O que une Ana, Catherine e Bernardo Boldrini?
qui, 24 de julho de 2014 00:20Ana Leitrim era uma senhora de setenta anos que vivia sozinha no sul da Inglaterra, no andar térreo de um prédio de apenas dois pavimentos. Seis anos após sua morte, o cadáver foi encontrado na casa. Ninguém notou que ela tinha sumido. Segundo um porta-voz de uma instituição, os velhos não saem de casa, e é bem comum que um idoso viva em um lugar e as pessoas não o vejam.
Em Nova Jersey, nos Estados Unidos, Catherine Ferreira foi violentamente agredida por uma mulher, a chutes e socos, em um parque cheio de gente e o único que a defendeu foi o próprio filho de dois anos de idade. As demais pessoas ficaram filmando a cena, pra colocar nas redes sociais. O policial que atendeu a ocorrência lastimou: “Há uma falha moral na nossa sociedade que fica evidente quando uma mulher apanha em plena luz do dia em frente ao seu filho e a uma dúzia de pessoas, que pegam seus celulares para filmar em vez de chamar ajuda”.
No Brasil, o corpo nu de Bernardo Boldrini, 11 anos, foi encontrado em uma cova de metro e meio, a 80 km de casa. A polícia acusa o pai, a madrasta e dois irmãos pelo assassinato. Na cidade de Três Passos de pouco mais de 20 mil habitantes, onde Bernardo morava, todos sabiam que apesar de filho de médico, o menino vivia em situação de abandono, às vezes sujo e faminto. O sorriso triste do garoto estampou por semanas todos os jornais do país. Muito nos perguntamos: porque ninguém fez nada?
O denominador comum das três histórias vividas em lugares e culturas tão distantes é a indiferença da sociedade em relação ao que acontece ao seu lado.
Esquecer de uma senhora de 70 anos, porque ela quase não sai de casa é possível, não incomum. Mas, em um prédio em que moram apenas doze famílias? Ver Bernardo vagando pela cidade, sem que ninguém da família cuide de procurá-lo é possível. Mas, e as suspeitas de maus tratos na pequena Três Passos, em que todos se conhecem?…E dá para explicar, as dezenas de pessoas filmando uma mulher apanhar, na frente do filho, quase um nenê, em um parque?
Como entender?
Existe algo fétido que tem a ver com a perda da humanidade das pessoas. O que nos diferencia dos animais são os sentimentos e o exercício do livre-arbítrio.
Em relação aos sentimentos, muitos efetivamente estão aquém dos animais. Esses ainda expressam alegria e afeto com os seus donos e com os seus amigos. Adoro o abanar do rabo dos cães, na mais genuína demonstração de amor aos que lhes tratam bem.
No quesito poder de escolha, continuamos escolhendo sim, mas em um caminho de consumo e constante materialidade das relações, em que as pessoas são trocadas ou esquecidas, por coisas e/ou relações efêmeras. É a vida imitando as redes sociais, no vaivém dos “curte e descurte”.
O olhar vai se acostumando com os meninos de uniforme escolar se drogando na praça da frente, com velhos apalpando meninas na esquina (que dó) ou com os relatos de corrupção, corroendo o possível bem estar da sociedade. Tudo é normal e nada tenho a ver com isso.
O homem é gregário e é feliz por viver e ser aceito na sociedade, mas está se amoldando muito rapidamente à perda da sua essência. Vive isolado em meio de muitos contatos cibernéticos, sem sorrisos, abraços, café e conversa. Desumaniza-se, simplesmente. E o que é mais assombroso, filma a desgraça alheia e posta nas redes sociais, pra mostrar o quanto o mundo é cão e como se está indignado com a situação das coisas.
Escuta, trate de sempre carregar celular com bateria cheia. Quem sabe… um acidente ou uma mulher em trabalho de parto na rua. Dá pra filmar e postar no facebook, pra falar mal das estradas esburacadas ou da falta de hospitais ou da demora do socorro. Isso sim merece centenas de curtidas.
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Errata: em relação à crônica da semana passada “Nós e as baratas voadoras” o local do fato noticiado no início do texto é o cruzamento da rua Rezende com Johann Carneiro, em Uberlândia.
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