Menopausa (Parte 1)
sex, 10 de outubro de 2014 00:01
1-O que é menopausa?
A menopausa é uma fase crítica na vida da mulher, uma fase psicológica delicada em que alterações nítidas de comportamento podem ocorrer. Mulheres que passaram por essa experiência e as pessoas que conviveram com elas são unânimes em reconhecer determinados sintomas, entre eles, a depressão e a habilidade emocional. Mesmo aquelas que manifestam pequenas alterações comportamentais, queixam-se da mudança aparentemente sem causa do humor ou da vontade de chorar que inexplicavelmente as invade de uma hora para outra.
É um fase perigosa que exige atenção porque, em alguns casos, transtornos psiquiátricos sérios podem acometer algumas mulheres. Todavia, muito do que se fala a respeito desse tema não passa de mitos criados pelo ideário popular. Desde que convenientemente assistida, a mulher menopausada pode gozar de excelente qualidade de vida.
2-Quais as alterações psicológicas mais comumente encontradas nas mulheres quando chegam perto da menopausa?
É importante que as pessoas saibam as diferenças entre as diversas fases desse período denominado genericamente de menopausa. Na realidade, o climatério começa por volta dos 41 anos de idade, estende-se até mais ou menos os 65 anos e é marcado por pequenas alterações físicas e psicológicas. Dentro dessa grande margem de tempo, ocorre a menopausa, isto é, a data em que aconteceu a última menstruação e que só pode ser determinada retrospectivamente depois que a mulher passou pelo menos um ano em amenorreia (sem menstruar).
Antecedendo o episódio da menopausa, temos a perimenopausa, período em que há alterações hormonais importantes, especialmente nos níveis de estrogênio e progesterona. Nessa fase, a vulnerabilidade feminina é maior aos sintomas físicos e psíquicos. Entre os físicos destacam-se os fogachos (ondas de calor intenso) e, entre os psíquicos, tristeza, desânimo, irritabilidade e labilidade emocional, ou seja, grande flutuação do humor. Muitas se queixam, ainda, de insônia e alterações da memória. Por isso, é fundamental determinar se a mulher se encontra na perimenopausa ou na pós-menopausa, fase em que os transtornos psiquiátricos são menos prevalentes.
Quando se fala em menopausa, é preciso deixar bem claro que diversos fatores influenciam o desenrolar do processo. Não é apenas uma questão hormonal. Há fatores psicossociais preponderantes quer marcam esse período e podem estar na gênese dos transtornos psíquicos.
Por exemplo, a mulher cuja vida social era ativa e se dedicou plenamente à família e à educação dos filhos, de repente se depara com os filhos crescidos, saindo de casa, e vive a síndrome do ninho vazio. Além disso, a relação conjugal pode estar passando por transformações que exigem diálogo para reconstruí-la em novos moldes. Dependendo de seu arcabouço psicológico, recursos internos e personalidade, essa mulher irá elaborar de forma construtiva ou não as modificações que estão ocorrendo em sua vida na época da menopausa.
3-Do ponto de vista sexual, quais são as principais alterações que ocorrem na fase de perimenopausa?
As principais queixas são dispareunia, ou seja, dor na relação sexual, e a diminuição da libido. A dispareunia ocorre porque o epitélio torna-se mais fino e menos lubrificado pela falta de estrogênio. A vagina mais seca pode dificultar a relação. No que se refere à falta de desejo, muitas vezes, o que gera ansiedade é a comparação com o que a mulher sentia no passado. Deve-se considerar, também, de que nessa faixa etária o homem pode apresentar um distúrbio ou disfunção sexual que afeta a companheira. Por isso, é tão importante examinar os aspectos biológicos e hormonais femininos quanto os de sua relação familiar e conjugal.
4- Você deixou claro que as alterações psicológicas estão diretamente ligadas à história de vida de cada mulher e por isso variam muito?
Em psiquiatria e psicologia, é muito importante ter um follow-up, levantar um histórico preciso da vida da pessoa. Por exemplo, há mulheres que mudam drasticamente de comportamento e atitudes, como se tivessem mudado de personalidade. A pessoa alegre e extrovertida de antes, que elaborava de forma construtiva suas frustrações perante a vida, transforma-se noutra, cabisbaixa, pessimista e irritável, queixando-se de angústia com frequência. O marido observa que ela está de pavio curto, estourando por motivos banais.
Por isso, em saúde mental, nunca se pode considerar um corte transversal na vida da mulher. É preciso levantar um histórico para avaliar o que mudou nas relações e interações com ela mesma e com as pessoas de seu convívio familiar e social.
Nessa fase, as queixas de perda de memória são muito importantes. “Doutor, tenho que anotar tudo. Não me lembro mais das datas dos aniversários, e esqueço o número dos telefones de pessoas para as quais ligo costumeiramente.” Muitas temem estar desenvolvendo um quadro demencial e procuram neurologistas e psiquiatras, queixando-se dessas alterações de memória.
A queda na produção de hormônios também se reflete no padrão de sono, que pode melhorar com a terapia de reposição hormonal (TRH).
5-Nessa fase, quais são as alterações mais comuns na arquitetura do sono?
As alterações mais comuns envolvem insônia inicial (a mulher deita e não dorme) e o despertar precoce, ou seja, em vez de acordar no seu horário habitual, ela acorda de madrugada e isso, sem dúvida, prejudica a qualidade de sua vida.
Hoje, quando se fala em reposição hormonal, sempre se tem em consideração a qualidade de vida da mulher, que pressupõe saúde física e mental na menopausa. Essas questões nunca estão dissociadas. Ao contrário, estão sempre totalmente integradas.
6-Qual seria o perfil da ação do estrogênio no sistema nervoso central e que repercussão provoca no comportamento?
Mulheres mais sintomáticas, que iniciam a reposição hormonal precocemente, costumam ter melhora dos sintomas com a reposição hormonal. No entanto, em medicina, não se pode ser reducionista. Às vezes, as pessoas concluem apressadamente que a reposição hormonal traz ou não benefício à vida da mulher. Não podemos nos esquecer, porém, de que existem vários tipos de reposição hormonal, várias dosagens e vias de administração. Não é um tratamento único o que obriga determinar em que grupo de mulheres a reposição funciona e em que grupos deixa de funcionar. Mulheres na perimenopausa ou na pós-menopausa? Com poucos sintomas ou com transtornos psiquiátricos? Que tipo de hormônio foi utilizado? Que tipo de progesterona?
O estudo do WHI (Women Health Initiative) causou celeuma, mas se resumiu a avaliar a aplicação do acetato de medroxiprogesterona e estrogênio equino-conjugado. Não sou contra nem a favor à terapia de reposição hormonal. Visando sempre à qualidade de vida da mulher nessa fase, acredito, porém, ser válido prescrevê-la, desde que a indicação seja precisa e os riscos pequenos e controláveis.
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