Mãos ao alto, por Marli Gonçalves
qui, 9 de janeiro de 2014 02:37* Marli Gonçalves
Isso, aquilo e aquilo outro: tudo é um assalto! Não reaja. Ou reaja, mas temo que não vá adiantar muito. Somos assaltados, roubados, furtados e outros ados (e idos) todos os santos dias. Em vários locais, sentindo, percebendo ou não. Pior: oficialmente, por empresas credenciadas e pelo próprio governo. Afinal, impostos se pagam para quê?
Você aí faz compras? Come? Deu um pulinho no supermercado, sei lá, este mês? Não é para entrar com as duas mãos para o alto, até antes de passar no caixa? Se é que vamos passar pelos caixas, porque na toada que estamos indo, de alta de preços, de descontrole inexplicável, iremos ao supermercado ou à quitanda só para fotografar – não está na moda, fotografar-se e postar na internet? Vamos posar com o tomate. Abraçando o mamão. Beijando um pedaço de queijo. Sorrindo, ao lado de uma peça de carne. Fazendo de conta que estamos tomando um iogurte.
Ah, não, que loucura é essa minha? Como vamos fotografar se aquela conta ininteligível que as operadoras mandam cada dia está mais alta e indecodificável? Postar na internet? Teremos que sair por aí procurando algum rico com wi-fi, igual a caçadores de borboletas.
O despropósito é total. Não há mais referência, padrão de comparação, nem vergonha na cara. O contágio tem sido célere. Cada um pede o que quer, e acha otário para pagar, vai aumentando o preço, uma bola de neve, que envolve também o pagamento dos serviços. Sabe quanto um pintor está cobrando? Fora o preço da tinta! Uma latinha, quase cem reais. Se escolher uma cor especial, com nome bonitinho como “vermelho pitanga do agreste” ou “amarelo raios de sol do Oriente”, prepare-se: o galão vai te depenar.
Eletricistas, sapateiros, tintureiros, encanadores, todos, enlouquecidos. Dá até palpitação receber o orçamento. De algum lugar tem de sair dinheiro. Temo que também nisso possa ser encontrado o dedo mindinho do governo que se vangloria de ter alçado pobres para a classe média. Compraram carros em 72 vezes, não calculam juros, não têm informações suficientes para avaliar, estão no momento farra e impulsionando o país para um buraco que quem viveu bem lembra, o buracão da inflação. Galopante. Tudo criado dentro de um ambiente falso, com índices manipulados, e assovios de políticos populistas. Bolhas, bolhas e bolhas.
Mas comecei a falar sobre esse assunto porque tive um trauma pesado essa semana. No mês passado liguei na minha operadora de celular, a principal, aliás, porque são tão ruins os serviços que precisamos ter pelo menos duas opções para nos salvar em emergências. A conta estava uma fortuna – cortei, passei uma linha para pré-pago, diminui os kabaites e emebaites. Dediquei três horas para isso, contando as ligações despencadas, os atendentes gerúndicos, a infernal musiquita de espera. Passado o mês fui feliz da vida abrir a conta e, surpresa, me cobravam o dobro, duas fortunas. Até chorei. De desconsolo. Revoltada, peguei mais uma hora para ligar, reclamar, brigar – Ô, stress! Enfim, consegui que admitissem o erro básico, claro, deles: eu não tinha um plano; esqueceram. Então, cada telefonema que dei no mês – ainda bem que só falo o necessário – foi cobrado. Reparou quanto custa cada minutinho? Furto. (A diferença entre furto e assalto é que no furto não há o contato com a vítima, entende?).
Estou vendo amigos postando relatos parecidos, muito esperançosos, acreditando na interferência quase divina das agências reguladoras Anatel, Aneel, ANS, letras que nos faltam quando mais precisamos.
Os seguros-saúde que temos de manter porque no hay gobierno aumentam quanto querem. A conta de luz que prometeram que baixaria o preço… Sentados, esperamos. No escuro. E o gás? Reparou que cobram até o que você não usa? Sim, como se fosse uma franquia. Some, vá somando. No dia do pagamento, suma.
E o que a gente não vê, mas está sendo roubado? Tipo gasolina no posto. Esse problema eu resolvi: tenho um posto de estimação, de confiança. Cada vez que não consigo chegar lá e uso outro, fico impressionada como as bombas viram armas e assaltam, cobram e não entregam.
A lista é grande. Tem a conta do restaurante: quando a gente vai checar quase sempre é mais salgada do que o prato que se comeu. E os preços mais embutidos do que salsicha e linguiça? Você vai comprar uma coisa e mal sabe que está pagando por outra que não tem nada a ver, e que foi colocada indelicadamente nos custos gerais.
Mãos ao alto! Isso é um assalto!
Mas esses meliantes que estou denunciando raramente são presos, e não sou eu quem vai pedir que voltem – para quem lembra – os “fiscais do Sarney”. Éramos nós!
São Paulo, preços na hora da morte, e 2013 não acabou
* Jornalista – Encontrei uma expressão popular bem louca para definir nosso orçamento: anda mais justo que boca de bode. Cada vez vamos ficar mais por fora que umbigo de vedete
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