Papo Quente com Eunice Mendes
sex, 19 de fevereiro de 2016 08:49
Criticar diretamente o Rei…
nem pensar…
Na dinastia Han, há dois mil anos, os eruditos chineses compilaram uma série de textos chamados 21 Histórias, que são a biografia oficial de cada dinastia, incluindo histórias, estatísticas, número de censos e crônicas de guerra.
Cada história possui também um capítulo chamado, “Ocorrências Inusitadas”, e aqui, entre as relações de terremotos e enchentes, às vezes aparecem descrições de manifestações bizarras como ovelhas de duas cabeças, gansos que voam para trás, estrelas surgindo de repente, e por aí vai. Os terremotos puderam ser historicamente conferidos, mas os monstros e estranhos fenômenos naturais foram nitidamente inseridos de propósito e ocorriam sempre aglomerados. O que isso queria dizer? O imperador chinês era considerado mais do que um homem – era uma força da natureza. Seu reino era o centro do universo, e tudo girava ao seu redor. Ele personificava a perfeição do mundo. Criticá-lo ou a alguns de seus atos, era o mesmo que criticar a ordem divina. Nenhum ministro ou cortesão ousava abordar o imperador com a mais leve palavra de advertência.
Mas imperadores falham e o reino sofria muito com seus erros. Inserir visões de fenômenos estranhos nas crônicas da corte era a única forma de avisá-los.
O imperador leria que os gansos estavam voando de trás para frente e que a Lua tinha saído de órbita e perceberia que estava sendo advertido.
Seus atos estavam desequilibrando o universo e precisavam mudar.
Para os cortesãos chineses, era muito importante saber aconselhar o imperador. Ao longo dos anos, milhares deles tinham morrido tentando alertar ou aconselhar o seu senhor. Para serem seguras, suas críticas tinham de ser indiretas, mas se fossem indiretas demais não seriam ouvidas. As crônicas foram a solução, sem identificar ninguém como a origem da crítica, tornando o conselho o mais impessoal possível, mas informando o imperador sobre a gravidade da situação.
O seu senhor não é mais o centro do universo, mas continua achando que tudo gira em torno dele. Quando você, o critica, ele vê a pessoa que faz a crítica, e não a crítica em si.
Como os cortesãos chineses, você deve encontrar um jeito de sumir por trás do alerta. Use símbolos e outros métodos indiretos para pintar um quadro dos problemas futuros, sem colocar em risco o seu pescoço.
Em uma ditadura, onde os ditadores não podem ser criticados, tudo o que você disser poderá ser usado contra você…
“É preciso muito talento e habilidade para dissimular o próprio talento e habilidade.”
La Rochefoucauld 1613 – 1680
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