Passando a limpo, por Adriano Zago
qui, 10 de abril de 2014 00:00Abril começou com a mobilização daqueles que tentam criar a segunda edição da “CPI do fim do mundo”. Investigação que pretende apurar denúncias que vão desde a compra, pela PETROBRAS (PT), de uma refinaria em Pasadena, EUA; passando pelos fluxos e refluxos na construção da refinaria de Abreu e Lima, ou mesmo das denúncias de desvios na construção do Porto de SUAPE, em Pernambuco (PSB); até chegar aos desmandos, cometidos ao longo de décadas, por empresas privadas e agentes públicos na CPTM (PSBD). Assim sendo, pelos múltiplos pedidos de instalação de CPIs, todos tentam fazer o (im)possível para partidarizar (de olho nas disputas eleitorais de outubro) a investigação dessas graves denúncias.
No entanto, tais capítulos tiveram alguns de seus germes em março, quando membros da base do governo votaram a favor da convocação de ministros e da presidente da PETROBRAS, para prestarem os devidos esclarecimentos no Congresso. Atitudes que desencadearam este jogo de dominó e se deram em meio aos discursos de insatisfação de setores da base aliada do governo federal. E, é claro, se hoje tende a pegar tão mal a tentativa de se (i)mobilizar, de forma política e eleitoral, essas investigações tão mais que necessárias, em meio às denúncias crescentes, ao menos no meu ponto de vista, também pegou muito mal a postura de parlamentares, da base do governo, que usaram do expediente de convocar autoridades para esclarecimentos (ato que tem todo o caráter republicano), mas ao desviarem tais práticas de suas alçadas naturais, qual seja, de prestação de esclarecimento e da oportunidade de se colocar tudo em pratos limpos; pois, na ocasião, usaram de tais prerrogativas a fim de “manifestarem insatisfação”, ou como “moeda de troca”, num jogo lamentável de “toma lá, dá cá” (que, como pode-se perceber, também é válido quando o assunto é “pressão”, mesmo por parte da situação).
Porém, por regra, tais posturas não foram condenadas pela opinião pública ou pelas mídias; afinal, de um lado existe o interesse de que tais assuntos sejam investigados, bem como, também não são poucos os que gostam de ver o circo pegando fogo. E se esse é o quadro encontrado em âmbito federal, aqui, nas Minas Gerais, por vezes, a independência ou a manutenção de princípios e de ideais republicanos, estranhamente, também já foram confundidos com “rebeldia” ou com “oposição”. Afinal, por conta de manter minha independência, ou por preferir seguir as prerrogativas que elegi para a vida pública (respeito à sociedade e a orientação de minhas ações tendo em vista os interesses coletivos e os princípios republicanos), ou por me pautar pelo estatuto do meu partido (PMDB), equivocadamente, fui tido como opositor e até mesmo rebelde.
Todavia, ressalto que faço parte do PMDB por sua história e por causa de sua atuação, decisiva, no processo de redemocratização de nosso país. Posto que, no período de bipartidarismo, o MBD, antes do acréscimo do “P”, fazia oposição à ARENA, partido da situação, digo, partido da ditadura civil-militar instaurada no Brasil desde 1964. Assim, redigir uma lista com seus personagens e conquistas, aqui, seria impossível, pois o PMDB é peça fundamental na consolidação da democracia, recente, em nossa história; e os atuais eventos que relembram os cinquenta anos do fatídico 02 de abril de 1964, de várias formas, comprovam o que digo. Enfim, por tudo isso, sigo com as mesmas convicções e com a postura necessária para agir como tenho feito; tendo por referencial, de vida (pública e privada), os interesses difusos e coletivos, além dos ideais republicanos, pautados na coerência e na ética. Valores tão bem representados pelo histórico e pelas conquistas alcançadas por meu partido e seus aliados, nessa trajetória de consolidação e de fortalecimento das instituições democráticas. E, nesse sentido, creio que temos de encarar, com toda a energia, os maiores desafios enfrentados em um regime democrático pluripartidário: a barganha, a coalização fisiológica e a cooptação de setores e lideranças. Fatos que tendem a gerar o que Marcel Waline, cientista político francês, denominou de “estado de partido”; um cenário em que cada partido se constituí como uma potência, um Estado dentro do próprio Estado. E, lamentavelmente, isso tudo só serve ao enfraquecimento da democracia.
(*) Advogado, estudante de História e vereador
adrianozago@adrianozago.com.br
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