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Papo Quente – As chaves do Poder – Usar de Bodes Expiatórios

sex, 18 de dezembro de 2015 08:44

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Servir de Bode Expiatório e ser usado como tal é antigo tanto quanto a própria civilização e podemos encontrar exemplos em culturas do mundo inteiro.

A ideia principal por trás destes sacrifícios é passar a culpa e o pecado para uma figura externa – objeto, animal ou homem que depois é banido ou destruído.

Os hebreus costumavam pegar um bode vivo (daí o termo expiatório) sobre cuja cabeça o sacerdote colocava ambas as mãos enquanto confessava os pecados dos Filhos de Israel. Depois de transferidos esses pecados para o animal, ele era levado para o deserto e lá ficava abandonado.

No caso dos atenienses e dos astecas o bode expiatório era humano, quase sempre uma pessoa alimentada e criada com este objetivo.

Considerando que a fome e as pragas eram castigos impostos pelos deuses aos humanos por seus maus atos, o povo sofria não só com a fome e as pragas, mas com a culpa também. Eles se livravam deste sentimento de culpa transferindo-o para uma pessoa inocente, cuja morte tinha intenção de satisfazer os poderes divinos e banir o mal entre eles.

É uma atitude extremamente humana a de não procurar dentro de si a razão de um erro ou crime e sim olhar para fora e colocar a culpa em algo, ou alguém conveniente.

Essa profunda necessidade de externar a própria culpa, de projetá-la em outra pessoa ou objeto tem um poder imenso, que os astutos sabem como controlar. O sacrifício é um ritual, talvez o mais antigo de todos e o ritual também é uma fonte de poder.

O sacrifício sangrento do bode expiatório parece uma relíquia bárbara do passado, mas a prática persiste até hoje, embora de forma indireta e simbólica, visto que o poder depende das aparências e quem está no poder tem de parecer que não erra nunca. Os bodes expiatórios estão mais populares do que nunca…

Que líder moderno assumiria a responsabilidade por seus erros?

Ele procura outras pessoas para incriminar, um bode expiatório para sacrificar.

E de fato, quase sempre é preferível escolher a vítima mais inocente possível como bode expiatório. E às vezes o bode expiatório é aquele que sabe demais sobre o Rei e que o rei teve sempre como seu favorito pessoal na corte; um homem a quem ele distinguia dos outros, e às vezes sem nenhum motivo aparente o cobria de favores e atenção.

O público facilmente acreditaria na culpa deste bode expiatório – por que o Rei sacrificaria o seu favorito, se ele não fosse culpado? E com certeza este bode despertava tanta simpatia por ser próximo demais do Rei e cheio de atenção do monarca. O povo também ficaria feliz com sua queda.

O Rei, enquanto isso, se livrava de um homem que provavelmente sabia demais sobre ele, tendo até atitudes arrogantes e desdenhosas.

Durante vários anos, César Bórgia fez campanhas para conquistar o controle de grandes partes da Itália em nome de seu pai, o papa Alexandre. Em 1500 ele conseguiu tomar a Romagna, no norte da Itália.

A região era dominada por senhores gananciosos que saquearam suas riquezas em proveito próprio. Sem polícia ou qualquer outra força disciplinadora a região havia caído na ilegalidade com áreas inteiras governadas por ladrões.

Para estabelecer a ordem, César nomeou um general-de-divisão – Remírro Orca homem cruel e vigoroso que estabeleceu uma justiça brutal e severa e livrou Romagna em breve de quase todos os seus elementos ilegais. O povo teve medo dele e ficou ressentido. Agora sem os bandidos, César não precisava mais dele e para agradar o povo, primeiro fez saber, que não aprovava seus atos cruéis / violentos e porque não exagerados e logo após o Natal, decapitou-o em praça pública.

“O provo se satisfaz com os bodes expiatórios e gosta de festas e espetáculos”.

Não assumir nossas culpas e culpar o outro pelas nossas falhas é bem mais fácil e ocorre desde o início dos séculos, seja em qualquer relação de poder, até mesmo nas famílias.

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