A corda (?????) Brasil!!!!!, por Marcelo Inácio
qui, 3 de abril de 2014 00:00Marcelo Inácio (*)
Durante o movimento popular que sacudiu o Brasil no ano passado o amigo Luiz Muílla pediu que escrevesse um artigo sobre os fatos e sua repercussão, então decidi não escrever no calor dos acontecimentos para uma melhor avaliação de como os movimentos repercutiram e, em nosso país.
Passado quase um ano das manifestações (junho de 2013) que aconteceram, inclusive em nossa cidade, em todas as principais cidades do Brasil, o saldo que se esperava revelou-se totalmente negativo, não deixando nada de positivo, exceto que no Brasil o que preocupa são as questões menores, como o aumento de R$ 0,25 na passagem do transporte público, e não o estado deplorável do transporte e de outras coisas públicas.
Seguindo este raciocínio de que o que importa é fazer barulho e não o porquê do fazer barulho, as manifestações, inicialmente pacíficas, desandaram, e foram substituídas pela orgia da quebradeira e violência sem freios, promovida pelos auto denominados “blackblocs”, que culminou com a morte de um cinegrafista, Santiago Andrade (citado nominalmente para que não caia no esquecimento como sempre acontece nesse país sem memória) e a prisão de dois manifestantes responsáveis pelo “acidente”, pois a intenção não era matar, mas assustar, segundo um dos suspeitos.
O fato é que de lá para cá podemos dizer que pouco mudou, mas levantando o véu que cobre o iceberg, veremos que ao contrário muita coisa mudou, e para pior, sem novas manifestações do povo brasileiro que tudo aceita pacificamente, menos o aumento de R$ 0,25 que foi cancelado, mas os transportes públicos continuam os mesmos, bem como a saúde pública e de forma geral os serviços públicos.
Revendo os acontecimentos deste último ano, os mais importantes e vitais para a nação e o povo brasileiro passaram completamente despercebidos e irão causar mais impacto sobre o país do que o reajuste das tarifas de ônibus, e não motivaram manifestações por parte do povo, mesmo porque este se prepara visando salvar o orgulho da nação em junho próximo, quando estaremos vivendo no paraíso e tudo será divino e maravilhoso.
Dentre estes acontecimentos de que falo o mais nefasto e perverso é a transformação da corte superior, que deveria ser independente, e tem sido transformada em uma repartição pública. Citando J. R. Guzzo em sua coluna denominada “de dose em dose” publicada na revista Veja edição de 12 de março, diz o articulista que “destruir o Supremo Tribunal Federal é destruir a pátria. País sem Supremo é país sem lei, e país sem lei não é mais nada – apenas um ajuntamento de gente submetida à vontade do mais forte”.
Assim o governo federal vem sistematicamente implantando a política que levou o caos à Venezuela, baseado na doutrina chavista de que para implantar uma ditadura é melhor mudar as instituições em doses homeopáticas do que levar as forças armadas e mudar pela violência, assim nomeiam se juízes simpáticos ao poder dominante para a corte suprema e se acaba com a independência dos poderes, pois Executivo e Legislativo (ambos, poderes corruptos e corruptores) andam de mãos dadas.
Desmantelando a estrutura da administração pública como um todo, governantes podem se manter de forma eterna no poder apenas revezando que está no comando, e os desmandos continuam sem qualquer reprimenda ou punição aos culpados.
Assim quando me perguntam sobre as manifestações de junho passado, e aquelas que estão programadas para junho deste ano, e se as mesmas trarão qualquer modificação significativa para nosso país, sou cético, pois afinal de contas não vejo nenhuma mudança à vista. Baseio minha conclusão em um fato histórico de grande importância para nosso país a independência acontecida em 7 de setembro: afinal, alguém se deu conta de que a figura de ponta nesse processo foi um português e não um brasileiro? Pois é, nem para se libertar do jugo de um país estrangeiro o Brasil teve alguém nascido em seu território para lutar pela sua liberdade. Em tempo Pedro I no Brasil, foi Pedro IV em Portugal.
Grandes manifestações no Brasil estão ligadas principalmente a eventos esportivos e seus resultados, e assim de quatro em quatro anos surge o patriotismo exacerbado, em que o país se pinta de verde e amarelo, e grita-se a plenos pulmões “Pra frente Brasil” e “Somos todos um só povo”, mas a realidade é que nem as manifestações pelas eleições livres tiveram a grande participação popular que se esperava, pois se restringiram às grandes capitais e não foram uma mobilização popular, mas de políticos que queriam uma democracia, conseguiram, mas para fazer o que, além de defender seus interesses próprios e mesquinhos?
O fato a ser observado é que ainda falta muito para que o Brasil deixe de ser o ajuntamento citado pelo J.R. Guzzo em seu artigo e passe a ser verdadeiramente uma nação, e o primeiro passo para essa transformação é compreender que “coisa pública” é um bem que pertence a todo mundo, mas que não deve ser espoliada e roubada por isso, mas deve ser guardada, cuidada e utilizada por todos, pois se jogamos um papel de bala no chão, estamos pagando para alguém recolher, mas se colocarmos o mesmo papel em uma lixeira, sem destruí-la, o custo para recolher esse papel será muito menor, e sobrará dinheiro para a saúde pública, remédios etc…
Assim que compreendermos o que é a “coisa pública” saberemos cobrar das autoridades eleitas uma melhor administração, pois entenderemos onde será colocado o dinheiro dos impostos que pagamos, e cobraremos a melhoria do serviço, e aqueles que não compreenderem isso perderão seus cargos e carreiras políticas, sendo julgados pelas suas realizações e não por sua conversa macia e tapinha nas costas.
Vejo apenas um movimento que engloba a população, e não é “Acorda Brasil”, mas “A Corda Brasil”, que lentamente enrola-se em nosso pescoço e lentamente irá nos sufocar.
(*) Advogado
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