Os Novos Refugiados, por José Carlos Nunes Barreto
ter, 12 de agosto de 2014 00:02* José Carlos Nunes Barreto
Fazendo uma releitura do premiadíssimo livro do professor da Universidade da Califórnia Jared Diamond “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, quando peço vênia a meus amigos leitores, para comparar situações que presenciei – e relato hoje como sobrevivente, do “Vale da morte” em Cubatão – com outras análogas e desesperadoras que estão acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares de retirantes, fugindo das guerras na Líbia, Síria e Gaza refém das lideranças do Hamas atacadas por Israel, além das infindáveis guerras tribais africanas. Com este pano de fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma geração – os restos dos templos abandonados de Anykor Wat, no território de Camboja, das cidades Maias tomadas pelas selvas, ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?”
As imagens dessas ruínas sugerem a pergunta: será que isso também não pode acontecer conosco? Neste livro intrigante, este pesquisador sugere a outra face da moeda que as civilizações ocidentais teimam em não enxergar, após 100 anos de guerras e 50 milhões de mortos e centenas de milhões de feridos e refugiadosao redor do planeta.
Há ainda outro panorama catastrófico sugerido pelo autor: o horror das pestes que se aproximam, na esteira das crises sociais e ambientais, principalmente a gripe aviária e a contaminação pelo vírus ebola. Aliás, o único país que pode ensinar ao mundo como fazer gestão pós catástrofe é o Japão pós-Fukushima.
Um ano apósa tragédia e depois deaplicar 1 trilhão de dólares em projetos de reconstrução, o País estava recuperado do pior, fazendo a mitigação da radiação da usina termonuclear atingida. Porém nem sempre é assim: vide o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro e o Pós-Katrina em New Orleans.
Aqui roubaram até caminhões de doações aos desesperados, quanto aos americanos, que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele dantesco espetáculo de despreparo…
É ou não para se preocupar? Nosso SUS não aguenta sequer a dengue endêmica, e bancar o nascimento de crianças nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença como o ebola que em uma semana evolui para uma morbidade de 70%dos casos! (ou seja, de cada 100 infectados 70 morrem) .
Em Cubatão nas décadas de 70 e 80, eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa, hoje Usiminas, não tinha a exata noção de tudo aquilo. Mas meus dirigentes tinham. Haviam comprado um obsoleto equipamento francês sem o lavador de benzol-cancerígeno- e esconderam isso da sociedade.
Nas favelas ao lado da fábrica – na vila Parisi, anomalias em fetos (anencefalia) eram noticiadas dentro e fora do País, mas o ar que respirávamos era o mesmo, e muitas colegas choravam dentro da fábrica ao ficarem grávidas.
E pensar que a recuperação ambiental (embora ainda parcial) daquele polo sídero-petroquímico, e do entorno da serra do mar, por uma equipe multidisciplinar da qual tive a honra de fazer parte, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, nossa ilha de Páscoa – e as fábricas de lá, de serem nossos Moais.
Nessa hipótese, milhares de desempregados vagariam pela baixada santista nas décadas perdidas de 80 e 90, e se juntariam aos doentes de câncer e refugiados ambientais, que teriam sido retirados daquele município, correndo dos deslizamentos da serra do mar sobre as demais cidades da baixada e o porto santista.
Graças a Deus e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e da saúde ambiental da USP e da Academia brasileira, isto não ocorreu. Que nossas autoridades as usem em favor da sociedade no Brasil, para evitar novos quadros de refugiados ambientais e sociais previstos na poderosa visão de Jare Diamond.
* Professor doutor e presidente Academia de Letras de Uberlândia (ALU)
debatef@debatef.com
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