Um retrato de Uberabinha na década de 1920
qui, 29 de maio de 2014 00:04
Uberabinha. Assim ficou o nome da florescente, progressiva e industriosa cidade que veio substituir o antigo Arraial de Villa de São Pedro. O seu formoso rio deu o nome à estação da estrada de ferro, que foi inaugurada em 1896. E a estação da estrada de ferro legou o nome à cidade em gestação. Assentava a cidade de Uberabinha à margem esquerda da ferrovia Mogiana e graciosamente se espalhava por uma vasta esplanada, com leves declives para o ribeirão São Pedro e o córrego Cajubá.
Toda a cidade surgia em terrenos foreiros do primitivo patrimônio territorial de Nossa Senhora do Carmo, e uma relevante parte da zona suburbana em terrenos doados em datas posteriores à Nossa Senhora d’Abadia. A área global da cidade, parte urbana e suburbana, atingia quase a cinco quilômetros quadrados.
Seis extensas e cômodas avenidas e uma vasta rede de ruas bem alinhadas e muito bem tratadas, recortavam a zona urbana e a suburbana. Espaçosas praças e logradouros públicos, em número de nove, fervilhavam sempre de crescente animação. Belos jardins públicos, em número de três, foram instalados no centro de suas praças principais, quebrando-lhes a monotonia do vazio.
Sua população urbana era orçada em seis mil habitantes, de modo que, depois de Uberaba e Araguari, era Uberabinha o maior centro de população de todo o Triângulo.
Seu clima era ameno, seus ares puros, seus habitantes inteligentes, calmos e ativos, seu solo fenomenamente ubertoso. A medida de sua temperatura, de um quente seco, quase constante, oscilava normalmente de 15 a 22 graus centígrados.
Numerosos e belos edifícios, de fino gosto moderno, compunham a nota alegre, cantante, pela extensão de suas ruas e pela vastidão de suas praças. O Palácio da Municipalidade, o Fórum, O Gynnasio de Uberabinha, o Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão, a Santa Casa de Misericórdia, o reservatório de água, já eram construções de valor e de gosto. Alguns estabelecimentos de comércio e da indústria locais e muitas vivendas particulares davam ideia altamente favorável do espírito de iniciativa e do estetismo do povo uberabinhense.
Pena é que, no febril evoluir da cidade, os dois únicos templos haviam ficado à margem do progresso urbano e, em absoluto, não traduziam o espírito religioso da grande maioria do povo uberabinhense. A vetusta Matriz, embora limpa e bem conservada, ficava sempre uma construção obsoleta, de pesada arquitetura colonial, e a Capela do Rosário não passava de acanhada e desguarnecida ermida sertaneja. Eram senões da moderna Uberabinha, que seriam corrigidos duas décadas depois.
No entender de seus habitantes, um grande futuro estaria reservado a Uberabinha, devido às suas extraordinárias possibilidades hídricas que o seu formoso rio, à pequena distância, oferecia a uma mais intensiva e utilitária exploração. Com despesas relativamente módicas, sete quedas d’agua poderiam ser aproveitadas para uma intensificação de beneficiamento hídrico-elétrico gradual e seguro.
A par do progresso material, o progresso intelectual de Uberabinha estava grandemente acentuado no final na década de 1920. O Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão, numerosas escolas municipais espalhadas pela cidade e seus distritos, escolas particulares para ambos os sexos, colégios infantis e alguns jardins de infância, ministravam a instrução primária a uma densa população escolar. O Gynnasio de Uberabinha, sob a competente direção do senhor Antonio da Silveira, ministrava a instrução secundária e a comercial a uma larga falange de moços que ali afluíam de perto e de longe.
A Santa Casa de Misericórdia, elegante, artística, imponente, desde 1918 acolhia em seu seio, sofredores e desvalidos às dezenas e o Asilo de São Vicente de Paula, caritativa ideação do coronel Arlindo Teixeira, viria preencher a lacuna do alojamento de velhos e pobres.
Uberabinha era considerada uma cidade de bastante conforto, quer na habitação, quer na locomoção, quer na convivência social. Suas casas, em grande parte de estilo moderno, arejadas, limpas e graciosas, impressionavam favoravelmente os visitantes e proporcionavam todo conforto aos inquilinos. Suas ruas, que se cortavam, em regra, em ângulo reto, amorosamente cuidadas pelos poderes públicos, já algumas arborizadas, percorridas por veículos de toda espécie, eram cômodas e pulsantes artérias do seu movimento urbano que, dia a dia, se avolumava. Seus logradouros e parte de seus subúrbios ofereciam trechos panorâmicos de um efeito magnífico.
Os serviços de água e de luz nada deixavam a desejar. A rede de esgotos progressiva e racionalmente se intensificava. Sua rede telefônica era simplesmente modelo e prestava grandes serviços, quer públicos, quer particulares. Sua indústria, embora em primeiros passos, já se individualizava de forma promissora. Seu comércio, ativo e factivo, tornava-se, cada vez mais, fator de engrandecimento. As comunicações com os municípios limítrofes e com os povoados vizinhos, até o majestoso rio Paranaíba, exercidas pela Companhia Auto-Viação Intermunicipal de Uberabinha, numa extensa rede estradal, eram regulares, rápidas e seguras.
A população de Uberabinha, franca, leal, calma e hospitaleira, inteligente e ativa, enveredou desassombrosamente pela senda luminosa do progresso e tudo fazia crer que a passos largos continuaria a ir avante, sem vacilações nem desfalecimentos.
O povo de Uberabinha amava esse nome, que era o da sua terra. Quando, em 1915, entre os dois periódicos locais, O Progresso e O Brasil, corria a polêmica da mudança do velho nome para Uberlândia ou outro que mais bem soasse, o povo, chamado ao referendum, com voto quase unânime, optou que Uberabinha ficasse sendo Uberabinha mesmo.
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Coimbra Júnior.
(*) Administrador de Empresas, especializado em Finanças. Trabalha atualmente na Via Travel Turismo. Criou a página História de Uberlândia no Facebook.
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