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Opinião: Escravos de Jó, por Marli Gonçalves

qua, 18 de dezembro de 2013 01:44

* Marli Gonçalves

Tem expressões tão arraigadas que basta uma “letra” que o resto vem correndo atrás. Essa cantiga infantil é uma delas. Independente de quem é ou foi  Jó, se ele possuía ou não escravos e, especialmente, o que é caxangá, a frase lembra exatamente como têm sido os nossos dias, tira daqui para por ali. De lá, para pagar o acolá. E música especialmente para mim, que ando com ela na mente; é que estou me sentindo a própria caxangazinha, carregando caixas de mudança, tirando dali, pondo aqui, deixando ficar lá.

Juro que hoje pensei em escrever – e vou também – uma coisa mais geral, pessoal, sem falar de política. Porém é quase impossível. Não é que, além de tudo, a cantigueta também fala em guerreiros? Acaso você viu que o Lula e o PT chamam a turma de presos e condenados de “guerreiros”? Pois é, eles devem estar fazendo zigue-zigue-zá.

Enfim, deixa essa gente para lá porque só servem mesmo para nos atrasar e chatear. Esperneiam. Berram mais que leitão de véspera, antes de virar pururuca. Como diz um amigo, esse aqui deve ser o único país onde o sistema judicial é discutido e achincalhado em praça pública; e pelos condenados. Condenados estes que ficam soltos dando entrevistas, posando para fotos, apontando o dedinho, ou presos, mas tratados como reis. Fora o campeonato para saber quem rouba mais — os chupins, ops, tucanos, ou a turma dos ideais perdidos na Terra do Nunca (… antes nesse país…), ops, os petistas.

Por tudo isso, mais algumas gotas de gerenciamento manco e admitido pelo próprio ministro esta semana, a economia vai de mal a pior. E não me venham com índices, pesquisas de aprovação, muito menos com falas sobre aqueles que “saíram da linha de miséria”. Balela. Mentira. Enganação. Basta olhar as ruas neste Natal. Basta ver as pessoas. Nem precisa ser repórter. Saia por aí perguntando. Todo mundo devendo. Todo mundo reclamando. Todo mundo cortando, cortando. Todo mundo fazendo piruetas dignas do Cirque Du Soleil. Na boa, mesmo, só vi festinhas de empresas, boca livre. Até a Cidade de São Paulo está murcha, sem brilho, sem luzinhas – só umas lá, outras cá, uma grita a outra não escuta.

Como sou brasileira e, ainda por cima, mulher, independente, de linhagem SRD etc., estou atingida também. Detesto mudar. Mas estou sendo obrigada a fazer a terceira mudança em cinco anos, porque os proprietários estão enchendo os olhos e a bolha embolhando cada vez mais. Mas, resumindo, me levou a este momento estar às voltas com duas mudanças, uma reforminha, uma troca da cuidadora de meu pai que andava batendo pino e eu poderia querer é bater nela, trabalho do dia a dia (inteiro aliás, que jornalista não descansa), manter o blog e abrir um pequeno novo negócio com uma amiga, El Gran Bazar. Tem mais detalhes, mas melhor deixar para lá. Não quero ver você aos prantos na calçada comigo, no meio-fio, coisa que tenho sentido vontade umas dez vezes por dia mais ou menos.

Virei a louca das caixas. Não posso ver uma dando sopa na rua que paro e pego. Tento organizar tudo, mas sempre tem alguém que estraga. …”Escravos de Jó jogavam caxangá. Tira, põe, deixa ficar, Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá”…

Foram as caixas que me lembraram a cantiga. Fui ver mais: Jó é aquele personagem bíblico do Antigo Testamento, dotado de grande paciência, o mesmo do “paciência de Jó”. Deus teria apostado com o Diabo que Jó, super rico, uma espécie de Eike, mesmo perdendo as coisas mais preciosas que possuía (filhos e fortuna), não perderia a fé. Assim aconteceu, segundo a Bíblia. Ou supostamente, como está na moda escrever para não se comprometer.

Ah, e tem a polêmica do caxangá. O que é. Até agora, para mim, eram pedras que eles usavam como fichas, tipo dados, movimentando de lá para cá. Não! Parece que é um siri. Que eles deviam jogar morto, porque siri “morde”. Tem outras teses: caxangá, em tupi-guarani, seria “mata extensa”. Jogar mata?

Pode também ser um chapéu de marinheiro. Ou, ainda, dizem, um adereço usado pelas mulheres alagoanas sabe-se Deus onde. Continuaremos sem saber, porque, convenhamos que não dá para jogar para lá e para cá nem o mato, nem o chapéu, nem o adereço, nem as mulheres.

Por falar nisso, reparou na nova moda de fim de ano?

* Jornalista

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