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#a liberdade é nosso maior inimigo

qui, 18 de setembro de 2014 00:00

Não é fácil alçar vôo.

Tem muito alçapão por aí e perigo por todos os lados.
tudodegraca

 

juliano fabricioJULIANO FABRÍCIO

Aquilo que nos alimenta e protege é nossa prisão. Ainda que tenhamos consciência de nossa condição de prisioneiros, sabemos que é só na segurança da gaiola que temos sombra e água fresca. Não queremos alçar vôo.

No centro da nossa ilusão há somente uma grande e assustadora roda que prossegue girando e girando. Nós é que a movemos. Estamos todos correndo dentro dela, como ratos. Ela tem muitos nomes, muitas faces. Alguns a conhecem como trabalho, outros a chamam de família, outros ainda de igreja. Cada um acredita-se livre do outro, mas estão todos juntos. Seja qual for o nome, o destino que nossa ilusão criou é o sucesso, o caminho é a performance e o guia a segurança e o conforto.

A loucura daquele homem que não tinha onde reclinar a cabeça foi convidar-nos a voar. Mostrou-nos a porta da gaiola aberta. Xô, disse ele, voem, libertem-se. Abram mão do alimento, da segurança, da proteção, do sucesso, da glória. Só assim serão livres.

Pobre infeliz.

Não sabia que ninguém o seguiria por isso.

A liberdade é nosso maior inimigo.

Tranquem a porta, joguem a chave fora.

Quem teria coragem de voar?

******

“Eles me disseram tanta asneira, disseram só besteira

Feito todo mundo diz.

Eles me disseram que a coleira e um prato de ração

Era tudo o que um cão sempre quis

Eles me trouxeram a ratoeira com um queijo de primeira

Que me, que me pegou pelo nariz

Me deram uma gaiola como casa, amarraram minhas asas

E disseram para eu ser feliz
.

Mas como eu posso ser feliz num poleiro?

Como eu posso ser feliz sem pular?

Mas como eu posso ser feliz num viveiro,

Se ninguém pode ser feliz sem voar?
.

Ah, segurei o meu pranto para transformar em canto

E para meu espanto minha voz desfez os nós

Que me apertavam tanto

E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela

E sem o peso das algemas na mão

Eu encontrei a chave dessa cela
.

Devorei o meu problema e engoli a solução

Ah, se todo o mundo pudesse saber

Como é fácil viver fora dessa prisão

E descobrisse que a tristeza tem fim

E a felicidade pode ser simples como um aperto de mão
.

É esse o vírus que eu sugiro que você contraia

Na procura pela cura da loucura,

Quem tiver cabeça dura vai morrer na praia.”

Trecho de A CARTA. Compositor: Djavan/Gabriel, O Pensador

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