Opinião: O delator, por Inocêncio Nóbrega
qui, 5 de dezembro de 2013 00:42Inocêncio Nóbrega *
Escândalo. Lavanderia. Valerioduto, mas foi de mensalão que a Ação Penal 470, do STF, se popularizou. Nada transpiraria não fora a denúncia, em julho/2005, do então deputado federal Roberto Jefferson, de que a alguns de seus colegas eram oferecidos propinas, em troca de votos a projetos do selo oficial de Lula. A mídia, atendendo aos anseios de sensacionalismo, não teve o necessário cuidado de filtrar a notícia, que logo correu como uma bomba pelo Brasil. A intenção era provocar sensação de revolta entre o povo e desmontar um governo, que presumíamos popular. Ela causou impacto no MP, que começou reunir provas sobre possíveis envolvidos no esquema de captação e viagem dos recursos. Apurou-se cumplicidade de Marcos Valério, dono de agências de publicidade, por razões notórias, e que Jefferson, o delator, também recebia dinheiro da falcatrua. Relatório da Polícia Federal confirma e a Procuradoria da República denuncia, o que qualifica de “organização criminosa”, ao Supremo, inicialmente envolvendo 40 pessoas.
Centenas de comentários são facilmente encontradiços em jornais dissecando o tema, como que se tratasse do primeiro caso, de tamanho porte, acontecido na história brasileira. Num desses, o jornalista Gaúcho Juremir Machado comenta que os EUA financiaram políticos da alta esfera, independente de posição partidária, para que se insurgissem contra as reformas de Jango. Há irrefutáveis indícios de que o gov. Carlos Lacerda, do antigo Estado da Guanabara, fosse largamente beneficiário do “gordonduto” (Lincoln Gordon, embaixador ianque/1961), tesoureiro desses recursos e articulador golpista. Jango toma posse. A adoção do parlamentarismo se deu, naturalmente, em função de semelhantes vantagens.
A Aliança para o Progresso havia sido criada, mesmo a contragosto de Brizola. Nas entrelinhas de seu programa, o financiamento ao golpismo no restante das Américas. Lembra, ainda, Juremir: “Jarbas Passarinho admitiu que no Pará houve vários beneficiados. Plínio Sampaio foi eleito deputado se recusando a recebê-lo, por se “tratar de um democrata convicto”. Assim, o mensalão estimulou inúmeras candidaturas, por todo o país. O Ipes, disseminava, entre a imprensa, ideia do anticomunismo. Líderes universitários, eram recrutados para lavagem ideológica em cidades estadunidenses, a fim de na volta removerem o ideal socialista entre seus pares. O Ibad, atuava junto à Igreja e esta evangelizava o espetáculo conspiratório, ao lado de militares e civis. Nenhum Jefferson havia e teria forças para delatar tais crimes. Até hoje o Supremo foi provocado ou chamou a si histórica responsabilidade de investigá-los e, ao menos moralmente, julgá-los, diante da História, e os mensaleiros de ontem conhecidos.
*Jornalista / inocnf@gmail.com
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