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Papo Quente com Eunice Mendes

sex, 5 de fevereiro de 2016 08:34

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Lei do Poder nº 32 | Desperte a fantasia das pessoas

Em geral evita-se a verdade porque ela é feia e desagradável.

Não apele para o que é verdadeiro ou real se não estiver preparado para enfrentar a raiva que vem com o desencanto.

A vida é tão dura e angustiante que as pessoas são capazes de criar romances ou invocar fantasias, são como oásis no meio do deserto: todos correm até lá. Há um enorme poder em despertar a fantasia das massas.

O funeral da Leoa:

Tendo o leão perdido subitamente a sua rainha, todos se apresentam a mostrar a fidelidade ao monarca oferecendo-lhe consolo. Mas infelizmente esses cumprimentos só estavam deixando o viúvo mais aflito.

Noticiou-se por todos no reino a hora e o lugar do funeral, os oficiais receberam ordem para ficar de prontidão, dirigir a cerimônia e distribuir as pessoas segundo seus níveis na sociedade. Pode-se bem imaginar que não faltou ninguém.

O monarca deu vazão a sua tristeza e toda caverna, visto que leões não têm outros templos, ressoava com seus lamentos.

Segundo o seu exemplo todos os cortesãos rugiram nos seus diferentes tons. A corte é um lugar onde todos ficam tristes, alegres ou indiferentes de acordo com o príncipe reinante, ou, se alguém não se sente assim, pelo menos tenta parecer que sente; todos procuram imitar o senhor. Diz-se que uma só cabeça anima milhares de corpos, mostrando nitidamente que os seres humanos não passam de máquinas. Mas voltemos ao nosso assunto. Só o veado não chorava. Como ele era capaz disso realmente?

A morte da rainha era uma desforra para ele, ela havia estrangulado a sua esposa e o seu filho.

Um cortesão achou justo contar ao consternado monarca, e até afirmou ter visto o veado rir.

A ira de um rei, diz Salomão, é terrível, principalmente a de um Rei-Leão. “Miserável forasteiro!”, exclamou, “ousas rir quando todos a sua volta se desfazem em lágrimas? Não sujaremos nossas garras com teu sangue profano! Vingarás, bravo lobo, a nossa rainha imolando esse traidor a sua augusta alma?”

Ao que o veado respondeu: -“Senhor, já não é mais hora de chorar, a tristeza aqui é supérflua.” Vossa reverenciada esposa acabou de aparecer para mim, repousando sobre um leito de rosas, eu a reconheci instantaneamente. “Amigo”, ela me disse, termine essa pompa fúnebre, faça cessar estas lágrimas inúteis…

Provei milhares de delícias nos campos Elísios, conversando com santos como eu.

Deixe que o desespero do rei permaneça por uns tempos incontido, ele me gratifica. Mal ele havia falado, quando alguém gritou: -“Um milagre! Um milagre!”

O veado, em vez de ser punido, recebeu um belo presente. Deixe que o rei sonhe, teça-lhe elogios e conte-lhe algumas mentiras agradáveis e fantásticas: por mais indignado que ele esteja com você engolirá a isca e fará de você o seu melhor amigo.

(Fábulas, Jean de La Fontaine, 1621-1695)

 

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