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Recorde: hoje com 21 anos, araguarino recebeu marcapasso com 48 horas de vida

sáb, 2 de agosto de 2014 00:06
Joel: “sou dependente total desse aparelho”. Foto: Gazeta do Triângulo

Joel: “sou dependente total desse aparelho”.
Foto: Gazeta do Triângulo

ADRIANO SOUZA – Um dos mais importantes registros da medicina é de Araguari. Joel José Lessa, 21 anos, recebeu o aparelho  marcapasso aos dois dias de idade. Declarado dependente do aparelho, o jovem falou com a reportagem da Gazeta do Triângulo sobre a experiência inclusive, as dificuldades que ele enfrenta para trabalhar uma vez que não pode pegar peso ou ter contato com eletricidade.

Tudo começou em 1993 quando dois dias após seu nascimento o médico José Maria  de Melo detectou a necessidade do aparelho para salvar a vida de Joel que foi transferido para Uberaba. Naquela cidade, o médico Celso Salgado acabou realizando uma cirurgia inédita no país em um bebê com quarenta e oito horas de vida.

O sucesso da cirurgia repercutiu na imprensa regional e será lembrado em setembro, pois equipe de um canal de TV esteve em Araguari na semana passada para registrar o resultado da cirurgia 21 anos depois. “Durante esses vinte e um anos, passei por quatro cirurgias e recentemente houve um problema no cabo eletrodo. Comecei a sentir falta de ar e tontura, então foi preciso passar por uma cirurgia em outubro de 2013. Estou desempregado, pois não posso pegar peso e preciso evitar eletricidade”, comentou Joel com a reportagem. Casado e pai de família, Joel busca nova oportunidade de trabalho.

MARCAPASSO EM CRIANÇAS
O avanço tecnológico dos geradores de marcapasso com a multiprogramabilidade, que permite adequar a estimulação ao paciente, os sensores biológicos que permitem respostas de frequência de estímulos com ajuste automático, as baterias de lítio que permitem uma longevidade superior a seis anos e também a diminuição de tamanho e peso dos geradores possibilitou o desenvolvimento da estimulação cardíaca em crianças.
Os cabo-eletrodos que tiveram grandes aperfeiçoamentos no isolante, no condutor, no eletrodo e no desenho continuam sendo a parte mais crítica do sistema marcapasso, principalmente neste tipo especial de paciente que apresenta características próprias, tais como o crescimento e o longo tempo de estimulação previsto.

MATERIAL E MÉTODO
Entre julho de 1975 e setembro de 1988, trinta e três pacientes com idade entre 9 meses e 17 anos (média 8,3 anos) foram operados no Serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital Evangélico de Curitiba, Paraná, para implante de marcapassos, sendo 19 do sexo masculino e 14 do sexo feminino.

A indicação desses implantes foram: 23 pacientes por bloqueio atrioventricular total (BAVT) iatrogênico (69,6%), 9 pacientes por BAVT congênito (27,2%) e 1 paciente por BAVT com miocardiopatia de etiologia não determinada (3,0% ). A estimulação cardíaca ventricular de demanda (VVI) foi utilizada em 22 pacientes (66,6%), a estimulação cardíaca ventricular de demanda com resposta de frequência automática (VVI-R) foi utilizada em 6 pacientes (18,1 %) e a estimulação cardíaca de dupla câmara (DDD) foi utilizada em 5 pacientes (15,1%).

RESULTADOS
Não ocorreram óbitos na fase hospitalar. O seguimento em 93,9% dos pacientes variou entre 1 mês e 14 anos (média: 4 anos e 11 meses). Nesse período, 2 pacientes (6,4%) faleceram, sendo 1 por hepatite virótica (1 mês de implante) e outro subitamente, quando praticava esporte após 5 anos e 7 meses do implante. Oito pacientes (24,2%) foram reoperados para 14 trocas de gerador.
Sete cabos-eletrodos epimiocárdicos (18,5%) tiveram de ser substituídos, sendo 4 por aumento de limiar e perda de comando (11,1 % ) e 3 por fratura (7,4%). Quatro cabos-eletrodos foram substituídos por epimiocárdicos e 3 por endocavitários; 2 dos 4 novos cabos-eletrodos epimiocárdicos apresentaram aumento de limiar com perda de comando e foram então substituídos por endocavitários. O tempo da detecção do aumento de limiar de comando com perda de comando variou de 2 a 63 meses (média 31,7 meses) e as fraturas foram detectadas entre 9 e 39 meses (média 20,3 meses) após o implante. Os 29 pacientes (87,8%) seguidos estão clinicamente bem e apenas 6 pacientes (20,6%) tomam digitálicos e/ou diuréticos. A perspectiva de sobrevida desses pacientes após 14 anos do implante, calculada pela curva atuarial, é de 77,3% ± 17,4% .

3 Comentários

  1. Valkiria Lidia Moura disse:

    Mais um guerreiro como tantos que lutam diariamente para sobreviver e lutar um grande exemplo

  2. celso salgado disse:

    Sou o médico que operou o Joel em 1993 e em outras oportunidades para a troca do marcapasso. A primeira cirurgia foi realizada em caráter de urgência em razão do quadro de bradicardia intensa (28 batimentos por minuto) e insuficiencia cardíaca. O bebê era muito pequeno, o que dificultou a cirurgia, mas foi um sucesso. Tudo foi documentado pelo canal da globo e mostrada no Jornal Nacional. A evolução dele está sendo muito boa até o momento. Sobre o que ele disse que não pode trabalhar em razão de pegar peso e lidar com aparelhos elétricos. Eu já lhe informei várias vezes que ele pode levar uma vida normal e que aparelhos elétricos não interfere no seu dispositivo.

  3. Sabrina Pereira disse:

    Assim como o Joel, sou totalmente dependente do marcapasso. Coloquei aos 15 anos e quando eu achava que eu era muito nova para isso, me deparei com bebês, que assim como o Joel, tinham acabado de vir ao mundo e já estavam lutando pela vida. Dou graças a Deus pela vida e por ele capacitar tanto o homem ao criar aparelhos como esse que salvam vidas!

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