político militar), por serem suspeitas de ideologia esquerdista.
Em 1965, por determinação da presidência da República, instalou-se em Araguari, o II Batalhão Ferroviário, o Batalhão Mauá. O regimento, uma organização militar da arma de Engenharia do Exército Brasileiro, visou principalmente à efetivação de seus serviços na construção do trecho de ligação férrea com a capital brasileira, Brasília-DF. Posteriormente, outros projetos foram efetivados, como a edificação de pontes, viadutos, túneis e outros, além de instituir a instrução militar de jovens da cidade e região. Sua implantação reafirmou e sustentou a ordem política vigente e, paralelamente, reaqueceu a economia local com a vinda de diversas famílias que ocuparam a Vila Militar, construída para esse fim. Atualmente, a corporação denomina-se 11º Batalhão de Engenharia de Construção.
Em 7 de julho de 1966 a Câmara Municipal sancionou e o prefeito decretou a Lei nº 1156, instituindo o Brasão e a Bandeira do Município; essa medida denotava bem o espírito da época, pulsada no orgulho nacional. No ano de 1967, criou-se, a 21 de junho, pela Lei 1244, a Biblioteca Municipal. Sua instalação determinou a concretização de antigo anseio da sociedade, que clamava por espaço destinado à leitura e a pesquisa, mesmo com seus títulos sendo supervisionados. Na época da instalação existiam apenas bibliotecas escolares, a exemplo do Colégio Regina Pacis, Sagrado Coração de Jesus e Escola Estadual Raul Soares.
“Assumi a prefeitura em 1966, e posso dizer que os municípios receberam um grande presente do então presidente Castelo Branco, que modificou a distribuição dos impostos retirando do estado, e passando aos municípios que na ocasião, viviam apenas de recursos provenientes do IPTU e ISS, que pouco representavam. O então primeiro presidente Castelo Branco, no regime militar, foi na verdade um pai para os municípios. Houve prisões e cassações, mas no meu ponto de vista, posso dizer que este período foi tranquilo em relação à outras cidades”, ex-prefeito Fausto Fernandes de Melo.
“A revolução foi um horror, assumi pela primeira vez a prefeitura em 1970, e o presidente era Emílio Garrastazu Médici (30/10/1969 a 15/3/1974), considerado o regime “Anos de Chumbo” com repressão política, exílios, tortura, prisões, desaparecimento de pessoas, combate aos movimentos sociais e censura, e tive aqui em Araguari, sérios problemas com o coronel Raimundo Saraiva Martins, que mostrava visivelmente sua vontade de cassar meu mandato. Tive que responder em Belo Horizonte até por ser acusado por ele de fazer do bosque municipal meu criadouro de passarinhos. Graças à Deus, implantei a diversificação agrícola no município e hoje tenho orgulho de saber que vários paranaenses que hoje estão aqui, foram motivados por mim, e graças a esse trabalho acabei me elegendo deputado federal”, ex-prefeito Milton Lima Filho.
Em meados de 2004, a reportagem da Gazeta do Triângulo, esteve na residência do saudoso médico Sebastião Campos, que além de vereador, também foi secretário municipal no período da ditadura. Ao ser indagado sobre o regime militar, Sebastião Campos, que viveu experiências nada agradáveis neste período, preferiu não comentar e muito menos relembrar sobre os ocorrido.
Na década de 1950 houve na cidade uma conceituada biblioteca aberta à população intitulada “Pio XII”, localizada em um sobrado à avenida Tiradentes. Seu amplo acervo, segundo relato do advogado Neiton de Paiva Neves era riquíssimo, composto de obras de autores como Platão e Conan Doyle. Entretanto, sua abrangência entre a comunidade era reduzida devido ao alto índice de iletrados no município. O conhecimento de sua existência era restrito aos estudantes, que disponibilizavam algumas horas para se enfronhar em temas sugestionados pelas numerosas estantes repletas de livros.
A Biblioteca Pio XII foi desativada após acidental incêndio, que levou à extinção do precioso acervo. Após o sinistro, alguns anos se passaram até a efetivação de uma biblioteca de consulta popular. O Batalhão Ferroviário também instituiu uma biblioteca que servia a militares e civis. Os títulos eram selecionados e direcionados à valorização da nação e dos “heróis” nacionais. No ano de 1967, em agosto, um grupo teatral foi fundado, o META (Movimento Educacional de Teatro Amador). Apresentando na forma de teatro de arena, formatou três obras: As Duas Faces da Sociedade; Liberdade, Liberdade; e Festival da Besteria que Assola o País. Os textos interpretados focavam a ditadura militar, sendo considerados politizados e corajosos. Naquele período, foi o único grupo do interior de Minas convidado a participar do 2º Festival Brasileiro de Teatro Amador.
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nao apanhaou quem nao merecesse, nao morreu que fez juz, pois o maior erro dos militares a meu ver foi o de deixar essa corja de ratos do PT, a dilma, o genuino, o ze dirceu etc.. vivos, deveria ter morrido todos, hj vivemos ditadura da falta de respeito, da falta de educacao, da falta de saude publica e seguranca, nunca se construiu tanto, nunca se criou tantos empregos quando da epoca dos militares, o governo militar foi muito ruim mesmo,mas ruim para os vandalos,ladroes,comunistas e guerrileiros, tinha naquela epoca ,respeito e patriotismo, duas palavras escluidas nos dias de hoje.
vc com este comentario lamentavel nao sabe o que foi a ditadura para fica falando besteira se nao teve estudo fica calado
Ao mirar esta foto, por favor, permitam-me externar sentimentos, do recondito do coração de um velho guerreiro ferroviário, dizendo bem assim: “Meninos eu vi”. O sonido cadenciado enérgico dos “butes” no solo sagrado de minha araguari, adrenalizavam nossos brio, honestidade, coragem patriotismo donde gritavamos:
Brasil acima de tudo. Dediquei 31 anos de minha vida ao glorioso EB. Hoje, infelizmente, quando se me encanecem os cabelos, não mais ouço o som deste coturnos no solo de nossa Pátria.
O som se tornou inaudivel, abafado pelas vozes corruptas, cruéis e dedos sujos que nos apontam e acusam. Acusam-nos por termos sido incansaveis trabalhadores e cumpridores de nosso sagrados deveres, trazendo progresso e segurança para o Brasil..? Por tudo isto e pelo que não mais delongaremos, ufano-me de poder ainda gritar: MISSÃO CUMPRIDA. SELVA. BRASIL ACIMA DE TUDO. URRA!
Lamentável esses que ainda se vangloriam por tal vergonha na história política brasileira.